Uma agenda de tecnologia para o Brasil
País
precisa de uma agenda incisiva para buscar desenvolvimento.
Qualquer país que busca o desenvolvimento precisa
decidir o que quer da tecnologia. A razão é que, hoje, para se
desenvolver é preciso participar da economia do conhecimento.
Não dá para viver só
da natureza. É preciso viver de ideias, grandes e pequenas. Especialmente
porque a economia do conhecimento deve ser acessível a todos.
Nesse contexto, a agenda brasileira tem de ser
incisiva. O primeiro elemento é criar uma política nacional de dados.
Os dados públicos são um dos maiores ativos
do país para fomentar a inovação. É preciso colocá-los para gerar
riqueza e processos de inteligência.
Vou dar um exemplo. O país tem a nota fiscal eletrônica, que é uma conquista em
si impressionante. No entanto, os dados gerados por esse sistema não são usados
em todo seu potencial.
Analisando o agregado das notas fiscais do país
seria possível medir a atividade econômica de forma granular.
Entender quais
setores estão decolando, formação de preços, movimentos da demanda e da oferta,
competitividades regionais e assim por diante.
Esses dados, se bem modelados e tratados, poderiam
transformar o país em uma potência de inteligência produtiva, criando
forças capazes inclusive de fomentar desenvolvimento local.
Essa é uma aplicação poderosa. Uma política
nacional de dados pode ir muito além. Ela deve olhar os dados públicos como o
principal insumo existente no país para a inovação.
Desenvolvendo mecanismos de acesso, seja na forma
de APIs abertas, sandboxes e outros modelos ágeis de
parcerias público-privadas.
Acesso a dados em si têm tanto poder de desencadear
processos de inovação quanto capital intensivo. Precisamos acordar para isso,
não temos tempo a perder.
Além de uma política nacional de dados, a agenda é
ampla. O 5G precisa ser aplicado em atividades de
grande escopo, como indústria 4.0, administração das cidades, no setor de saúde
e na conexão de todas as escolas públicas do país com banda larga de primeira
qualidade.
Se o 5G ficar orbitando apenas consumidores individuais mais ricos
das grandes cidades, vamos falhar miseravelmente. Nesse caso teria sido mais
barato ficar com o 4G e
aguardar a próxima onda.
Fomentar GovTech é também essencial. É preciso
transformar o setor público em plataforma digital. Inclusive com a criação de
uma identidade digital verdadeira e gratuita para todos os cidadãos e cidadãs.
O país precisa decidir também o que quer fazer com a transição energética.
Como balancear as riquezas fósseis do território
brasileiro com uma transição para eletricidade, baterias e fontes renováveis.
Nosso futuro de longo prazo vai depender desse balanceamento inteligente.
Precisamos também migrar para um agro de fundamento
científico. O país não pode se contentar apenas em ser competitivo na ponta da
produção.
É preciso competir em patentes agrícolas, em cultivares e nos insumos
protegidos por propriedade intelectual. Idealmente, trabalhar a partir da Embrapa para que exista uma Syngenta brasileira, só que com base no
contexto local e com sustentabilidade.
O agro precisa migrar cada vez mais para
o lado inteligência produtiva.
Por fim, mas não menos importante, retomar nossa
soberania digital, para que não sejamos só consumidores ou vítimas dos avanços
tecnológicos produzidos fora do país.
Para isso, é essencial pensar em parcerias
internacionais, não apenas com EUA e Europa, mas com China e Índia. Tudo isso é
possível.
Nosso dever como pais é juntar conhecimento, conectividade e
infraestrutura para fomentar a economia do conhecimento para todos e todas.
RONALDO LEMOS - Advogado, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de
Janeiro.