Já faz tempo que eu
busco respostas para essa pergunta: o que você vai ser, quando envelhecer?
Porque essa pergunta é muito, muito moderna. E não, eu não estou sozinha nesta
reflexão. Ontem, o programa TERRADOIS, da TV Cultura, trouxe o tema
"Envelhescência" à discussão. Vale à pena investir 40 minutos nesta
viagem!
A velhice é individual! Acho que é por esse motivo que esta foto me
comove tanto. No século 21, mais do que finitude, velhice se transformou em
possibilidade. Isso é bom e ruim. Velhice é privilégio. Nem todos conquistam
essa experiência. E velhice não é democrática! As condições financeiras são
determinantes para que a experiência da velhice esteja garantida em nosso
currículo de vida.
As estatísticas comprovam o que eu terminei de escrever. O Mapa da
Desigualdade, divulgado em outubro, mostra que a diferença de tempo de vida a
favor de quem é rico - em São Paulo - chega a quase 25 anos (clique aqui). O idoso é
um sobrevivendente! Mas a questão não se limita ao aumento da longevidade. Nem
mesmo se refere ao aumento do tempo de serviço, tempo de contribuição à
Previdência Social. Trata-se de uma questão econômica. Trata-se de uma
questão de oportunidades. Trata-se de maior ou menor exposição à violência.
Maior ou menor acesso à infraestrutura, à saúde.
Tempo com dinheiro
Penso que a Reforma da Previdência não é resposta para todos os problemas
econômicos e sociais do Brasil. Penso que a Reforma Tributária não é
resposta para todos os problemas econômicos e sociais do Brasil. Penso
que a Lava-Jato não é resposta para todos os problemas políticos e éticos do
Brasil.
Mas são iniciativas de caráter mais genérico que, uma vez implantadas, podem
ser aprimoradas para chegar a situações específicas - como os privilégios, como
a tributação de heranças e grandes patrimônios, como o REFIS, como as
transações internacionais do Banco Safra, desde a gestão Paulo Maluf - só para
manter a questão aqui em São Paulo. Mas pode se pensar em Samarco e tantos
outros crimes que só fazem aumentar essa diferença de tempo de vida entre São
Paulo e outras localidades deste país continental.
Há questões de justiça, sim! Mas aprendi que a eficiência financeira e o lastro
econômico precedem a justiça. Sem trabalho, não há dinheiro, saúde, educação,
habitação, segurança, vida. Penso que nada disso é resposta absoluta, mas
há respostas absolutas no século 21? Nem mesmo a morte é mais resposta
absoluta!
Aprender a aprender
"O que você quer fazer aos 96 anos"? Para mim,
esta pergunta que surge aos 35 minutos do episódio “Envelhecêscia”, de TERRADOIS,
é a principal reflexão que o aumento da longevidade desencadeia. A arcaica
associação entre ser e fazer. O fazer que justifica o ser.
A automação preconiza o fim deste grande paradigma do século 20.
A automação é o fim, primeiro do emprego. Depois, do trabalho. E ainda das
contribuições à Previdência Social. Por último, do significado de nós
mesmos.
“Nós precisamos de uma escola de ocupação da nossa longevidade”, explica o
psiquiatra Jorge Forbes. E aí é que está o pulo do
gato! Quem se habilita a ensinar essa lição? Com soluções, mais do que
reclamações? Com transformações, mais do que restrições (além daquelas que
naturalmente existem)?
Hoje, eu não tenho respostas. Só mais ecos para a pergunta: o que você vai ser,
quando envelhecer?
Eliane Miraglia - mestre
em Ciências da Comunicação, especialista em Gestão de Processos Comunicacionais
e consultora de comunicação, tem participado em projetos com a Suporte
Educacional.
Fonte: blog da Eliane: www.elianemiragliablogspot.com.br