Oito ligações para a mesma pessoa, no mesmo dia, de
telefones com números ou DDDs diferentes, para vender um determinado produto ou
serviço parecem um absurdo até para o Brasil, em que o telemarketing não
obedece às noções mais elementares de respeito ao consumidor.
Pois isso já aconteceu comigo e com pessoas
próximas, que têm recebido chamadas telefônicas durante o dia, à noite ou
também em finais de semana.
Nós bloqueamos números no smartphone, mas eles
continuam tentando por meio de novas ligações do mesmo DDD ou de outros
Estados.
A impressão é que os call centers têm sistemas que
simulam números e que discam em cascata para cumprir as metas de seus colaboradores.
Para o consumidor, é uma tortura que se repete quase diariamente.
No passado, ironizávamos a chamada
"fidelização", o cerco ao cliente para vender de qualquer jeito. Pois
era muito mais suave do que se verifica agora.
As empresas terceirizadas que vendem para
operadoras de telecomunicações e bancos não respeitam o consumidor e tentam nos
empurrar pacotes de TV por assinatura, contratos de telefonia e produtos
bancários com uma sem-cerimônia que nos irrita e até assusta.
É também evidente que a atual e longa recessão
econômica brasileira apimentou essa relação, transformando-a em uma espécie de
"vale-tudo comercial".
Em lugar de bordoadas e pontapés, esse marketing
apela para assédio comercial, viola as mais comezinhas normas de civilidade e
provoca repúdio a determinadas marcas famosas.
Para se defender, recomenda-se que você instale
aplicativos para bloquear chamadas de telefones e SMS desconhecidos ou
cadastrados em uma lista especial.
Também é possível bloquear chamadas de
telemarketing mediante cadastro nos Procons de vários Estados, como São Paulo,
Minas Gerais, Espírito Santo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Goiás
e Alagoas.
Uma lei federal poderia tornar obrigatório esse
serviço em todos os Estados, para ser executado pelos Procons, unificando as
legislações já existentes.
Além disso, deveria ser criado um ranking de
empresas que mais geram reclamação por abusos no telemarketing, para exposição
em meios de comunicação e redes sociais.
O consumidor também pode se precaver não atendendo
ligações de números desconhecidos.
Empresas de vendas usam sistemas que discam para
milhares de telefones.
Quando alguém atende, aumenta a probabilidade de
que o número do seu telefone seja incluído em uma lista de telemarketing. Ou
seja, que passe então a receber mais ligações de televendas.
Um lembrete às empresas que se utilizam desse
expediente de marketing destrutivo (muito pior do que o agressivo): os
brasileiros estão mais conscientes de seus direitos e não toleram mais
corrupção, desrespeito e invasão de privacidade.
O Código de Defesa do Consumidor, uma das melhores
legislações de consumo do mundo, está em vigor desde 1991, portanto já há uma
geração que viveu integralmente sobre a proteção do CDC.
Espero que o Ministério Público, órgãos de defesa
do consumidor e autoridades em geral dediquem especial atenção a este absurdo
assédio comercial.
Chega de invadir nossos lares com ligações
indesejadas!
Maria inês Dolci - advogada,
especialista em direitos do consumidor. especializou-se em direito empresarial
na Coral Gables University (Estados Unidos).
Fonte: coluna jornal
FSP