Normalmente planos
mais antigos são mais maduros que planos mais novos, mas isto não é uma regra.
É apenas uma consequência do envelhecimento da população por ele coberta, que
ingressou enquanto trabalhava e nele permaneceu até chegar o dia de se aposentar
– e de receber o tão esperado benefício. Caso não haja um fluxo constante de
ingresso de novas pessoas, proporcional aos que se aposentam e depois morrem, o
plano vai amadurecendo até pagar seu último benefício e encerrar sua função.
Este
fluxo costuma ser interrompido quando um plano é fechado para novas adesões. É
o caso ilustrado na reportagem do jornal Valor Econômico: o Plano 1 da PREVI
está fechado desde 1997 e a partir de então nenhum novo participante pode
ingressar naquele plano.
Liquidez
Diz-se
que liquidez é a velocidade e facilidade com a qual um ativo pode ser
transformado em caixa. Enquanto alguns investimentos podem ser desfeitos e
transformados em “dinheiro vivo” quase que instantaneamente, outros demoram
anos ou décadas até estarem suficientemente apropriados para venda.
Vejamos,
por exemplo, um título público. As emissões do Tesouro Nacional possuem prazo
certo de vencimento – dia em que o papel detido pelo investidor será
inteiramente convertido em dinheiro. O título mais longo existente no mercado
brasileiro de títulos públicos é a NTN-B 2050, que será paga daqui a 35 anos.
Porém este ativo, aparentemente pouco líquido, pode ser vendido com certa
facilidade no mercado secundário, seguindo a taxa negociada no dia.
A
característica do ativo não é a única a influenciar na liquidez. A escala do
investimento também tem um papel determinante, pois é necessário encontrar um
comprador com capacidade de absorver a posição a ser vendida. Negociar uma
unidade de NTN-B 2050 pode ser tarefa fácil e quase instantânea, mas o que
dizer de milhares dela? E, quando falamos de fundos de pensão, normalmente as
escalas são superlativas.
Por
qual razão, então, dar preferência a ativos menos líquidos? A remuneração que
ativos menos líquidos oferecem para ficar com o dinheiro “preso” por tanto
tempo costuma ser atrativa, mas caso o investidor precise se desfazer de uma
posição como esta no meio do percurso poderá ter um grande prejuízo ou mesmo
ter de cumprir uma longa carência, de acordo com a regra de cada ativo (fundos
de investimento; imóveis; participações; etc.).
Alinhando maturidade com necessidade de liquidez para decisões
de alocação
Planos
de benefícios estão, frequentemente, revisando seus fluxos de pagamento de
benefícios – que indicam quanto e quando os desembolsos estão previstos – para,
se for o caso, rever suas políticas de investimento e em sequência suas
alocações. Um estudo tecnicamente apropriado para tal é o ALM – Asset Liability
Management, que permite otimizar o casamento entre ativos e passivos do plano
para maximizar o retorno dos investimentos sem prejudicar a sua necessidade de
liquidez.
É de
processos como estes que resultam decisões como a da PREVI, que estampou a
manchete de 13 de janeiro. Nada mais natural e correto – o Plano 1 está fechado
há quase 20 anos, a população está envelhecendo e, cada vez mais, a necessidade
por liquidez será maior e o apetite por ativos de longo prazo, como projetos de
financiamento de infraestrutura, será menor.
Vamos
agora ampliar o espectro da nossa análise. O que de fato importa é que
movimentos como este não alterem o equilíbrio do sistema: uma proporção grande
de planos maduros e com menor apetite para liquidez, que não seja compensada
pelo contínuo ingresso de novos participantes em outros planos, pode ser
dramática para certos setores de nossa economia.
Os
fundos de pensão são importantíssimos para financiar projetos de longo prazo,
disso todos sabemos. Se, coletivamente, há uma menor liquidez, menor será a
capacidade do país de financiar e viabilizar tais projetos sem captar recursos
externos. Esta não é uma boa notícia! Quais as saídas?
Há
algumas alternativas. Estruturar os ativos de forma que os papeis não exijam
tanta liquidez é uma delas. Amadurecer o mercado secundário, para permitir
trocas mais rápidas entre os agentes de mercado, é outra. Tornar mais precisas
as premissas utilizadas nos cálculos atuariais que subsidiam o fluxo de
pagamento de benefícios é mais uma, que maximiza o casamento entre ativos e
passivos.
Mas
minha leitura é que estas medidas são secundárias, paliativas, e que precisamos
resolver a questão em sua origem: o fluxo de ingresso de recursos de
participantes em atividade precisa superar o de assistidos e, mais que isso,
precisamos ter continuamente planos novos e pessoas jovens aderindo ao sistema.
A
solução passa, necessariamente, pelo fomento.
Aquelas
empresas e associações de classe que já dão acesso à previdência complementar a
seus colaboradores/associados estão, talvez de maneira inconsciente, fazendo um
bem ao país, ao permitir o ingresso de novos recursos que poderão financiar
ativos de longo prazo. E podem fazer ainda mais investindo em comunicação com
seu público-alvo, ampliando o nível de adesão aos planos de benefícios.
E
aquelas que ainda não disponibilizam um plano de previdência? Certamente já é
hora de seguir o caminho das que o fizeram, e que, aliás, possuem quase 94% de
satisfação com os resultados colhidos, segundo pesquisa feita pela GAMA para o
Ministério da Previdência Social, em 2013.
As
razões apresentadas neste artigo somam-se a tantas outras que reforçam um fato
já tão cristalino: criar novos planos e elevar os níveis de adesão são
necessidades de primeira ordem. Ações contundentes precisam ser tomadas, já. A
lista do que pode ser feito sobre este aspecto é extensa e inclui maior
educação previdencial, maior incentivo tributário, novos produtos, evolução das
regras vigentes e assim por diante. Trata-se de um amplo debate, de importância
central para o país.
É
preciso unir forças – Entidades, Empresas, Associações, Governo, população e
todos os demais envolvidos – para fomentar e com isto continuar engrandecendo o
sistema de fundos de pensão, que tantos ganhos trazem a nossa economia e
sociedade.
Guilherme Brum Gazzoni - Administrador, graduado pela Universidade
de Brasília – UNB, Pós-Graduado em Finanças pelo IBMEC, e Especialização em
Entrepreneurship pela Babson College – Boston / Massachussets. É Diretor
Administrativo e Comercial da GAMA Consultores Associados.