Cientistas brasileiros dão aula-show de 3 minutos em competição


Ganha quem explica melhor

·         A tensão percorria a plateia. Na bancada de jurados, olhos e ouvidos atentos aos concorrentes, que tentavam se destacar no palco. Poderia ser apenas mais um show de talentos se ali no alto não estivessem nove cientistas explicando o que tanto fazem dentro de um laboratório.

O desafio era explicar, em apenas três minutos, conceitos científicos para o público geral, não especializado. Os cientistas versaram sobre a acidificação dos oceanos, hiperativação espermática (grosso modo, o processo que dá força para o espermatozoide alcançar o óvulo e fertilizá-lo) e a ciência do esporte. Usaram figurino, truques de luz e muita criatividade para comunicar ciência na final da primeira edição brasileira do "FameLab".

A competição nasceu em 2004 na Inglaterra. Os participantes se inscreveram enviando um vídeo de seis minutos, com uma explicação ligada à sua pesquisa em português e em inglês – o ganhador vai à final internacional, que ocorrerá em junho durante o festival de ciência da cidade de Cheltenhan, conta com 32 países no páreo e será toda na língua inglesa.

Nesta edição, organizada pelo British Council e pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), apenas pesquisadores bolsistas da fundação puderam se inscrever.

A bióloga Ingrid Regina Avanzi, 28, por exemplo, convidou o público a conhecer as bactérias metaleiras, em referência às bactérias capazes de degradar os metais pesados que contaminam rios.

Fios de luz se acenderam nas pernas de Leonardo Coelho Rabello, educador físico, para mostrar quanto de fibra muscular um atleta consegue recrutar em comparação a uma pessoa que não pratica exercícios físicos.

No fim, quem conquistou o coração do público e dos jurados na última quarta-feira (11) foi o matemático Jackson Itikawa, 40. Ele arrebatou a audiência com uma explicação sobre o paradoxo do Hotel de Hilbert, um experimento mental com um hotel de infinitos quartos e infinitos hóspedes, idealizado pelo matemático alemão David Hilbert (1862 - 1943) para lidar com o vasto mundo dos conjuntos infinitos. Era possível ouvir os suspiros da plateia.

"Falando sobre ciência você dá às pessoas a oportunidade de entender melhor o mundo onde elas vivem e de olhar esse mundo de maneira mais crítica", disse.

Após cada apresentação, os jurados faziam uma breve avaliação, questionavam os competidores e davam dicas a eles –bem ao estilo da competição de canto "The Voice".

A competição reacende o debate sobre a necessidade de se fazer divulgação científica acessível. Antes da final, os competidores participaram de uma oficina em comunicação de ciência com Malcom Love, especialista na área que ministra cursos para "Famelabers" pelo mundo.

"O público, de alguma forma, através de impostos ou na compra de produtos, paga pela ciência. As pessoas não podem discutir democraticamente assuntos de ciência quando não conhecem nada sobre o tema", afirmou Love, no dia do workshop.

Aos cientistas que querem melhorar suas habilidades para falar sobre ciência, Love lembra a importância de conversar com pessoas que não são cientistas e tentar se colocar no lugar do ouvinte para perceber como reagem.

"O cientista apaixonado deve desafiar o público a querer entender e a se importar com ciência", encerrou. 

Everton Lopes – editoria de treinamento do jornal FSP

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