Nº de
hospitalizações do tipo custeadas pelos convênios passou de 99,5 mil em 2012
para 157,4 mil no ano passado
As internações psiquiátricas de pacientes de planos
de saúde aumentaram 58% no País em quatro anos, segundo dados da Agência
Nacional de Saúde Suplementar (ANS). O número de hospitalizações desse tipo
custeadas pelos convênios passou de 99,5 mil em 2012 para 157,4 mil no ano
passado - quase 18 por hora, em média.
Embora ANS e empresas não detalhem o número de atendimentos por
tipo de transtorno psiquiátrico, representantes do setor e de clínicas de
reabilitação indicam que é o aumento do abuso de drogas lícitas e ilícitas o
principal responsável por esse crescimento. “Com certeza o tratamento para
usuários de drogas deve estar influenciando essa variação. Uma das empresas (de
planos de saúde) identificou um aumento de 26% nas internações por dependência
química somente no período de 2015 a 2016”, diz Solange Beatriz Palheiro
Mendes, presidente da Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde),
entidade que representa 18 grupos de operadoras.
Segundo Nivaldo Caliman, diretor superintendente do
Instituto Bairral de Psiquiatria, complexo de reabilitação no interior paulista
que atende pacientes da rede pública e da privada, a ala que recebe pacientes
particulares e de convênio opera com lotação máxima e fila de espera. “Temos 60
leitos exclusivos para dependência química. Todos permanecem o tempo todo
ocupados e há demanda extra de mais 160 pacientes”, detalha ele.
De acordo com
Caliman, ao contrário do que ocorre na ala para o Sistema Único de Saúde (SUS,
da rede pública), o crack não é a droga predominante entre os pacientes do
sistema privado. “Há também casos de dependência em crack entre os pacientes
particulares e de convênios, mas o que mais vemos é abuso de álcool,
anfetaminas, cocaína e ecstasy”, diz ele.
Alerta
O engenheiro
civil D.F.P, de 41 anos, teve alta nesta quinta-feira, 8, de sua quinta
internação. Ele conta que percebeu que havia perdido o controle sobre o consumo
de álcool em 2013, quando passou a beber com mais frequência e até mesmo no
horário de trabalho. “Bebia socialmente desde meus 23 anos, mas, em 2008, a
empresa que eu tinha viveu problemas, enfrentei dificuldades financeiras e no
casamento. Comecei a beber cada vez mais para tentar fugir dos problemas.”
Depois disso, o
vício foi se agravando até que, em 2013, ele se internou pela primeira vez.
“Depois disso, tenho alternado períodos sóbrios e de recaída. O alerta tem de
ser constante. É uma doença que afeta todo mundo. Já convivi na clínica com
gente que veio da Cracolândia e também com executivos de multinacionais e
médicos, por exemplo”, conta.
Para o
despachante aduaneiro J.V.S., de 48 anos, a dificuldade que tinha para se abrir
com a família sobre o vício em cocaína agravou ainda mais sua dependência. “Eu
era o exemplo para todos. Chegava a dar conselho para meu filho para não usar
drogas, mas eu mesmo não conseguia me controlar. Usava uma máscara e acho que
só agora, depois que me internei e me mostrei, vou conseguir me recuperar”, diz
ele. “Você sempre acha que tem autocontrole e pode parar quando quiser, mas
isso é uma ilusão. Se não tiver apoio, a droga te leva para o fundo do poço.”
Pacientes
buscam Justiça para garantir cobertura
Alguns pacientes
de planos de saúde com necessidade de internação psiquiátrica têm recorrido à
Justiça para garantir a cobertura integral do tratamento. Segundo norma da
Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), os clientes que possuem plano com
coparticipação podem ser obrigados a arcar com parte do custo do tratamento no
período de internação excedente a 30 dias.
Para evitar esse
custo extra, o despachante aduaneiro J.V.S., de 48 anos, entrou com uma ação
contra sua operadora, pedindo o custeio total dos 90 dias que ficará internado
em uma clínica de reabilitação.
“Se dependesse
do plano, eu teria de sair após 30 dias, mas minha família entrou com uma
liminar e o juiz deu decisão favorável”, conta ele, internado desde o fim de
março.
Além das internações em clínicas, os planos são
obrigados a custear consultas com psiquiatras (em número ilimitado) e
psicoterapia (18 sessões por ano), além de atendimento ambulatorial.
Fonte: Fabiana Cambricoli, O Estado de S. Paulo