As discussões em torno das mudanças na Previdência
oficial provocaram aumento no número de investidores que migraram seus planos
de aposentadoria complementar privada em busca de ganho maior, segundo dados da
Fenaprevi (federação que reúne entidades do setor).
A chamada portabilidade, que é quando o cliente
pede para transferir seus recursos de uma seguradora para outra, cresceu 7,5%
no semestre em relação ao mesmo período do ano passado.
Em volume, o aumento nessa mesma comparação é mais
expressivo: 42,8%, somando R$ 7 bilhões.
O número só não é maior, dizem especialistas,
porque as seguradoras têm feito um trabalho forte para impedir a saída dos
clientes, por meio de contrapropostas. "Há um esforço maior para não
perder o recurso", afirma Raul Morgner, gerente de previdência da
corretora BR Insurance.
"A seguradora acaba postergando a decisão
dele, oferecendo opções, fundos com perfil mais arrojado ou taxa de gestão mais
baixa", diz.
Essa ofensiva ocorre antes que o cliente assine o
termo de portabilidade.
OBSTÁCULOS
Mas há obstáculos colocados no caminho de quem
tenta transferir os recursos e que fazem com que a portabilidade lidere, neste
ano, o ranking de reclamações da Susep, regulador de previdência e seguros.
Segundo a superintendência, foram 506 queixas sobre
o tema, o que corresponde a 31,5% do total.
"Quando o cliente faz a portabilidade, para
quem recebe o dinheiro é ótimo, para quem envia é ruim", afirma Valter
Police Jr., da Planejar (associação de planejadores financeiros).
"Via de regra, tem lugares que tentam
dificultar isso. Precisa de extrato do plano, a seguradora não manda o extrato
e o cliente não leva isso à frente."
Essa dificuldade aumenta conforme cresce o desconhecimento do investidor,
afirma o consultor de investimento Marcelo D'Agosto.
"É fácil quando se sabe o caminho das pedras,
mas a maioria faz um plano que aplica num fundo. Até entender direito onde o
dinheiro está, demora. Tem que reunir o regulamento, achar o CNPJ do fundo. É
difícil", afirma D'Agosto.
TENDÊNCIA
As operações de portabilidade registraram avanço
tímido no ano passado, de apenas 0,6% na comparação com 2015.
Mas a expectativa de queda de juros no país deve
fazer com que os investidores reavaliem seus planos e a rentabilidade deles. A
Selic (taxa básica de juros), que estava em 14,25% ao ano em outubro de 2016,
hoje está em 9,25% e analistas apostam que ela terminará 2017 em 7,25% anuais.
"O brasileiro tem a cultura de conseguir 1% ao
mês, por causa das elevadas taxas históricas. Está mal-acostumado a produtos
com risco maior, mas em pouco tempo vai ver que aquele retorno que ele tinha
não é mais possível", afirma Felipe Bottino, diretor da Icatu Seguros.
INDEPENDENTES
Esse movimentodeve levar muitos clientes que compraram planos de previdência em bancos aprocurar casas independentes, diz André Luís Nascimento, gerente da
gestora Rio Bravo.
"Eles deixavam o dinheiro lá sem olhar.
Estavam no fundo que o gerente indicou, agora estão se perguntando se esse
fundo é o melhor, se não conseguem nada melhor com esse dinheiro", afirma Nascimento.
Em casas independentes, segundo Valter Police Jr.,
o cliente pode escolher entre mais de dez fundos de previdência. Já nos grandes
bancos de varejo esse espectro é bem mais limitado —apesar disso, eles ainda
detêm 92% do patrimônio líquido desse tipo de fundo.
Para Police, o investidor precisa conhecer opções que existem fora do seu banco
para poder tomar uma decisão consciente quanto ao destino de seus recursos.
"Se o cliente conversar com uma
concessionária, o vendedor vai falar que aquele é o melhor carro do mundo. Mas,
se ele for em outra, vai descobrir que existem opções melhores", diz.
MAIS PESQUISA
Mesmo que o cliente não queira portar os recursos,
é interessante olhar para outras opções dentro da própria seguradora, de acordo
com Raul Morgner, da corretora BR Insurance.
"Há uma preocupação da seguradora em oferecer
um portfólio de produtos com cada vez mais opções, seja em renda variável, seja
riscos diferentes na renda fixa. É preciso buscar produtos que ofereçam
condições de renda vantajosas lá na frente", afirma Morgner.
Danielle Brand – jornalista, artigo no jornal
FSP