A qualidade do ar que se respira
Partículas inaláveis penetram os alvéolos pulmonares e podem passar
diretamente dos pulmões para o sistema sanguíneo.
Um estudo publicado no ano
passado mostrou que a poluição do ar contribuiu para 6,7
milhões de mortes prematuras no mundo em 2019.
Partículas inaláveis de até 2,5
micrômetros de tamanho (MP2,5) penetram os alvéolos pulmonares e podem passar
diretamente dos pulmões para o sistema sanguíneo.
A exposição a MP2,5 está
associada ao aumento de doenças respiratórias, doenças
cardíacas, acidente vascular cerebral, enfisema, câncer de pulmão, bronquite,
asma, dor torácica, problemas pulmonares e cardíacos crônicos e aumento do
risco de morte.
No Brasil, uma das fontes de
emissão de MP2,5 são os incêndios florestais. Na Amazônia, os incêndios estão diretamente
relacionados ao desmatamento.
O projeto Engolindo Fumaça, uma parceria
entre InfoAmazonia, Universidade Federal do Acre e Observatório Clima e Saúde
da Fiocruz, mostrou uma associação entre queimadas na Amazônia e aumento das
internações por Covid-19.
Resultados similares foram
observados no oeste dos Estados Unidos entre março e dezembro de 2020 (cerca de
20 mil infecções e 750 mortes por Covid-19 associadas aos incêndios
florestais).
Um estudo publicado no último
dia 6 mostrou que, na Amazônia, cada quilo adicional de MP2,5 emitido está
associado a 23 novos casos de doenças respiratórias e cardiovasculares e
cada hectare de floresta queimada representa um custo de R$ 10 milhões para o
sistema de saúde.
Os efeitos negativos não se
restringem a área onde a queimada acontece, mas se estendem por cerca de 500 km
a partir do foco de incêndio.
O estudo mostra ainda que cerca
de 27% da capacidade de absorção de MP2,5 pela floresta estão concentrados em
territórios indígenas.
Portanto, a proteção desses territórios poderia prevenir
15 milhões de casos de doenças respiratórias e cardiovasculares que custariam
cerca de R$ 10 bilhões ao sistema de saúde.
Entretanto, é lenta a reversão
da trajetória de aumento acelerado do desmatamento observada no governo
anterior.
O desmatamento na Amazônia de janeiro a
marco de 2023 foi o segundo maior desde 2015, ficando apenas atrás do valor do
ano passado.
A Organização Mundial da Saúde
(OMS) estabelece diretrizes de qualidade do ar com base em estudos feitos em
vários países. Em 2021, a recomendação da OMS para MP2,5 foi estabelecida em 5
µg/m³ por ano em média.
Antes de 2021 o valor era 10
µg/m³.
Nos Estados Unidos esse valor é de 12 µg/m³. Um estudo publicado mês
passado no New England Journal of Medicine estima que uma diminuição do padrão
de 12 para 8 µg/m³ resultaria em uma redução da taxa de mortalidade em adultos
com 65 anos ou mais de idade, principalmente entre os mais vulneráveis (4%
menor entre brancos de alta renda versus 6% menor entre brancos e pretos de
baixa renda).
A agência que estabelece os
padrões nos Estados Unidos vai avaliar uma possível mudança do padrão e estima
que uma diminuição de 12 para 9 µg/m³ preveniria 4.200 mortes prematuras por
ano.
No Brasil, os padrões de qualidade do ar foram estabelecidos
pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) em 2018.
A meta para MP2,5 é
uma média anual de 10 µg/m³ (recomendação antiga da OMS) a ser alcançada em
três etapas (20, 17, 15 µg/m³).
Porém não há uma definição sobre o tempo de duração de cada
etapa até que o nível de 10 µg/m³ seja alcançado. Em maio de 2022, o Supremo
Tribunal Federal deu um prazo de 24 meses para que o CONAMA edite os níveis de
tolerância conforme as novas regras da OMS. Rever os padrões é necessário.
Definir a duração das etapas também.
Mas acima de tudo é fundamental reduzir as emissões. No Brasil,
coibir o desmatamento, e evitar as subsequentes queimadas, é crucial para essa
redução.
MARCIA CASTRO - professora de demografia e chefe do Departamento de Saúde
Global e População da Escola de Saúde Pública de Harvard.