Como envelhecer bem?
Saiba o que fazer para garantir qualidade de vida
no futuro.
Mudanças no estilo
de vida e no comportamento promovem autonomia e independência na velhice; leia
newsletter Cuide-se
Quer chegar bem aos cem? Comece já. Foi o que me disse o
médico gerontólogo Alexandre Kalache, presidente do Centro Internacional de Longevidade
Brasil (ILC-BR).
O envelhecimento nada mais é do que o curso da vida, afinal você
começa a envelhecer desde que nasce.
Por isso, de acordo com Kalache,
envelhecer bem significa "acrescentar não só mais anos à vida, mas
também mais vida aos anos".
E essa definição se relaciona com ter autonomia para
fazer suas próprias escolhas e independência para executá-las,
complementa Diego Felix, professor e presidente do departamento de gerontologia
da SBGG-SP (Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia).
A velhice está muito além do fator saúde-doença e envolve outros aspectos. Por
isso, a edição de hoje explica o que jovens e adultos podem fazer para garantir
mais qualidade nesse processo.
Somente 25% da sua chance de envelhecer bem depende
do que você herdou geneticamente, de acordo com Kalache, e 75% está
condicionada a fatores ambientais —estilo de vida, acesso à saúde e a outros
direitos, determinantes econômicos...
Então, falar em envelhecimento ativo, em vez de
saudável, é mais adequado, defende o gerontólogo.
↳ "As pessoas
acham que envelhecimento saudável é a ausência de doenças. À medida que a gente
envelhece, vamos cair na realidade: a chance de ter hipertensão, diabetes ou
problema osteomuscular aumenta."
Há quatro pilares que permitem que você continue ativo na
sociedade, apesar da idade e de uma enfermidade. São eles: saúde, conhecimento,
capital social (relacionamentos e participação na sociedade) e segurança
financeira.
Ok, mas como trabalhar eles? Veja o que os especialistas indicam para quem quer
investir na boa velhice:
Tenha uma alimentação saudável, faça exercícios e não fume
Sim, você provavelmente já sabe disso. Evite alimentos ultraprocessados e dê
preferência a frutas, legumes, vegetais, oleaginosas, grãos etc.
Saia do
sedentarismo e pratique atividade física regularmente —a OMS (Organização
Mundial de Saúde) recomenda no mínimo 150 minutos por semana. Não fume e
evite beber álcool.
Controle os níveis de estresse
Grandes cidades criam ambientes que propiciam o estresse: poluição do ar e
sonora, tempo excessivo no transporte público...
Reflita se você pode gerenciar parte desse estresse, principalmente
relacionado ao trabalho, por exemplo, estabelecendo limites entre a vida
pessoal e a profissional.
Estimule relações sociais e afetivas
Não mantenha contato direto somente com as pessoas com quem você vê diariamente
no trabalho, orienta Felix. Identifique as pessoas que te apoiam emocionalmente
—e também financeira e socialmente— e faça um esforço para manter viva essa
rede de suporte.
Mantenha vivos os seus projetos de vida
Pense no que quer estar fazendo daqui a dez ou vinte anos e faça planos.
"Planejar a vida ao longo do envelhecimento torna o processo mais
prazeroso [...]
E garante o brilho nos olhos para seguir novos caminhos e fazer
descobertas nesse período da vida", explica o especialista da SBGG-SP.
Tenha contato com a velhice
Mas não com a das novelas e dos filmes.
Ter contato com as velhices reais, que
estão próximas a nós, é uma das formas de romper com o medo do envelhecimento,
se inspirar e refletir sobre o que queremos e não queremos para o futuro,
explica Felix.
Prepare-se financeiramente
"Dinheiro não resolve tudo, mas ajuda [...]
Hoje, aos 60 anos, você ainda
vai viver um terço de sua vida", diz Kalache. Tente poupar dinheiro para o futuro, visando manter
o nível de vida com o qual você estava acostumado antes da aposentadoria.
Encare o envelhecimento com os pés no chão
Você não vai conseguir fazer aos 75 o que fazia com facilidade aos 25,
argumenta o gerontólogo.
Não espere, nem deseje isso. E tenha clareza do
contrário também: à medida em que envelhece, você ganha experiência e
conhecimento para agir diferente de como agiria 50 anos antes.
Não internalize o preconceito
"No Brasil, o velho é sempre o outro, não tem nada a ver comigo. Aos 63,
75, 80, eu não me vejo velho e não quero que ninguém me veja velho.
Então,
entro em esquemas para que não demonstrar a idade que tenho, como se isso fosse
inadequado", diz Kalache.
Assim, dentro de nós, a velhice torna-se demonstração de falha e inadequação.
Barrar o idadismo é o primeiro passo para um olhar
diferente para o envelhecimento.
Essa mudança, que envolve estilo de vida e
comportamento, deve começar o quanto antes. Aos 20 anos de idade, você terá
mais lucros do que quem começou aos 30, 40 ou 50.
Mas nunca é tarde: a mudança sempre vai trazer ganhos.
↳ É sedentário aos
68 anos? Não é tarde demais. Você vai precisar de força muscular, nem que seja
para sair da cama daqui dez anos.
↳ Fuma aos 50?
Parar pode evitar a progressão de um enfisema pulmonar ou até garantir uma
melhora.
"Comece a rever seu estilo de vida e seus comportamentos. Isso dá chance
de você recuperar ou, pelo menos, estancar o declínio da sua capacidade
funcional e ganhar anos de qualidade de vida", explica Kalache.
Gabriela Bonin – repórter, jornalista pela USP (Universidade de
São Paulo).