Você é do tipo que entra de cabeça,
convicto de que riscos só acontecem com o vizinho?
Você acha que dirige muito melhor do
que os outros motoristas, não pratica sexo seguro, acha que é mais esperto do
que o vizinho que perdeu uma bolada investindo em uma pirâmide e se vangloria
de ter saído ileso dessa roubada.
Seu
nível de autoconfiança é alto, tem convicção de estar imune a riscos de
qualquer natureza, convencido de que pode acontecer com os outros, não com
você. Talvez esse traço psicológico nos ajude a entender por que milhares de
pessoas são atraídas por pirâmides financeiras, fraudes e ofertas
absolutamente irracionais.
Se
você está pensando que é coisa rara, que só atinge pessoas desavisadas, saiba
que não é bem assim e que o perigo está mais perto do que você acredita.
Segundo
José Alexandre Vasco, superintendente de Proteção e Orientação aos Investidores
da CVM, a autarquia tem 467 casos abertos desde janeiro de 2017. Em pouco menos
de três anos, 467 denúncias!
Cada
processo investigado pode atingir milhares de pessoas. Algumas pirâmides
arrecadaram R$ 1 bilhão de 100 mil pessoas! Uma delas, em cidade de Minas com
200 mil habitantes, atraiu 23 mil investidores.
Muita
gente ingênua decide participar por confiar na propaganda feita por pessoas da
comunidade, da igreja, amigos e familiares, sem consciência do que está
fazendo. Outros sabem que se trata de pirâmide e acreditam que serão dos
primeiros a sair, deixando o prejuízo para os incautos que ficam.
A
ousadia cruza fronteiras. Uma pirâmide brasileira foi ofertada em Singapura e
em outros países da Ásia buscando investidores para o Minha Casa Minha Vida. Eram atraídos pelo
discurso de investimento de impacto, uma forma de investir, com lucro, em
projetos que realizam o sonho da casa própria de milhões de brasileiros.
Uma
empresa realizou um evento na arena Fonte Nova, em Salvador, com capacidade de
acolher 70 mil pessoas. Para atrair os investidores, divulgou a presença
(falsa) de um representante da CVM, tentando transmitir aparência de
credibilidade para possível esquema de fraude. Ah, detalhe, sorteio de um
Lamborghini!
São
muitas as modalidades de operações irregulares: forex, compra e venda de moeda em grupo de Telegram,
plataforma de investimento mantida por corretores de seguros, aquisição de
fração de imóveis, fundo de investimento falso, condo-hotel falso e mineração de bitcoin, além de complexos investimentos em
criptoativos.
O
marketing multinível, por exemplo, não é ilegal, mas pode ser usado para
propagar rapidamente um esquema piramidal. A fraude cresce rápido, acelera a
expansão, e a queda.
Os
esquemas normalmente se propagam em focos regionais, com a promoção de reuniões
de investimentos. E são migrantes, mudando de cidade em busca de novos
investidores.
Ficou
atraído por uma oferta sedutora? Antes de investir, consulte o site da CVM para
conferir a regularidade dela. Cerca de 95% dos investidores teriam evitado as
perdas se tivessem consultado o Serviço de Atendimento ao Cidadão da CVM.
Muitas
da investigações conduzidas pela autarquia foram feitas graças a denúncias
recebidas. A CVM pôde agir, determinar a paralisação das operações irregulares,
impedindo que milhares de cidadãos adicionais fossem prejudicados.
Não
são poucos os riscos inerentes aos investimentos, mesmo quando negociamos
formalmente com instituições credenciadas. Adicionar o risco de operar com
empresas não autorizadas, e explorar mercados não regulamentados, não é uma boa
ideia.
Se
parece bom demais para ser verdade, é porque é! Se a oferta e o produto são
muito complexos, deixe passar, não é para você.
Marcia Dessen - planejadora financeira CFP (“Certified
Financial Planner”), autora de “Finanças Pessoais: O Que Fazer com Meu
Dinheiro”.
Fonte:
coluna jornal FSP