Imóvel ou apólice de seguro; o que é melhor deixar
para seus herdeiros?
Apesar da queda de casos devido
ao coronavírus, a preocupação das famílias com a
sucessão continua acelerando.
Neste sentido, a maior dúvida é: qual a melhor
forma de construir um colchão de segurança para a família?
Para a finalidade de sucessão, ou seja, deixar um patrimônio para a
segurança da família, existem três alternativas usuais: imóvel, apólice de
seguro e aplicações financeiras.
Analiso abaixo as duas primeiras alternativas,
exemplificando com um caso real.
A comparação com aplicações
financeiras será tratada no próximo artigo, no qual explicarei a melhor
estratégia.
- Os
imóveis são a melhor forma de deixar patrimônio para a família?
Já ouvi de muitos que o brasileiro
gosta de imóvel. Portanto, vários argumentam que esta
seria a melhor alternativa, pois agrega a satisfação de um desejo ao objetivo
de sucessão.
Essa afirmação esconde algo mais
profundo dos brasileiros. A ausência de educação financeira e conhecimento de
alternativas de investimentos a eles.
Para a maioria dos brasileiros, a
alternativa aos imóveis é a caderneta de poupança ou fundos de investimentos
atrelados ao CDI. Com esse universo restrito, os imóveis acabam sendo realmente
melhores.
No entanto, esse não é o universo
comparável. Um imóvel é um investimento de risco, ilíquido e de longo
prazo. Assim, a comparação deveria ser com investimentos equivalentes.
Vou
falar sobre estes no próximo artigo. Nesse momento, vou abordar as vantagens e
desvantagens do imóvel.
O imóvel possui três grandes
vantagens em termos de poupança para sucessão.
A primeira delas é a capacidade de se
criar uma obrigação definitiva de poupança. Como a maioria das pessoas faz a
aquisição financiada, ela acaba se tornando uma obrigação que o investidor
precisa honrar.
Outra vantagem do imóvel para
sucessão é que ele é um investimento ilíquido. Assim, o investidor não tem como
cair na tentação de o utilizar para uma finalidade não programada.
Por último, o fato de não ter seu
preço cotado a mercado, ajuda o investidor a não tomar decisões
erradas. Apesar de ser um investimento de risco, o imóvel não tem seu preço
variando instantaneamente.
Assim, o investidor não sente os efeitos de momentos
econômicos desfavoráveis e acaba sendo mais fácil carregar a aplicação pelo
longo prazo.
Perceba que as vantagens não estão
relacionadas ao princípio da sucessão, mas à disciplina do investidor seguir
seu plano.
Exatamente em relação aos princípios
de adequação para a sucessão, que o imóvel guarda suas principais desvantagens.
Quando se fala em sucessão, há quatro
princípios que caracterizam a adequação do produto. O bem deve:
- Ser perfeitamente divisível;
- Possuir baixa despesa para
transferência;
- Permitir rápida
transferência aos beneficiários;
- Proporcionar flexibilidade
ao beneficiário em como decidir usar melhor o benefício.
O imóvel não consegue atender a
nenhum destes requisitos.
Já recebi consulta de famílias
divididas pela discordância sobre o que fazer com a herança imobiliária. Um quer vender, o outro não quer
e nenhum deseja pagar os custos de manutenção. Chegam até a correr o risco de
perder o imóvel por dívidas de condomínio.
O imóvel tem alto custo para transferência
e pode inviabilizar o benefício de herança desejado.
Adicionalmente, o herdeiro muitas
vezes se vê com um bem que acaba por se tornar uma dor de cabeça para
administrar ou cobrir seus custos.
O tempo de transferência de um imóvel
pode ser bem elevado. Há processos de inventário que duram anos. Nesse tempo, o
bem se deprecia e, dessa forma, se desvaloriza.
Por fim, a grande maioria das pessoas
que compra imóveis para deixar de herança o fazem por meio de financiamento.
Assim, acabam pagando mais que o valor do bem, às vezes até o dobro, para
prover uma herança que vale menos que o valor pago.
Por exemplo, simulei no site de um
grande banco a compra financiada por 10 anos de um imóvel de R$ 500 mil, com
uma entrada de R$ 100 mil. Você pagaria prestações que iniciariam em R$
6.177,27 e terminariam em R$ 3.380,56.
No final do período, você terá
dispendido um total de quase R$ 700 mil pelo imóvel de valor inicial de R$ 500
mil.
Adicionalmente, o herdeiro ainda vai
arcar com custos elevados de transferência.
- Uma
apólice de seguro é melhor que um imóvel para sucessão?
Uma apólice de seguro cumpre os
quatro princípios que caracterizam um produto a ser adequado para sucessão.
O seguro de vida é perfeitamente
divisível, tem baixo custo de transmissão, possibilita ao beneficiário a
escolha de como melhor utilizar a herança e seu recebimento é rápido.
Assim, uma apólice de seguro de vida
é mais adequada que um imóvel para sucessão.
No entanto, surge uma dúvida: ela é
mais barata que um imóvel?
Simulei em uma grande seguradora o
custo para uma apólice vitalícia para uma pessoa do sexo masculino e para uma
do sexo feminino.
Ambos com 40 anos de idade. A apólice vitalícia seria paga em
10 anos, ou seja, em prazo similar ao do financiamento imobiliário.
Para o mesmo valor pago em prestações
do imóvel, o capital segurado seria de R$ 1.200.000,00 e R$ 1.450.000,00 para a
pessoa de sexo masculino e a do feminino, respectivamente. Ressalto que esse
capital ainda é corrigido pelo IPCA.
Portanto, além de ter melhor
adequação, para o mesmo valor pago em financiamento imobiliário, é possível ter
uma apólice com valor de quase o triplo do imóvel.
E agora, você ainda prefere deixar um
imóvel de R$ 500 mil ou um patrimônio médio de mais de R$ 1.300.000,00 para
seus herdeiros?
Michael Viriato - assessor de investimentos e sócio fundador
da Casa
do Investidor