É recomendável manter
a reserva financeira em aplicações conservadoras que acompanham os juros.
Olivia
me ligou dizendo que precisava de dinheiro para complementar o fluxo de caixa
do mês e fez uma pergunta direta: devo sacar do investimento em que estou
ganhando ou perdendo? Nem pensei antes de responder que deveria resgatar da
reserva financeira, uma provável aplicação em taxa DI, adequada para resgates a
qualquer momento, independentemente do cenário econômico.
Ela
argumentou que não tem uma aplicação para essa destinação específica, que não é
assim que ela, e talvez muitas outras pessoas, pensam na hora de investir. O
investimento não é escolhido com base em um objetivo específico, como
recomendam os especialistas. Se fosse, a dúvida não existiria, bastava resgatar
da reserva financeira, constituída exatamente para ser usada em momentos como
esse.
A
regra que ela segue é a da diversificação, não colocar todo o dinheiro em um
único investimento. Fez isso no início, quando ainda não tinha volume
suficiente para abrir novas frentes, mas, assim que pôde, diversificou e mantém
hoje três tipos de investimento: renda fixa, multimercado e ações.
Nesse
caso, a decisão de onde resgatar é mais complexa e requer uma boa análise das
alternativas antes de avançar. Em um cenário macroeconômico favorável, o
desempenho das três aplicações seria provavelmente positivo e minha
recomendação seria a de resgatar do que proporciona o maior lucro. Entenda
lucro como ganho de capital de fato, e não mera recuperação de perdas.
Entretanto,
o cenário econômico atual é desfavorável, sem expectativa de recuperação no
curto prazo, com impacto negativo, em maior ou menor escala, nas posições de
juros, moedas e Bolsa.
RENDA FIXA
No
universo das aplicações em juros, existem três possibilidades: taxa pós-fixada,
que acompanha a variação dos juros e ganha em cenários de alta, como o atual;
taxa prefixada, que perde valor em cenário de alta de juros; índice de
inflação, que também sofre em cenário de alta dos juros, com perda acentuada
quanto mais longo for o prazo dos títulos da carteira.
Olivia
tem aplicação em fundo de renda fixa que investe em índices de inflação, com
rentabilidade negativa acumulada em 12 meses. Essa aplicação tende a recuperar
as perdas quando e se as taxas de juros caírem. Recomendável aguardar e examinar
as outras alternativas.
MULTIMERCADO
Existem
diversas modalidades de fundos multimercado que buscam rentabilidade acima da
taxa DI para compensar o investidor dos riscos da carteira. Um mercado difícil
como o atual requer mais do que competência dos gestores; para ganhar, seria
preciso acertar a tendência dos diversos mercados nos quais investe e se
posicionar na ponta que ganha no cenário esperado.
Exemplificando,
no cenário atual, são vencedoras as estratégias que apostaram na alta dos
juros, na alta do câmbio e na queda da Bolsa. Estar no lugar certo, na hora
certa, o grande desafio.
A
rentabilidade acumulada em 12 meses do fundo multimercado no qual Olivia
investe é 90% da taxa DI --a meta do fundo é de 120%. Só o tempo e a
competência do gestor poderão gerar rentabilidade compatível com a expectativa
criada perante os investidores. Resgatar o dinheiro dessa aplicação é uma
possibilidade.
AÇÕES
Olivia
investe em uma carteira conservadora de ações, composta por quatro ações com
histórico de rentabilidade muito positiva no médio e no longo prazos.
O
desempenho no curto prazo tem sido desfavorável, mas as empresas nas quais
investe apresentam fundamentos sólidos e perspectiva de rentabilidade elevada
assim que o cenário apontar para recuperação da economia. Recomendável manter
se houver outra alternativa de onde sacar.
Vender
é uma decisão mais difícil e complexa do que comprar. Realizar lucro e sacar de
uma aplicação que está ganhando ou parar de perder dinheiro e resgatar de uma
aplicação com desempenho ruim? A decisão, nada trivial, depende da
quantia de dinheiro envolvida, da composição da carteira do investidor e da
perspectiva de recuperação das variáveis macroeconômicas.
Marcia Dessen - planejadora financeira pessoal,
diretora do IBCPF (Instituto Brasileiro de Certificação de Profissionais
Financeiros) e autora do livro "Finanças Pessoais: o que fazer com meu
dinheiro" (Trevisan Editora, 2014).