É preciso mesmo amar o trabalho? Compare duas visões opostas


Dois especialistas para avaliar se a paixão pelo trabalho, característica comum entre a Geração Y, nascida entre 1980 e 1995, é mesmo tão importante.

Beatriz Braga, professora da FGV, acha que é fundamental gostar do que faz, enquanto Sigmar Malvezzi, da USP, afirma que a frustração faz parte da construção de uma trajetória profissional.

Além de gostar do trabalho, é preciso ser paciente para ganhar experiência e chegar ao cargo de gestão


SIM
É legítimo buscar um sentido na vida profissional

Gostar do trabalho e encontrar um equilíbrio entre vida profissional e pessoal é muito importante, se não fundamental, para qualquer pessoa, não apenas para os jovens da geração Y.

Não se trata de transformar o emprego em hobby, mas de achar um cargo que, além do salário no fim do mês, lhe traga algum significado à vida e seja desafiador.

Os millenials não têm medo de errar. Nessa busca por um sentido dentro do ambiente de trabalho, fundam negócios sem ter certeza se a empreitada dará certo.

O foco deixou de ser uma progressão de carreira tradicional -de assistente júnior a gerente- e passou a ser criar algo diferente e testar funções. Pular de galho em galho faz parte da trajetória profissional desse jovem.

Novas competências, alinhadas aos avanços tecnológicos, criaram um leque gigantesco de escolhas, que vão muito além das que seus pais ou avós tiveram. Natural que tanta opção gere angústia e curiosidade.

Esses jovens se perguntam se estão no caminho certo porque o universo profissional está cada vez mais complexo.

Os millenials não são mimados: eles acreditam que merecem equilíbrio, canais abertos com a chefia e feedbacks mais constantes. Eles exigem suas prerrogativas, brigam por espaço e colocam suas questões na mesa.

As gerações anteriores, até por terem sido criadas de forma menos aberta ao diálogo, não entendem muito bem essas demandas e podem até resistir às mudanças.

Mas as empresas já estão entendendo que precisam se adaptar. Os gestores devem começar abrindo pontos de contato com esse jovem de forma mais constante, seja mensal, trimestral ou ao fim de um projeto.


BEATRIZ BRAGA - doutora em administração de empresas pela USP (Universidade de São Paulo) e professora de gestão de pessoas da FGV (Fundação Getulio Vargas)

 

NÃO
Existem outras fontes de felicidade além do trabalho

Muitos jovens hoje têm dificuldade de permanecer em um emprego, seja por alegarem que aquilo não lhes traz propósito ou por não se sentirem reconhecidos.

Essa nova geração deve entender que a frustração faz parte da construção da história de qualquer profissional e que todos os investimentos nesse campo devem ser feitos a longo prazo.

As pessoas buscam muito reconhecimento na carreira. Faz sentido: o ambiente de trabalho é onde mais se celebram méritos, competências e resultados. Esse tipo de reconhecimento, porém, está cada vez mais raro.

O individualismo reina, e essa ênfase em si próprio não se restringe à empresa, afeta também o contexto familiar e social, o que acaba por criar uma legião de jovens sem referencial de reconhecimento, que busca conforto em qualquer lugar.

Essa nova geração teve acesso a bens materiais e atenção às suas vontades como nunca antes. Isso criou um problema: o jovem não aprendeu a lutar pelo que quer nem a ser competitivo.

Em vez de melhorar sua relação com o mundo, ele grita, aponta problemas e espera que alguém os solucione.

As redes sociais não ajudam: elas deixaram os vínculos profissionais e pessoais cada vez menos férteis e efêmeros, na base da "curtida".

A consequência direta é o surgimento de uma geração apressada, focada no curto prazo e autoritária, que tem dificuldade de ouvir e baixa tolerância ao fracasso.

Claro que o trabalho tem um peso importante, mas há outras frentes que ajudam a dar sentido e propósito para a vida, como atividades sociais, relações afetivas e empreendimentos pessoais.

Se esses aspectos estiverem ajustados, é provável que a pessoa se sinta satisfeita consigo mesma.

 

SIGMAR MALVEZZI - doutor em psicologia organizacional pela Universidade de Lancaster, na Inglaterra, e professor da USP (Universidade de São Paulo).

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