O fantasma da reforma da
Previdência, está momentaneamente adormecido no país. O Congresso Nacional não
avançou nas discussões e votações das propostas da equipe econômica do Governo
Federal, para endurecer as regras de aposentadoria. Entre as mudanças, estava a
elevação da idade mínima para 65 anos para os homens e 62 anos para as mulheres
para dar entrada na aposentadoria, além de o mínimo de 40 anos de contribuição
para conseguir o benefício integral. Porém, não é só no Brasil que as mudanças
previdenciárias tiram o sono dos trabalhadores.
Exemplo recente, aconteceu na
Rússia. A equipe do presidente russo, Vladimir Putin, aproveitou o momento de
euforia com a Copa do Mundo para anunciar uma proposta para aumentar
consideravelmente a idade de aposentadoria. No dia de abertura da Copa, o
primeiro-ministro russo, Dmitri Medvedev, anunciou que o governo pretende
elevar a idade de aposentadoria dos homens em cinco anos, de 60 para 65 anos, e
das mulheres em oito anos, de 55 para 63, a partir de 2019. A justificativa é a
de diminuir a pressão sobre os cofres públicos, pois segundo o governo russo o
orçamento está comprometido devido ao número crescente de aposentados e de uma
força de trabalho encolhida, pela baixa taxa de natalidade do início dos anos
2000.
Outro exemplo triste vive a
Nicarágua, com uma sangrenta crise que já foi responsável pela morte de
centenas de pessoas e que teve seu estopim com protestos contra o governo
Ortega, que começaram em abril, após uma tentativa fracassada de aprovar a
reforma da previdência. Por lá, a proposta era mudar a contribuição
previdenciária dos trabalhadores que passaria de 6,25% para 7%, a partir de
julho, e a cota dos patrões, que subiria de 19% para 21% – e aumentaria
gradualmente até chegar a 22,5%, em 2020. A reforma foi revogada, por conta da
intensa manifestação e pressão popular.
De acordo com levantamentos
recentes, a expectativa de vida em todo o mundo aumentou cinco anos nos últimos
15 anos: 71 anos para as mulheres e 69 para os homens. Por esse motivo,
diversos países pelo mundo estão realizando reformas em seus sistemas
previdenciários. França, Espanha e Alemanha aumentaram a idade mínima para
aposentadoria (65 anos) e o tempo de contribuição.
Ou seja, o fantasma da reforma
previdenciária está assombrando trabalhadores em todo o mundo. Entretanto, em
países desenvolvidos existem uma série de políticas públicas que garantem um
planejamento mais tranquilo para os cidadãos. Por exemplo, as escolas,
faculdades e os hospitais públicos oferecem um serviço com uma qualidade que
eximem milhões de pessoas de terem que pagar por planos de saúde e educação
particular e, assim, conseguem investir e poupar mais durante a carreira
profissional.
No Brasil, a maioria dos
aposentados recebem um salário mínimo e não tem um serviço público de qualidade
para garantir seus direitos essenciais. Por aqui, a reforma tem como grande
bandeira o suposto déficit da Previdência. Uma verdadeira falácia, pois estudos
da Associação Nacional dos Auditores Ficais da Receita Federal (Anfip) e
reforçados pela tese defendida pela nobre economista e professora da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Denise Gentil demonstram que as
receitas da Previdência Social superam os gastos desde 2007. São dados públicos
e que podem ser constatados, facilmente.
Os números que do governo
brasileiro leva em conta, para demonstrar o rombo das contas da Previdência são
os valores das contribuições versus o que é pago mensalmente de benefícios. Uma
conta errada, pois não levam em consideração, por exemplo, os maiores devedores
da Previdência no Brasil: as grandes empresas. Elas têm, segundo levantamento
da CPI da Previdência Social do Senado Federal, dívidas de mais R$ 1 trilhão,
com valores atualizados pela taxa Selic. Valor suficiente para cobrir qualquer
déficit público.
A reforma da Previdência deve ser
uma questão de destaque, nas próximas eleições. Espero que não seja apenas uma
ferramenta política, dos futuros candidatos. Que seja aberto um debate amplo
com a sociedade, com os acadêmicos e especialistas, para que seja realizado um
levantamento atuarial da real situação da Previdência no país. E, a partir daí,
começar a desenhar uma proposta justa para os trabalhadores e segurado do
Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
Dr. Murilo Aith - especialista em Direito Previdenciário.