Aliás, entra governo, sai governo, entra um século
novo, passa outro, e continuamos tratando alunos e professores como os peões no
jogo de xadrez que é a educação escolar: estão lá em maior número, mas são
peças menores, com movimentos muito restritos.
Esta é a visão da educação formal adotada em nosso
país, tanto em escolas públicas quanto privadas: dar voz a professores e alunos
não é cogitado. De vez em quando, uma escola aqui, outra acolá realizam
reuniões regulares com professores e os ouvem verdadeiramente, permitindo que
influenciem os rumos tomados pela instituição.
Mas esse fato ainda é raro: muitas reuniões até são
realizadas por um grande número de escolas, mas são apenas instrumentos
burocráticos para levar o professor a acreditar que ele realmente é
participante ativo do processo escolar. Não é, e os professores sabem muito bem
disso.
Hoje quero dedicar minhas reflexões aos alunos,
principalmente os que estão prestes a cursar o ensino médio e os que já nele
estão. Você já deve ter ouvido falar, caro leitor, daqueles jovens que muitos
discursos, de organizações educacionais, inclusive, chamam de protagonistas e
afirmam lhes dar autonomia, não? Pois saiba que de protagonismo e autonomia, em
suas vidas escolares, pouco –quase nada– eles têm.
A nova proposta em curso "parece"
oferecer essas duas condições a eles, mas é ilusão. Como um aluno que, durante
todo o ensino fundamental, foi comandado e teve de ter postura passiva em seu processo
escolar pode, ao entrar no ensino médio, fazer suas escolhas?
Ora, autonomia não se ganha: conquista-se. E isso
acontece em um processo em que haja ofertas graduais de condições para que os
alunos caminhem, passo a passo, rumo ao estado de poder fazer boas escolhas, ou
seja, pensadas, ponderadas, informadas. Se hoje os alunos que terminam o ensino
médio já sofrem para escolher um curso universitário, imagine, caro leitor, o
que acontecerá com o aluno iniciante!
Sim, temos jovens autônomos, mas isso se deve
principalmente às famílias e a eles mesmos. A escola pouco tem oferecido para
que eles a conquistem!
E o que dizer, então, do período integral na
escola? Todos os que se dedicam aos estudos sobre adolescentes sabem que há
aspectos importantes em sua formação que têm sido negligenciados pela escola.
Um deles é o processo de socialização, e outro é o de desenvolvimento
emocional. A escola não quer saber disso, ou não está preparada para trabalhar
essas questões, mas o fato é que os jovens, na escola, ficam à mercê de seus
impulsos, caprichos, egoísmo etc.
Não é à toa que temos um grande número de brigas
físicas, confrontos e assédios de todos os tipos entre os alunos na escola:
eles estão abandonados. Como a escola em período integral exige um projeto
elaborado que contemple essas questões, o que dificilmente ocorrerá, podemos
antecipar que os problemas entre os alunos, e destes com os professores,
aumentarão.
Por que não levamos a sério os nossos jovens? Por
que não os ouvimos a respeito dos rumos da sua vida escolar? Por que não
aprendemos nada com as ocupações que realizaram?
Rosely Sayão - Psicóloga e consultora em educação, fala
sobre as principais dificuldades vividas pela família e pela escola no ato de
educar e dialoga sobre o dia a dia dessa relação.
Fonte: coluna jornal FSP