Publica frivolidades, coisas leves, pronto: gera views e
compartilhamentos. Publica coisas sérias, pronto: ninguém dá muita atenção.
Essa é a síntese genérica, mas reveladoramente verdadeira, da
audiência do site ProXXIma.
Ou seja, a sua audiência. Não sei quem é você, meu leitor. Quer
dizer, eu sei muito bem quem é você, meu leitor. Tenho como conhecer seu perfil
e seus hábitos de leitura e preferência. Mas quando digo que não sei quem é
você é mais no sentido de não conseguir entender direito o que te faz ler o que
você lê e ter as preferências que tem.
Recentemente, teve um bom exemplo. Publiquei em primeira mão no Brasil (duas
horas depois de sua divulgação pública nos EUA) a carta do presidente do IAB
norte-americano, Randall Rothemberg, em que ele admitia que o setor digital
tinha ferrado (screw) os negócios da propaganda com o uso excessivo de
retargeting e o uso indevido (ilícito) de dados dos usuários.
Esse é, possivelmente, o documento oficial mais importante dos
últimos cinco anos da indústria digital em todo o mundo. Sabe quanto teve de
compartilhamentos no site ProXXIma? Uns 20 ou 30.
Como parâmetro de comparação, publicamos com frequência dicas
digitais naquele formato clássico consolidado pelo BuzzFeed: cinco dicas disso,
dez dicas daquilo. Aí, pronto: bomba! Temos médias de 500, 600, 700
compartilhamentos.
Se você, meu caro leitor, que me lê no Meio & Mensagem
impresso e, possivelmente, também me lê no site ProXXIma, estivesse no meu
lugar, o que faria? Dicas estilito BuzzFeed ou cartas estilito Randall? Hein,
hein?
Tá fácil ser editor nestes dias em que os analytics nos revelam o que talvez,
nós jornalistas e publishers, não devêssemos saber sobre você, nosso leitor.
Como acompanhamos diariamente essa realidade, têm umas horas que
dá vontade de pegar o boné e ir morar longe de uma redação. Bem longe.
Nosso trabalho de editores e publishers — é o que imaginamos,
pelo menos — é selecionar o que de mais importante aconteça na realidade do
nosso mercado e levar isso até você de forma completa, isenta e objetiva. Se
tiver análise, que ela seja ponderada e procure olhar os vários lados da
questão. É isso. Mas só que não.
Você, na verdade, não está lá tãããão a fim assim de ver coisas
relevantes. Não sou eu que digo. É você que me diz, com seu comportamento, que
acompanho aqui todos os dias. Para o bem ou para o mal, números não mentem. E é
isso que eles me mostram todo santo dia sobre você.
Quer ver outra coisa que bomba? Põe Google e Facebook no título. Twitter
correndo por fora. Todas as notícias que tenham os nomes dessas empresas no
título, pronto: pimba! Um moooonte de compartilhamentos.
Ok, faz sentido. Essas empresas transformaram nossas vidas
privadas e profissionais. E vão continuar transformando. Temos de nos manter
muito bem informados sobre elas. Um espirro de qualquer uma delas pode causar
uma pneumonia nos nossos negócios.
Mas veja. É qualquer coisa sobre elas que bomba. Qualquer coisa. Já que falei
em espirro, se eu publicar matéria dizendo que o Sergei Brin espirrou, pronto:
vai bombar.
Quando digo bombar, quero dizer, compartilhar. Você, leitor, leu
a bagaça, viu que era sobre um espirro do Brin e, ainda assim, achou
megainteressante a ponto de compartilhar. Compartilhar muito.
Claro que é um exemplo imbecil apenas para ilustrar, mas é mais
ou menos isso mesmo. Os compartilhamentos não estão necessariamente ligados à
relevância dos conteúdos, mas a sua superfície mais aparente.
Teve outro dia que fiquei orgulhoso de você. Uma das notícias
mais compartilhadas do site ProXXIma nos últimos meses foi aquela (se você
ainda não leu, vale a pena procurar lá no site e ler) em que publicamos a ira
de Brad Jackeman, presidente mundial da Pepsi, em que ele enumerava uma extensa
lista de críticas contra as agências de propaganda. Aí, você leu. Seiscentos
compartilhamentos ou mais, sei lá. Muito.
Gostei. Mais uma vez, nós aqui em ProXXIma havíamos ficado
atentos ao mundo e trazido em primeira mão no Brasil algo relevante para você e
não é que você leu e compartilhou? Eram críticas sérias, que nos levavam a
reflexão sobre o modelo de agências de propaganda que temos e aquele que
queremos ter.
E você estava lá, compartilhando. A maior parte dos
compartilhamentos era defensivo, enfiando o dedo de volta na cara do Brad e
defendendo as agências. OK, faz parte. Tudo bem. É justo.
Havia um outro tanto de posts que concordava com as críticas e chamava a
atenção para a necessidade de mudança. Boa também. Faz sentido, também.
Percebeu o jogo? É assim que vamos crescer. E é essa a minha
função e a função de todo publisher que se preza. Fomentar o debate e que ele
gere reflexão. Senti-me com o dever cumprido.
Mas durou pouco e veio a recaída. Ou melhor, caí de novo na
real. Porque o meu gráfico de analytics, toda vez que eu entro nele, fica me
mostrando lá aquele pico naquele dia e, depois, queda.
Será que não conseguimos publicar nenhuma nova notícia de fato
tão importante quanto aquela nesse período?
Quer saber? Acho que não. Acho que aquela notícia tinha o
ingrediente de tocar diretamente no seu emprego e aí você pulou.
Pois olha, se você ler com atenção, teve várias outras com o
mesmo poder de transformação que publicamos e que talvez você não tenha se dado
conta. Vai lá no site e vê. Você vai acabar concordando comigo.
Quer ver outra? Notícias curtas são mais compartilhadas do que análises mais
longas. Outra coisa que me encafifa. Tá certo, estamos todos sem tempo, então
as curtinhas a gente digere mais rápido e manda um compartilhar no Face e boa.
Mas e pensar, gente? Tá difícil? Tá muito cansativo? Jura? Devo
então publicar só diquinhas? Se forem do Face e Google então, melhor ainda? É
isso? Depois de 40 anos de jornalismo é nesse ponto que cheguei? É isso que
você quer de mim?
Pois olha, não vai rolar, não.
Não vou pegar o boné coisa nenhuma! Não vou publicar só o que
você acha mais digerível e facinho. Vou publicar mais e mais cartas estilo
Randall. Não vou deixar de lado as dicas. Isso porque, no caso de ProXXIma, que
não se propõe apenas a noticiar fatos, mas a contribuir para o desenvolvimento
da indústria digital no Brasil, difundindo e auxiliando a consolidação de
melhores práticas, visando melhores negócios para todos, faz parte, sim,
publicar dicas. Porque elas são úteis. Pelo menos aquelas que nós
criteriosamente publicamos (um pouco ao contrário do Buzz Feed, by the way).
Mas é o seguinte... vamos por aqui continuar enchendo seu saco com coisas que
você não está nem aí. Vamos continuar praticando bom jornalismo, sem nenhuma
falsa modéstia, que já não estou mais com idade para essas bobagens.
Vamos continuar acreditando que esta indústria tem muito ainda a
amadurecer e crescer e, se depender de nós, ela vai amadurecer e crescer de
forma sólida e tendo refletido muito sobre o que quer da vida.
Então, deixo aqui duas perguntas a você, meu caro leitor, para
que você pergunte a você mesmo, diante do espelho da sua própria consciência:
quem é você? E o que você vai ser quando crescer?
Pyr Marcondes – diretor na
Meio & mensagem
Fonte: http://www.proxxima.com.br/