Sair do
vermelho exige determinação e uma grande mudança nos hábitos de consumo.
A situação está fora do controle. O malabarismo de esticar o
salário, pagar a parcela mínima da fatura do cartão de crédito e usar o limite
do cheque especial esperando o próximo salário chegar não funciona mais. Mario
perdeu a batalha para os juros; a dívida aumenta apesar dos pagamentos que faz,
insuficientes para amortizá-la.
A breve e passageira sensação de euforia e prazer do consumo
compulsivo é rapidamente substituída por sentimento de culpa, ansiedade e
angústia. Noites mal dormidas, baixa produtividade no trabalho e conflitos no
relacionamento familiar são alguns efeitos colaterais que agravam ainda mais a
situação da crise financeira.
Mario não sabe por onde começar, mas o passo mais importante já
foi dado: tomou a decisão de mudar, começar de novo. Mudar hábitos de consumo,
abrir mão de pequenos prazeres, cortar excessos, pensar antes de gastar são
etapas de um processo pelo qual terá de passar para encarar a nova realidade.
Passo 1 - Mudar os hábitos: o primeiro passo para solucionar
esse problema é parar de fazer o que está errado. Procure identificar e
estancar o vazamento. Pare de transferir riqueza para o mercado e pense mais em
si mesmo. Passeios ao ar livre podem substituir visitas ao shopping;
restaurantes perdem espaço para a boa e saudável comida caseira; cancele os
plásticos e pague tudo em dinheiro; simplifique e aprenda a viver com menos.
Passo 2 - Reduzir despesas: não é possível reduzir se não existe
controle. Liste todas as despesas da família, as necessárias, fixas e
variáveis, e as supérfluas, fáceis de serem reduzidas ou eliminadas. A
quantidade de dinheiro é finita, e as despesas precisam de limites. O exercício
de escolha será permanente --para ter uma coisa, será preciso abrir mão de
outra. Não se esqueça das pequenas despesas, as que nem são anotadas --em
conjunto, fazem um grande estrago nas suas finanças.
Mario descobriu, depois de fazer as contas na ponta do lápis,
que as despesas mensais e anuais do carro consomem mais de 30% do dinheiro que
recebe todos os meses. Tem alguma coisa muito errada nessa equação! O dinheiro
que o carro engole poderia ser usado para morar melhor, educar melhor, viver
melhor. Passar alguns meses sem o carro vai ajudar Mario a reequilibrar suas
finanças e repensar suas prioridades.
Passo 3 - Aumentar a renda: só há duas formas de recuperar o
equilíbrio financeiro: gastando menos ou ganhando mais. Se for possível
combinar as duas coisas, o resultado virá bem mais rápido. Mario acha que pode
aceitar trabalhos para executar no período noturno e nos finais de semana.
Outra forma de aumentar o caixa é vender coisas que tenham
valor. Volto ao carro, meu exemplo favorito. O dinheiro obtido com a venda do
veículo pode ser usado para reduzir as dívidas, além de reduzir muito o
orçamento da família a partir do mês seguinte. O dinheiro que antes faltava vai
começar a aparecer.
Passo 4 - Envolva a família: sozinho, sem a participação da
mulher e dos filhos, Mario não será capaz de reverter a crise financeira que o
atormenta. Os fatos precisam ser compartilhados com todos os membros da
família. Muitas vezes, a tentativa de poupar os entes queridos acaba agravando
a situação e patrocina a percepção de uma falsa realidade. Aprender a viver
dentro dos limites, éticos e financeiros, é um aprendizado valioso.
Passo 5 - Renegocie as dívidas: procure os credores para uma
conversa séria, afinal, o problema é deles também. Mario precisa se organizar,
planejar e demonstrar ao credor como pretende saldar os compromissos assumidos.
O credor, que tem todo o interesse de receber de volta o dinheiro que
emprestou, precisa oferecer novas condições de prazo e juros, para viabilizar o
pagamento da dívida.
Passo 6 - Planejamento financeiro: esse é o caminho! Pague a
você em primeiro lugar e separe parte da sua renda para formar uma reserva
financeira, necessária para emergências. Nunca gaste mais do que você ganha e
pare quando o dinheiro acabar; os limites do cartão de crédito e do cheque
especial não fazem parte de sua renda! Aprenda a dizer não e gaste somente com
coisas que têm importância e significado na sua vida.
Marcia Dessen - planejadora financeira pessoal,
diretora do IBCPF (Instituto Brasileiro de Certificação de Profissionais
Financeiros) e autora do livro "Finanças Pessoais: o que fazer com meu
dinheiro" (Trevisan Editora, 2014).
Fonte: jornal FSP