Shahar Waiser, executivo-chefe
do Gett, empresa que estabeleceu uma parceria com a Volkswagen (Gett)
As fábricas de automóveis estão de
olho em um futuro guiado pela tecnologia, no qual, admitem cada vez mais, não
será preciso ter um carro para andar por aí.
Recentemente, duas das maiores
montadoras do mundo, Toyota e Volkswagen, anunciaram investimentos em start-ups
tecnológicas que trabalham para modificar a forma como as pessoas andam de
carro. A Toyota disse ter firmado uma parceria com o Uber, investindo uma
quantia não revelada nessa empresa de compartilhamento de veículos. O Gett, um
aplicativo popular na Europa, disse estar trabalhando com a Volkswagen, da qual
recebeu um investimento de US$ 300 milhões (cerca de R$ 1 bilhão).
Essas alianças somam-se a outras
parcerias entre empresas de tecnologia e as montadoras de veículos tradicionais
em busca de um reposicionamento. Durante décadas, os fabricantes de automóveis
seguiram uma fórmula que consistia em fazer carros cada vez maiores e mais
possantes.
Mas start-ups como o Uber e o Lyft e
empresas de tecnologia como o Google e a Tesla alteraram essa cadência. Estas
empresas, a maioria localizada no Vale do Silício, aceleraram nos últimos anos
o desenvolvimento de carros autoguiados, veículos elétricos e serviços de
transporte compartilhado.
As montadoras rapidamente passaram a
se preocupar com essas tecnologias e com seu potencial para ajudar as pessoas a
se deslocarem de forma fácil e barata sem precisar ter um carro — ou mesmo sem
saber dirigir.
“O compartilhamento de trajetos tem
um enorme potencial em termos de moldar o futuro da mobilidade”, disse Shigeki
Tomoyama, executivo da Toyota, em uma nota sobre a parceria com o Uber.
“Gostaríamos de explorar novas formas de prestar serviços de mobilidade
seguros, convenientes e atraentes”.
Karl Brauer, analista da empresa de
pesquisas Kelley Blue Book, disse não haver sinal de que os serviços de
compartilhamento de veículos ou compartilhamento de trajetos — às vezes chamados
“serviços de mobilidade” — estejam afetando as vendas de veículos atualmente.
No entanto, os fabricantes querem “estar à frente da curva” caso haja
futuramente uma revolução na ideia de possuir um carro, segundo Brauer.
Em janeiro, a General Motors investiu
US$ 500 milhões (R$ 1,75 bilhão, pelo câmbio atual) no aplicativo de caronas
Lyft, que está envolvido no desenvolvimento de redes de veículos autônomos. A
Ford Motor está transformando sua sede em Dearborn, Michigan, num complexo
semelhante ao das empresas do Vale do Silício, com prédios ambientalmente
corretos, conectados entre si por veículos autoguiados.
E, há algumas semanas, a Fiat
Chrysler e o Google selaram um acordo para produzir uma frota de protótipos de
minivans sem motorista. A BMW e a Mercedes-Benz criaram programas-piloto de
serviços de mobilidade.
Até mesmo empresas de tecnologia
relacionadas apenas tangencialmente com os automóveis estão se envolvendo mais
nesse tipo de serviço. A Apple, que desenvolve um projeto de carro, anunciou no
mês passado um investimento de US$ 1 bilhão (R$ 3,5 bilhões) na Didi Chuxing,
uma empresa chinesa de compartilhamento de caronas que concorre agressivamente
com o Uber.
A Toyota disse que, no seu trabalho
com o Uber, as duas empresas planejam cooperar em testes nos países onde o
compartilhamento de trajetos mais cresce. Elas também planejam desenvolver
aplicativos de uso automotivo para auxiliar os motoristas do Uber.
A Volkswagen, por sua vez, planeja
apresentar a chamada “Estratégia 2025”, em que as iniciativas de mobilidade
terão papel importante.
“Nossa meta é nos tornarmos um
importante fornecedor de mobilidade até 2025”, disse em nota o executivo-chefe
Matthias Müller.
O Gett, que é popular em mais de 60
cidades europeias, e também em Nova York, disse que planeja continuar
expandindo suas operações na Europa.
“Até agora, as pessoas percebem que a
paisagem é tão grande — e cada mercado é tão diferente — que haverá mais do que
um monopólio ou duopólio”, disse Shahar Waiser, executivo-chefe do Gett.
“Sempre haverá dois ou talvez três grandes participantes nesse espaço, aonde
quer que você vá.”
Mike Isaac e Neal E. Boudette – jornalista do New York
Times