O Brasil passa por um difícil momento político e econômico. O
Planalto e a Câmara dos Deputados, representados por Dilma Rousseff e Eduardo
Cunha, passam por um período conturbado. A distrito disso, “jogado para
escanteio” o Brasil se desmancha com ameaça de mais desemprego, recessão e fuga
de investimentos.
Essa briga política é uma catástrofe para o futuro dos
brasileiros, causando vários desequilíbrios econômicos. Um dos principais
encontra-se na Previdência Social que, de acordo com estimativa do Tribunal de
Contas da União (TCU), deve encerrar o ano com déficit de R$ 124 bilhões,
números estes desmentidos pela Associação Nacional dos Auditores Ficais da
Receita Federal (ANFIP).
Qualquer investigação técnica mais profunda vai demonstrar o
oposto, pois, o sistema apresenta superávit. O crescimento econômico registrado
nos últimos dez anos trouxe a redução da informalidade e o aumento do número de
empregos formais, o que alavancou a arrecadação previdenciária.
A Previdência Social não tem problemas. Na verdade, ela pode ser
tida como um grande ponto de soluções. Tanto é que quando o governo quer
injetar renda na economia, basta usar o sistema de proteção social.
O gasto com a seguridade social tornou-se impulsionador da
demanda agregada ao ativar diretamente o consumo das famílias. Por ser uma
renda que atende a uma população com elevada propensão a consumir, o valor
provisionado pelos esquemas de proteção social para pessoas doentes,
desempregadas, acidentadas do trabalho, idosos, aposentados e pessoas de baixa
renda, invariavelmente, será gasta de forma integral.
Essa renda é transformada em aquisição de medicamentos,
alimentos, vestuário e outros bens de primeira necessidade que dinamizam a
economia.
Além do gasto com seguridade social, há a necessidade de
ampliação da infraestrutura social, nas áreas de saúde e de assistência social.
O Estado intervém em construção de prédios, compra de equipamento e de insumos
de trabalho e, simultaneamente, na contratação direta de mão de obra para
operar nesses setores. Trata-se, portanto, do gasto social influenciando também
pelo lado da oferta, num mercado onde o principal agente produtor é o Estado.
Tudo isso converge para a inclusão produtiva da população.
Assim, a política social pode se tornar um elemento importante para o aumento
da produtividade do trabalho, fator decisivo para a melhoria da renda do
trabalho e para o crescimento econômico.
Nesse processo de ativação da economia, passa também as
discussões da reforma previdenciária. E, nesse sentido, a idade e o valor das
aposentadorias estão longe de ser os únicos determinantes da carga
previdenciária, como parece ser o entendimento das propostas existentes para
assegurar a sustentabilidade de longo prazo do sistema.
Há alternativas que podem ser utilizadas para qualquer dado
nível de aposentadoria média. Quanto maior o crescimento da renda por pessoa,
quanto maior a taxa de emprego e de produtividade, mais leve será a carga das
aposentadorias.
Esta construção é fundamental para desmistificar o falso alarde
feito sobre o possível rombo que a desaposentação causaria. Ao contrário, ela
pode e deve ser a solução imediata para impulsionar a economia.
O aposentado que, após a concessão da sua aposentadoria,
continua ou retorna ao mercado de trabalho é contribuinte obrigatório da
Previdência. Segundo dados da Advocacia-Geral da União (AGU), esse grupo é
formado por cerca de 700 mil aposentados. No entanto, até o momento, não fazem
jus à majoração do seu benefício em decorrência das novas contribuições.
Para reconhecimento desse direito, milhares de aposentados aguardam
decisão do Supremo tribunal Federal (STF). Também há uma Emenda Aditiva à
Medida Provisória 676/215, incluindo a possibilidade de majoração do benefício
para quem trabalhou após aposentado, no aguardo de sanção da Presidente da
República.
O reconhecimento da desaposentação fomentará a economia.
Aumentará a renda e consumo dos aposentados e, num ciclo virtuoso, a
produtividade do trabalho e a geração de novos empregos, permitindo não só a
expansão das receitas previdenciárias, como também, por efeitos indiretos, o
aumento da capacidade contributiva por meio das receitas incidentes sobre
patamares mais elevados da renda do trabalho e lucros.
A produtividade é uma variável-chave na equação do sistema
previdenciário. Quatro são as explicações. Primeiro, porque o consumo mais
elevado, que decorre do crescimento do número de inativos - e nesses estão
incluídos os beneficiados com a desaposentação -, precisa ser compensado com o
aumento da produção dos trabalhadores ativos.
Segundo, porque o sistema previdenciário está apoiado em
receitas oriundas da massa salarial, dos lucros e do faturamento e, sendo
assim, o crescimento da produtividade é essencial para o aumento da base de
incidência desses tributos.
A terceira explicação resulta dos postos de trabalho do setor
industrial que, por serem de mais elevada produtividade, formalizados e de
remuneração mais alta, funcionam como farol para o resto da economia.
Salários mais altos e maior estabilidade do emprego reforçam o
fundo previdenciário e aumentam a cobertura. E, por fim, a elevação da
produtividade média é decisiva numa conjuntura como a brasileira, de
recuperação do poder de compra do salário mínimo e aumento do salário médio,
para que não se agrave o conflito distributivo entre lucros e salários e não
resulte em elevação dos preços.
A queda da margem de lucros, por sua vez, cria pressão por
correção de preços, premência pela redução dos custos do trabalho, insistência
pelo aumento da jornada de trabalho e apelos por reformas trabalhistas e
previdenciárias que reduzam direitos sociais.
Por todos esses fatores, é claro observar o poder da
desaposentação em alavancar a economia e contribuir ativamente para os cofres
da Previdência Social. O Brasil precisa caminhar a passos largos para frente,
deixar de aplicar políticas restritivas e implementar, cada vez mais, a
inclusão social, diminuindo o número de desempregos e do trabalho informal.
Está aí um dos caminhos de superação da crise pela qual passa hoje o país.
Murilo Aith - sócio do escritório Aith, Badari
e Luchin Sociedade de Advogados