Cada
vez mais, jovens têm preferido estudar a trabalhar, indicam as pesquisas de
emprego e o número de matrículas no ensino superior. Ao trocar o trabalho pela
faculdade, os jovens ajudam a derrubar a taxa de desemprego, fenômeno que ficou
evidente em especial no ano passado.
A
reviravolta se deveu em parte a um programa do governo que facilitou o
financiamento dos estudos, segundo estudo dos economistas Aurélio Bicalho e
Luka Barbosa, do Departamento de Pesquisa Macroeconômica do banco Itaú.
Desempregado
não é quem está sem trabalho, mas quem procura e não encontra emprego. Quem
deixa de querer trabalho deixa de fazer parte da população economicamente ativa
(PEA). Se a oferta de empregos cai, mas cai também a PEA, o desemprego pode até
diminuir. É o presente caso brasileiro: a PEA está caindo.
Mais gente deixa de
procurar trabalho, em especial jovens de 18 a 24 anos.
É
fato que o mercado de trabalho ficou mais frio, pois a economia tem crescido
mais devagar. O número de trabalhadores em janeiro deste ano era 0,1% menor que
em janeiro de 2013 (nas seis regiões metropolitanas pesquisadas pelo IBGE).
Parece pouco, mas a população ocupada crescia ao ritmo anual de 2% em 2011-2012
e de 3% de 2006 a 2008.
A
diferença é brutal. Fica evidente também nas estatísticas do emprego formal,
que aumentava ao ritmo de 120 mil vagas mensais entre 2006 e 2008, caindo para
60 mil em 2013, relembra o pessoal do Itaú.
Segundo
Bicalho e Barbosa, o mercado de trabalho mais fraco desestimulou a procura de
emprego. Mas outro fator deve ter contribuído para mudar as preferências dos
jovens.
Em
2010, o governo melhorou as condições do crédito por meio do Fundo de
Financiamento Estudantil (Fies). Os juros caíram muito e o prazo para pagar
aumentou. O número de matrículas pelo Fies foi de 76 mil em 2010 para 566 mil
em 2013. O número de jovens inativos cresceu entre 2012 e 2013, a maior parte
deles entre os que estudam (82%).
Obviamente,
a decisão de estudar em vez de trabalhar depende das condições de vida das
famílias. A renda cresceu bem na década recente. Se as famílias estivessem no
aperto, os jovens teriam de ajudar em casa e/ou estariam menos inclinados a
tomar um financiamento.
No
presente contexto, os jovens do Fies não devem voltar ao mercado, o que deve
manter o desemprego baixo e a inflação pressionada nos próximos trimestres,
notam Bicalho e Barbosa.
Sem
uma pesquisa específica com os jovens, é difícil cravar o motivo da mudança de
comportamento. Mas o estudo de Bicalho e Barbosa fundamenta com cuidado uma
hipótese razoável. O trabalho, de resto, evidencia outra mudança social que tem
recebido pouca atenção.
O
desemprego não está baixo apenas por causa dos jovens estudantes, claro; aliás,
está curiosamente baixo, dadas a desaceleração do ritmo do PIB (de crescimento
anual de 4% sob Lula para 2% na média de Dilma) e a alta de custos para as
empresas. É provável que as reduções de impostos sobre a folha salarial, entre
outros, tenham compensado a baixa econômica e os custos crescentes, embora tal
"solução" não seja sustentável, dado o deficit crescente do governo.
Vinicius Torres Freire – jornalista, colunista do
jornal Folha de São Paulo
Fonte: jornal FSP