Usando o celular como aliado, Thiago Ribeiro criou um aplicativo
para atrair atenção dos estudantes para avaliações rápidas.
Eu trabalho na rede estadual do Rio de Janeiro e dou aula de
geografia para alunos do 9º ano do ensino fundamental. Tenho muita
dificuldade com as avaliações de menor valor, porque geralmente os alunos não
fazem. Eles falam “ah, vale poucos pontos, então depois eu faço”, e isso cai no
esquecimento. Nas aulas, percebi que os estudantes estão o tempo todo com o
celular na mão, que é quase parte integrante do corpo deles. Às vezes, quando
eu estou explicando o conteúdo e alguém faz alguma pergunta, eu falo
“pesquisa no celular e me conta o que você encontrou”. Geralmente, na escola
não costumamos agir como fora dela, onde consultamos o celular quando
temos alguma dúvida. Por que os alunos não podem fazer isso? Eles acabam
construindo novos conhecimentos. Foi a partir disso que pensei “Por que não
fazer uma avaliação a partir de um aplicativo, que eles podem acessar de
qualquer lugar?”.
Eu criei o aplicativo a partir do programa App Inventor, do MIT
(Massachusetts Institute of Technology), e batizei de RecGeo 089 pois,
inicialmente, foi pensado como um dispositivo para avaliações de recuperação.
Como a ferramenta só funciona no sistema operacional Android, eu fiz uma versão
no site que os alunos podiam entrar e fazer a prova. O resultado do uso do
aplicativo na recuperação deu tão certo que acabei expandindo para outras avaliações,
para resgatar o interesse dos alunos. O primeiro modelo que testei nas aulas
regulares não deu muito certo. Antes de começar a fazer a prova, os alunos
tinham que se registrar, e isso levava muito tempo. Eles faziam o registro, mas
depois desistiam da avaliação, porque perdiam o interesse. Como adaptação, a
primeira e segunda pergunta da prova eram o nome do aluno e sua sala. A partir
disso, dava para manter o controle a partir de uma planilha.
Mesmo
quando a gente se torna um profissional de determinada área, a gente não sabe
tudo.
Nós
precisamos pesquisar e testar coisas novas.
Por ter possibilitar um tempo mais flexível para fazer a
avaliação e não exigir entregar nada em papel, ficou uma coisa mais
dinâmica e atual pra os alunos. Eu comecei a testar essa opção de avaliação no
terceiro bimestre do ano passado. No quarto bimestre foi quando eu tive maior
aceitação do aplicativo. Em avaliações que antes tinham 50% dos alunos
participando, no último bimestre a participação beirou os 90%. Isso se refletiu
nas notas deles, porque melhoraram o desempenho nas avaliações presenciais.
Além disso, um grupo de alunos me procurou, questionando se eu podia ensiná-los
a programar também. Além de geografia, eu também trabalho com informática, mas
eu tinha receio de usar tecnologia na sala de aula. Mas a gente vai
enfrentando o próprio medo. Assim como meus colegas, eu tinha vários
questionamentos. Eu me perguntava se os alunos iam fazer a prova mais de uma
vez, se iam fazer em grupos, se iam pesquisar as respostas na internet.
Mas, aos poucos, fui desconstruindo tudo isso. Pensei comigo: se
eles fizeram mais de uma vez, significa que estão interessados e querem fazer.
Se eles pesquisarem na internet, significa que estão estudando. Se fizerem em
grupos, estão trabalhando de forma coletiva. O intuito era que eles se
preocupassem e estudassem. Mesmo
quando a gente se torna um profissional de determinada área, a gente não sabe
tudo. Nós precisamos pesquisar e testar coisas novas. E foi isso que eu fiz.
Thiago Ribeiro de Carvalho - Formado em Geografia
pela UERJ, é professor da rede estadual do RJ desde 2013 e da rede municipal de
Mesquita (RJ) desde 2014. Sempre trabalhou na Baixada Fluminense. Atualmente, é
professor da Escola CIEP Brizolão 089 – Graciliano Ramos