Professores e alunos são tratados como peões de xadrez na educação

Escola estadual Antonio Vieira de Souza, em Guarulhos, na Grande São Paulo

Mais uma vez, como costuma acontecer na educação, alunos e professores foram ignorados nas propostas de mudança para o ensino médio contidas na medida provisória do atual governo.

Aliás, entra governo, sai governo, entra um século novo, passa outro, e continuamos tratando alunos e professores como os peões no jogo de xadrez que é a educação escolar: estão lá em maior número, mas são peças menores, com movimentos muito restritos.

Esta é a visão da educação formal adotada em nosso país, tanto em escolas públicas quanto privadas: dar voz a professores e alunos não é cogitado. De vez em quando, uma escola aqui, outra acolá realizam reuniões regulares com professores e os ouvem verdadeiramente, permitindo que influenciem os rumos tomados pela instituição.

Mas esse fato ainda é raro: muitas reuniões até são realizadas por um grande número de escolas, mas são apenas instrumentos burocráticos para levar o professor a acreditar que ele realmente é participante ativo do processo escolar. Não é, e os professores sabem muito bem disso.

Hoje quero dedicar minhas reflexões aos alunos, principalmente os que estão prestes a cursar o ensino médio e os que já nele estão. Você já deve ter ouvido falar, caro leitor, daqueles jovens que muitos discursos, de organizações educacionais, inclusive, chamam de protagonistas e afirmam lhes dar autonomia, não? Pois saiba que de protagonismo e autonomia, em suas vidas escolares, pouco –quase nada– eles têm.

A nova proposta em curso "parece" oferecer essas duas condições a eles, mas é ilusão. Como um aluno que, durante todo o ensino fundamental, foi comandado e teve de ter postura passiva em seu processo escolar pode, ao entrar no ensino médio, fazer suas escolhas?

Ora, autonomia não se ganha: conquista-se. E isso acontece em um processo em que haja ofertas graduais de condições para que os alunos caminhem, passo a passo, rumo ao estado de poder fazer boas escolhas, ou seja, pensadas, ponderadas, informadas. Se hoje os alunos que terminam o ensino médio já sofrem para escolher um curso universitário, imagine, caro leitor, o que acontecerá com o aluno iniciante!

Sim, temos jovens autônomos, mas isso se deve principalmente às famílias e a eles mesmos. A escola pouco tem oferecido para que eles a conquistem!

E o que dizer, então, do período integral na escola? Todos os que se dedicam aos estudos sobre adolescentes sabem que há aspectos importantes em sua formação que têm sido negligenciados pela escola. Um deles é o processo de socialização, e outro é o de desenvolvimento emocional. A escola não quer saber disso, ou não está preparada para trabalhar essas questões, mas o fato é que os jovens, na escola, ficam à mercê de seus impulsos, caprichos, egoísmo etc.

Não é à toa que temos um grande número de brigas físicas, confrontos e assédios de todos os tipos entre os alunos na escola: eles estão abandonados. Como a escola em período integral exige um projeto elaborado que contemple essas questões, o que dificilmente ocorrerá, podemos antecipar que os problemas entre os alunos, e destes com os professores, aumentarão.

Por que não levamos a sério os nossos jovens? Por que não os ouvimos a respeito dos rumos da sua vida escolar? Por que não aprendemos nada com as ocupações que realizaram?

Rosely Sayão - Psicóloga e consultora em educação, fala sobre as principais dificuldades vividas pela família e pela escola no ato de educar e dialoga sobre o dia a dia dessa relação.

Fonte: coluna jornal FSP

Tel: 11 5044-4774/11 5531-2118 | suporte@suporteconsult.com.br