Previdência
Complementar: Diagnóstico e Oportunidades
A previdência complementar constitui um pilar importante para a
construção da segurança financeira a longo prazo, especialmente em um país como
o Brasil, onde as transformações demográficas e econômicas desafiam a
sustentabilidade do regime geral de previdência social.
Operando em dois
segmentos principais — as Entidades Fechadas de Previdência Complementar (EFPC)
e as Entidades Abertas de Previdência Complementar (EAPC) —, o setor atrai
tanto trabalhadores formais quanto investidores individuais em busca de maior
previsibilidade financeira na aposentadoria.
No
terceiro trimestre de 2024, o número total de planos no segmento fechado
alcançou 1.141, refletindo uma leve expansão em relação ao trimestre anterior.
Adicionalmente, o crescimento do número de patrocinadores, que subiu de 4.205
para 4.238, reflete a adesão de novos entes municipais e estaduais, incentivada
pelas exigências da Emenda Constitucional nº 103/2019.
A
população atendida pelas EFPC é composta por participantes ativos, aposentados
e pensionistas. Em 2024, o índice de maturidade dos planos fechados ficou em
22%, indicando predominância de ativos em fase de acumulação de reservas.
Nas
EAPC, esse índice é significativamente menor, apenas 0,6%, devido à
predominância de participantes jovens em planos individuais. Em termos de
gênero, as mulheres representam 38% nos planos fechados e 45% nos abertos,
evidenciando um equilíbrio crescente.
A
transição para modelos de Contribuição Definida (CD) e Contribuição Variável
(CV) é uma tendência consolidada. Esses planos agora abrangem 90% dos
participantes ativos nas EFPC, enquanto os tradicionais planos de Benefício
Definido (BD) estão em extinção devido aos elevados custos atuariais e desafios
de sustentabilidade financeira.
Planos familiares e setoriais vêm ganhando
destaque, impulsionando o aumento da população coberta e reduzindo custos
administrativos por meio de economias de escala. Essa evolução reflete a
demanda por soluções previdenciárias mais flexíveis e inclusivas.
O volume de ativos do RPC atingiu R$ 2,91 trilhões, equivalente
a 25% do PIB nacional, com crescimento de 10% em relação ao ano anterior. Nas EFPC,
57% do patrimônio está concentrado em planos BD, enquanto os planos CD e CV
cresceram 12% e 9,6%, respectivamente. Entre as EAPC, produtos VGBL dominam com
80% dos ativos.
A
solvência dos planos BD segue como um dos maiores desafios para o setor. No
terceiro trimestre de 2024, 437 planos apresentaram superávit acumulado de R$
31,04 bilhões, enquanto 258 planos registraram um déficit de R$ 30,25 bilhões.
Apesar do saldo líquido positivo, a natureza de longo prazo dos compromissos
exige monitoramento constante.
A
elevação da taxa Selic para 10,75% favoreceu os investimentos em renda fixa,
que representam 80% dos ativos das EFPC. Este desempenho, aliado à leve
recuperação do mercado de ações, contribuiu para estabilizar os resultados
financeiros no período.
O envelhecimento populacional exige ajustes nas tábuas
atuariais, refletindo maior expectativa de vida. Além disso, a adoção de
modelos de projeção mais robustos se faz necessária para garantir a
sustentabilidade dos planos.
Em
termos globais, o Brasil segue as boas práticas ao diversificar produtos e
adotar mecanismos de regulação mais eficazes. Modelos europeus, como os fundos
de pensão holandeses, oferecem exemplos valiosos de gestão ativa de riscos,
enquanto o mercado norte-americano destaca a importância da educação financeira
para aumentar a adesão aos planos.
A
análise do Relatório Gerencial de Previdência Complementar (RGPC) confirma que
as Entidades Fechadas de Previdência Complementar (EFPC) continuam
desempenhando um papel vital no fortalecimento do sistema previdenciário
brasileiro, com ativos que representam uma parcela significativa do PIB
nacional.
O crescimento dos ativos, aliado à diversificação de produtos como os
planos familiares e multipatrocinados, reflete um mercado que busca se adaptar
às necessidades dos participantes e às exigências regulatórias, enquanto
promove ganhos de eficiência.
O
sucesso do setor complementar dependerá da capacidade das lideranças em
antecipar tendências, gerenciar riscos e oferecer valor consistente aos
participantes. Ao adotar uma abordagem proativa e colaborativa, o setor poderá
não apenas superar desafios imediatos, mas também solidificar sua posição como
um dos pilares mais importantes da segurança financeira no Brasil.