Elon Musk, dos carros Tesla,
pode ter a chave para a nossa dependência de combustíveis fósseis.
O
empresário Elon Musk é o que existe mais perto no plano da realidade de Tony
Stark, o Homem de Ferro do cinema. Tal qual o personagem, Musk é ele mesmo um
inventor, bilionário e dono de múltiplas empresas que ambicionam mudar modos de
vida no planeta. Entre seus investimentos estão a SpaceX, empresa de exploração
espacial criadora de foguetes mais eficientes. E a Tesla, fabricante de carros
elétricos.
Sobre
essa última, vale se deter um pouco. Em vez de desenvolver um carro elétrico
com apelo "ecológico", apropriado para consumidores de classe média
com consciência ambiental, a Tesla apostou no segmento de luxo. Seu carro-chefe
(o "Modelo S") compete em preço e desempenho com um Porsche. Há
testes em que o Tesla bate a marca alemã (e, para reabastecer, basta ligar na
tomada).
Agora
ele deu um passo ainda maior. Anunciou há alguns dias o lançamento do
PowerWall, uma linha de baterias elétricas capazes de armazenar energia
suficiente para alimentar uma casa. Perto de foguetes e de carros de luxo, uma
bateria parece algo sem graça. Mas o novo projeto de Musk tem potencial
revolucionário. Ataca na raiz um dos maiores dramas globais: nossa dependência
de combustíveis fósseis.
Um
dos problemas em relação à energia é como conservá-la e transportá-la.
Combustíveis fósseis resolvem isso. É energia que pode ser armazenada e
transportada com facilidade, mas a que preço? Musk agora traz uma alternativa.
Suas baterias são carregáveis por qualquer fonte energética disponível: painéis
solares, vento ou marés. E mais importante: podem ser carregadas com geração
elétrica excedente.
Por
exemplo, turbinas hidrelétricas e termoelétricas continuam operando à noite,
quando o consumo de eletricidade é menor. Essa energia excedente que hoje é
"desperdiçada" poderia ir para baterias, poupando a rede em horários
de pico.
Ele
lançou também os PowerPacks, grandes baterias capazes de alimentar cidades
--160 milhões delas seriam capazes de fornecer toda a energia para os Estados
Unidos. Número que não soa tão grande quando se pensa que existem hoje 253
milhões de carros nos EUA.
Com
isso, Musk abre caminho para uma nova estratégia econômica para lidar com uma
das maiores mazelas do nosso tempo: a pobreza energética. Hoje, 2 bilhões de
pessoas não têm acesso a eletricidade. E 3 bilhões dependem de querosene, lenha
ou esterco para cozinhar ou calefação. Houve vários avanços nas estratégias
para se expandir o acesso à eletricidade, como os chamados
"minigrids", que hoje conectam vários vilarejos na África.
Mas
a alternativa de Musk é mais ambiciosa que todas elas. Todo conselheiro de
empresa de energia ou quem trabalha no governo com o tema deveria estar
estudando o que ela pode fazer pelo Brasil.
Ronaldo Lemos - advogado
e diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro
Fonte: jornal FSP