Nem Tudo É Dado: Mas Pode Ser
Elaborado! –
Ir além da
informação e assimilar os significados menos evidentes de um evento como o 3º
Encontro Nacional Abrapp de Inovação & Criação de Valor exige tempo e
paciência ou, nas palavras da palestrante Solange Mata Machado (UFMG), um
esforço extra para, quem sabe, acessar o mindset de crescimento (o Teco), ao
invés de recorrer somente ao mindset fixo (o Tico).
Da almôndega de
mamute desextinto à inteligência artificial generativa e games imersivos tão
reais quanto a própria vida, de cultura data driven a liderança ambidestra, o
evento Reinventando a Previdência Complementar: Tendências, Desafios e
Oportunidades De Inovação e Criação De Valor foi avalanche de
abordagem conceitual sobre um futuro muito mais distópico do que amigável e
favorável a uma interação funcional.
Algumas
ponderações, entretanto, podem ser úteis para quem se interessa pelo tema.
Trata-se de um recorte com um viés pessoal, portanto, assumidamente parcial e
subjetivo, uma tentativa de exercício de síntese.
“Educar antes de
vender” foi a proposta
radicalmente disruptiva de Gustavo Hansel (GH Branding).
Se considerarmos
somente eventos legais da Previdência Complementar Fechada, sabemos que 1977 dá
início ao modelo com adesão compulsória.
Em 2001, a legislação passou a
determinar a adesão facultativa aos planos fechados. Somente trinta anos mais
tarde, entre 2006 e 2008, a Educação Previdenciária começa a ser praticada.
Quase duas décadas depois, a Educação Previdenciária nem sempre está escalada
como pauta prioritária nas decisões das Entidades Fechadas de Previdência
Complementar.
A lógica de se
idealizar, prototipar e lançar produtos apoiados em força de venda e
comunicação não é exclusividade da Previdência Complementar. Ela orienta quase
todas as áreas da indústria e do mercado de consumo.
Modelos de negócio como a
Natura ainda são raros, mas ilustram bem o conceito de consumo aliado à
consciência de proteção social e preservação ambiental.
Ainda assim, a
lição disruptiva “educar antes de vender” é extremamente relevante para
alcançar eficiência financeira e resultados convergentes por exemplo para
investimentos em engenharia de prompt, desde que o conteúdo se estenda além do
regulamento do plano previdenciário e, no mínimo, contemple a Educação
Previdenciária.
Para quem ainda não está familiarizado com o termo, engenharia
de prompt é o processo que refina interações com sistemas de inteligência
artificial, como o ChatGPT.
Os prompts têm potencial para levar ao limite as
inteligências artificiais gerativas.
“Educar antes de
vender” também se aplica ao Drex, serviço tão bem apresentado
por Fábio Araújo (BC).
Cabe lembrar que, aí sim!, o Banco Central já
disponibiliza material educativo para a população
entender a diferença entre Pix e Drex e as funcionalidades previstas para o
Drex.
Em estágio de testes de segurança e previsão para entrar em operação em
2024, o Drex tem várias possibilidades. Começa por aumentar a oferta de
serviços e a concorrência, diminuir custos de operações e democratizar o acesso
ao sistema financeiro.
Também está na lista a utilização investimentos de longo
prazo, como Tesouro Direto, em garantia de operações de crédito ao investidor
individual.
E aí a pergunta: a regra pode atingir também a Previdência
Complementar Fechada? Se puder, tem que educar para que, no mínimo, os
patrimônios das EFPC sejam preservados, certo?
E aí, a cereja do
bolo! André Spínola (SEBRAE) com muita consciência e responsabilidade vem com
uma provocação visceral: a transformação digital ainda não bateu na porta das
Entidades Fechadas de Previdência Complementar!
O que se vê são inovações
incrementais com pouco alcance para promover uma mudança de cultura e,
principalmente, percepção do Participante e Assistido.
Que fique claro: segundo
André Spínola, transformação digital combina empreendedorismo com inovação.
Trata-se de uma jornada contínua que provoca alteração de comportamento
pelo uso estratégico de tecnologia aplicada, construção de experiência e
geração de valor.
Por isso, olhar
para o futuro com espírito empreendedor é buscar respostas honestas para várias
questões.
Por exemplo: como a tecnologia está mudando a forma como as pessoas
estão gastando e vão gastar o dinheiro (lembra do Drex)? Como estará o
mercado daqui a dez anos? O que vem de fora para concorrer pelo dinheiro do
investidor?
Talvez as
respostas para essas questões já possam ser mineradas no ChatGPT.
Mas, por uma
questão de confiabilidade e customização do resultado, a melhor solução seja
mesmo um mapeamento e estudo analítico das dez principais transformações do
mercado financeiro nos próximos dez anos – como o próprio André Spínola
sinalizou – para que essas transformações sejam minimamente consideradas
nos planejamentos estratégicos e na tomada de decisão pelas
EFPC.
Ações assim orientadas têm mais condições de alcançar resultados e o
status de importantes, impactantes e transformadoras para a sustentabilidade
das EFPC no longo prazo.
“Apaixone-se pelo
problema, não pela solução!” foi o mantra de vários palestrantes no 3º Encontro, inclusive
André Spínola, que avançou para algumas sugestões sobre o que se considerar
como relevante no presente antes de se projetar o futuro: há que se ter devoção
por Participantes e Assistidos.
O novo cliente custa 25 vezes mais do que
preservar e encantar o cliente antigo. Pesquisas confirmam que o Brasil é
campeão em uso de rede social e o segundo no ranking em uso de internet.
Para finalizar,
algumas máximas de Comunicação Corporativa Humanizada tão bem colocadas por
Rodolfo Araújo (United Minds no Brasil e América Latina).
Para o palestrante, a
Comunicação eficiente evita o medo do futuro e promove segurança
psicológica. Traz referências e multiplica repertórios para criar
instâncias de colaboração, espaços de escuta, contribuição, participação e
ampliação de vozes, acolhendo o contraditório e o debate.
Dessa forma, instiga
a exploração de processos emergentes e do desconhecido.
Para quem presta
serviços na linha de apoio à decisão e operacionalização técnica, o recorte da
inovação fica como processo que combina diferentes interfaces: a tecnologia, a
educação, a cultura, a comunicação, o relacionamento, a legislação.
Cabe a nós
contribuir com responsabilidade profissional, serenidade (recomendada
por Gil Giardelli) e o propósito conciliar na prática todas essas abordagens,
alinhadas pela confiança nas decisões da governança!
ELIANE
MIRAGLIA - jornalista. Especialista em Gestão de Processos de
Comunicação e Mestre em Ciências da Comunicação (ECA/USP). Consultora no
sistema de Previdência Complementar desde 1991. Coautora no livro O Caminho das
Pedras – trilhado por Dirigentes e Consultores, organizado por Jusivaldo
Almeida e publicado em 2022.