O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central
procurou transmitir a mensagem, em ata de sua ultima reunião,
divulgada ontem, que os resultados no combate ao avanço de preços
na economia são insuficientes e que ainda existe trabalho a ser feito
pela política monetária. O mote da autoridade monetária é manter
a “determinação” e “perseverança”. O Valor apurou que, na visão do
BC, são “prematuras” discussões sobre um eventual corte na taxa básica de
juros, num momento em que a sua avaliação é de que o cumprimento da meta
de 4,5% não está assegurado.
O mercado hoje conta com
um eventual início de um ciclo de distensão monetária a partir de janeiro. Mas
o que o BC mostrou, por meio de resultados de seus modelos de projeção
apresentados na ata, é que a trajetória de inflação no cenário de mercado
(com menor perseverança e vigilância da política monetária) não se aproxima
da meta, pelo menos com o conjunto de informações hoje
disponíveis. Apesar disso, as avaliações colhidas ontem dentro do Banco
Central são de que os analistas do mercado compreenderam bem a
mensagem da ata. Um dos pontos realçados no documento é que, no manejo da
política monetária, o Banco Central olha o que estão dizendo os seus próprios
modelos sobre a evolução da inflação.
Mas o BC, segundo
apurou o Valor, também quer ter certeza de que a inflação se situará onde
estão apostando as suas projeções. Além disso, o Banco Central também está
expressando, na ata, que não considera suficientes os progressos obtidos
até agora na redução das expectativas de inflação do mercado de 2016, que têm
se mantido estáveis. O conjunto dessas variáveis modelos do BC e comportamento
das expectativas de inflação mostra que a política monetária tem que
permanecer vigilante.
Na visão da autoridade
monetária, é muito importante que a sociedade entenda que o seu banco
central está determinado a cumprir a tarefa para o qual foi mandatado
de trazer a inflação para a meta ao fim de 2016. Ontem, o
entendimento dominante do mercado foi que o Banco Central ainda não terminou o
ciclo de aperto monetário; que autoridade monetária deixou portas abertas
para movimentos tanto de 0,25 ponto percentual quanto de 0,5 ponto
percentual em junho; e sinalizou que não está disposto a voltar a baixar a
Selic tão cedo.
O recado de que o ciclo
de aperto monetário não terminou é bastante explícito num trecho
reproduzido de atas anteriores em que avisa que “os avanços no
combate à inflação ainda não se mostram suficientes”. O Copom deixa mais
de uma porta aberta para os seus próximos movimentos de política monetária no
mesmo parágrafo, o de número 31. Ele começa reconhecendo que o cenário de
convergência da inflação à meta no fim de 2016 tem se fortalecido, mas
pondera que os avanços ainda não são suficientes.
O Valor apurou que, em
versões anteriores da ata, esse parágrafo foi escrito com um início “dovish”
para indicar a possibilidade de uma alta de juros de apenas 0,25 ponto
percentual. Mas terminou de forma mais “hawkish” para sinalizar que uma
alta de 0,5 ponto percentual também era considerada. Discursos de
autoridades do BC, nas semanas seguintes, acabaram moldando as apostas do
mercado em torno de uma alta de 0,5 ponto percentual. No ano passado,
quando parou de subir os juros e declarou explicitamente que pretendia
mantê-los estáveis, o BC usou a palavra “vigilante” para avisar que
voltaria a subi-lo, se fosse necessário. Como, de fato, fez a partir
de outubro de 2014.
O Copom havia eliminado,
em janeiro deste ano, a menção de que a política monetária deveria se
manter “especialmente vigilante” do parágrafo que dá sua estratégia
central para a alta de juros. O “especialmente” indicava claramente a
intenção de fazer movimentos de 0,5 ponto. Naquele mês, o Copom adotou a
frase que começa num tom moderado e termina conservadora, abrindo o
leque teórico de opções entre 0,25 ponto percentual e 0,5 ponto
percentual, embora no fim das contas os movimentos acabaram sendo mesmo de
0,5 ponto.
Com algumas adaptações,
a palavra “vigilante” foi incorporado apenas ao discurso de autoridades do BC
em pronunciamento públicos (para ser rigoroso com os fatos, “especialmente
vigilante” nunca deixou o paragrafo 21 da ata, mas esse é um trecho
secundário do documento). “Irei me dedicar à condução da política
monetária, que foi, está e continuará vigilante”, disse o presidente do
BC, Alexandre Tombini, em abril. Há algum tempo, portanto, Tombini está
avisando que o Copom não tem intenção de baixar a guarda.
Na ata, o Copom também
evita fazer muita festa em torno de eventuais progressos no cenário
inflacionário. Sua projeção de inflação para 2016, por exemplo,
manteve-se estável no cenário de referência e se elevou no cenário
de mercado, comparado aos percentuais que o BC havia encontrado na ata de
março. É bem possível que essas diferenças se devam à depreciação cambial
ocorrida entre março e abril. Alguns analistas econômicos acham que, hoje,
depois de mais uma alta de juros, os modelos do BC já apontam uma
inflação mais próxima de 4,5%, embora provavelmente não tenha chegado
lá. A ata passa ao largo desses presumidos progressos capturados pelos
seus modelos de projeção.
Também
não supervaloriza argumentos que, na sua visão, poderiam ajudar a baixar a
inflação, como menor repasse do câmbio para índices de preços ou alta do
desemprego. Por exemplo, o documento diz que dados mostram o “início de um
processo de distensão” no mercado de trabalho. Mas trata essa evolução
como ainda incerta, ao dizer que “é preciso ampliar o horizonte de
observações”.
Fonte: Valor Econômico