Investidor com propósito põe impacto social à
frente de rentabilidade
Critérios
ESG incorporam olhar que contribui para o crescimento econômico sustentável.
Você sabe para onde vai o dinheiro que investe? O
JM, leitor da Folha, não apenas sabe como faz questão de escolher o
investimento em razão do impacto que causa na sociedade.
Ele aplica, na prática, um dos critérios ASG, quando
decide, conscientemente, permanecer na poupança apesar da rentabilidade pouco competitiva no
atual cenário de juros, assunto que abordei em "A poupança e a nova Selic".
Os critérios
ASG (ambiental, social e governança, ou ESG, em inglês) incorporam um olhar que vai além da
rentabilidade na hora de definir pelo investimento em determinada empresa,
projeto ou instrumento financeiro, contribuindo para o crescimento econômico
sustentável.
Um investimento ASG incorpora alguma questão, seja
ambiental, social ou de governança, em sua análise de investimento e leva em
consideração a sustentabilidade a longo prazo.
Esses investimentos também recebem outras
denominações, como investimento responsável, investimento sustentável,
investimento de impacto social, investimento ético, títulos verdes (conhecidos lá fora como green bonds),
investimentos na área de infraestrutura, entre outros.
Uma das estratégias mais utilizadas pelos
investidores no mundo todo é a do filtro negativo, definindo critérios para
excluir determinados ativos de sua carteira de investimento.
Os setores que
figuram entre os mais evitados pelos investidores, devido ao alto risco social
e ambiental, são: armas, tabaco, energia nuclear, pornografia, apostas e
bebidas alcoólicas.
O filtro positivo, por sua vez, ao invés de excluir
ativos, trabalha com a inclusão dos que atendem aos critérios e às normas
estabelecidas.
Pode ser um investimento específico, normalmente relacionado à
sustentabilidade, como a redução da emissão de carbono, ou políticas de
inclusão e diversidade no trabalho, que podem atrair mais clientes (e mais vendas)
do que outras empresas do mesmo setor.
Voltando ao exemplo do JM, para ele, o grande
atrativo da poupança é sua função social: o financiamento da casa própria para muita
gente menos favorecida.
O que acontece com o dinheiro depositado na
poupança? Quanto dos depósitos em poupança é destinado ao crédito imobiliário?
Os recursos captados em depósitos de poupança pelas
entidades integrantes do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE)
representam fonte relevante de recursos para as operações de crédito
imobiliário.
De acordo com a legislação vigente, no mínimo 65%
dos recursos depositados na poupança devem ser aplicados em operações de
financiamento imobiliário.
Outros 20% devem ser recolhidos no Banco Central para cumprimento do
depósito compulsório de poupança.
O restante dos recursos (15%) pode ser
utilizado livremente pelas instituições financeiras.
Assim, R$ 65,00 de cada R$ 100,00 depositados na poupança serão
obrigatoriamente destinados a financiamento imobiliário, contribuindo para
reduzir o déficit habitacional e a realização do sonho da aquisição da casa
própria de muitos brasileiros.
Encerro com a frase do leitor que inspirou a coluna de hoje:
"Assim, além do pífio rendimento pessoal, me sinto algo mais útil (ou
menos inútil) neste Brasil desigual, onde a falta de teto para tanta gente é um
problema para toda a sociedade".
Ele investe com propósito, renunciando a uma rentabilidade
melhor em razão de uma causa.
MARCIA DESSEN - Planejadora
financeira CFP (“Certified Financial Planner”), autora de “Finanças Pessoais: O
Que Fazer com Meu Dinheiro”.