São
poucas as substâncias que modulam a atividade dos neurônios
Recebo vários e-mails de pessoas que hesitam em tomar a
medicação receitada após ler a bula. A razão, em muitos casos, é notar palavras
como "epilepsia" ou "depressão" nas recomendações do
remédio.
Por que médicos receitam antidepressivos para quem sofre
de ansiedade, antiepilépticos para quem sofre de dor crônica, ou antipsicóticos
para quem sofre de mania, não de esquizofrenia?
Cápsulas de Prozac, um dos mais populares e antigos
antidepressivos no mercado –
A resposta curta é: porque o cérebro funciona com um
número surpreendentemente pequeno de substâncias que modulam a atividade dos
neurônios, e portanto há poucas maneiras de o cérebro desandar —e poucas
maneiras de intervir quando isso ocorre. Por isso, o número de classes de
fármacos é bastante pequeno, e eles acabam categorizados de acordo com seu uso
mais conhecido.
Se o problema é relacionado a excesso de excitação de
neurônios, como ansiedade mas também epilepsia, o tratamento é aumentar o freio
natural do cérebro por inibição dos neurônios. As mesmas substâncias que fazem
isso são portanto ansiolíticas... e também antiepilépticas. E também combatem a
dor crônica, quando esta é relacionada a excesso de atividade no cérebro.
Se o problema é excesso de modulação dopaminérgica, que
tanto promove a saliência pessoal dos acontecimentos (e portanto paranoia)
quanto o grau de prazer e motivação (e portanto mania), o jeito é reduzir a
ação da dopamina. Essas substâncias são conhecidas como antipsicóticas —mas
também controlam a mania.
Se o problema é, ao contrário, falta de modulação
dopaminérgica, uma das causas possíveis da falta de prazer e motivação da
depressão, o jeito mais seguro de corrigir o problema não é aumentar a dopamina
(pois drogas que fazem isso levam facilmente ao vício), e sim usar substâncias
que fazem o cérebro aumentar seus freios internos. Esses são chamados de
antidepressivos —e também tratam ansiedade.
Os
nomes às vezes assustam, eu sei. Mas um pouco de conhecimento sobre o próprio
cérebro resolve o problema.
Suzana
Herculano-Houzel - bióloga e neurocientista da
Universidade Vanderbilt (EUA).