A confiança dos consumidores é uma moeda vital para toda grande
empresa na internet, fato que ajuda a explicar por que os gigantes do Vale do
Silício se dão ao trabalho de mostrar que estão resistindo bravamente ao
monitoramento por parte do governo.
As empresas já lançaram comunicados cáusticos sobre o assunto e
estão divulgando relatórios que enumeram quantas vezes órgãos policiais pediram
dados sobre usuários. Várias delas, como Facebook e Google, moveram ações na
Justiça para poder revelar mais sobre ordens governamentais secretas.
Ao mesmo tempo, porém, está ficando mais e mais difícil ocultar
uma contradição central. O setor da internet acumulou um tesouro de dados
pessoais para agências governamentais garimparem. Nas palavras do economista
comportamental Alessandro Acquisti, ela construiu "a estrutura concreta da
espionagem eletrônica".
Cinco meses depois de o ex-técnico da Agência de Segurança
Nacional (NSA) Edward J. Snowden ter levado a público documentos que detalham a
espionagem feita pela agência, o setor da internet apenas aguçou seus esforços
para rastrear usuários, algo que vê como essencial para sua rentabilidade. A
publicidade seletiva, baseada no comportamento dos internautas, é a principal
fonte de renda de uma multidão de empresas on-line.
O Google anunciou recentemente planos para usar nomes, fotos e
posts de usuários para promover produtos em anúncios na web. O Facebook ampliou
suas buscas e fez com que fique mais difícil o usuário se esconder de
desconhecidos. Redes de publicidade digital estão desenvolvendo maneiras novas
e sofisticadas de rastrear consumidores. O Twitter formou uma parceria com uma
empresa que monitora se anúncios no microblog afetam o que as pessoas compram
off-line.
É claro que existe uma diferença entre monitoramento
governamental e rastreamento comercial.
Executivos do setor dizem que a distinção fundamental é que as
empresas que atuam na web não têm o poder de processar ninguém, como podem
fazer os órgãos policiais. Em vez disso, disse o capitalista de investimentos
Michael Moritz, o setor está tentando descobrir os gostos e as preferências dos
usuários.
"Se você for ao cerne dessas companhias, verá pessoas que
procuram garantir que seus produtos e serviços tenham a maior utilidade
possível para os consumidores", disse.
Espere aí, retrucam os críticos. A coleta de dados para fins
comerciais encerra seus próprios perigos. Posts feitos no Twitter ou no
Facebook podem afetar o ingresso em faculdades ou as perspectivas de emprego
das pessoas. A própria coleta de dados cria um imenso banco de informações que
pode ser garimpado pelos órgãos de inteligência.
Desde que começaram os vazamentos de informações sobre a NSA,
várias companhias divulgaram relatórios revelando a frequência com que governos
do mundo afora buscam dados sobre usuários. Os próprios números são
reveladores: o Facebook recebeu pedidos ligados a mais de 20 mil contas no
primeiro semestre de 2013, a Microsoft a mais de 31 mil contas e o Yahoo! a
mais de 40 mil contas.
Facebook, Google, LinkedIn, Microsoft e Yahoo! moveram ações num
tribunal secreto dos EUA pedindo permissão para revelar os pedidos de dados
pelas leis de segurança nacional.
As empresas querem mostrar que os pedidos afetam uma parcela
relativamente pequena de seus usuários.
"A resposta do governo foi: 'Não se preocupem, não estamos
espionando americanos'", disse Mark Zuckerberg, presidente do Facebook e
crítico do programa da NSA.
"Maravilha, isso é realmente útil para empresas que querem
servir a pessoas em todo o mundo. Isso vai realmente inspirar confiança nas
empresas americanas que atuam na internet."
Somini Sengupta –
jornalista do New York Times
Fonte: NYT