Um programa de artes
financiado pela prefeitura recruta jovens para pintar murais em conjuntos
habitacionais conhecidos pela criminalidade
Muitos moradores do vasto conjunto
residencial Castle Hill Houses, no Bronx, convivem com janelas velhas e mal
vedadas, portas interiores que não fecham mais e eletrodomésticos antiquados.
Por isso Gerri Lamb, presidente da associação de moradores, questionou um novo
programa artístico da prefeitura que recrutava jovens para pintar murais em seu
conjunto habitacional. Ela se perguntava se o dinheiro não poderia ser usado em
outra coisa.
“Por que vamos querer fazer um mural?”,
disse Lamb. “Por que não falamos das portas e janelas e de consertar o interior
dos apartamentos?”
No entanto, hoje Lamb entende o valor de
criar arte nos espaços públicos de um bairro pobre, onde a pichação é a
expressão mais normal e a vida em comunidade pode acabar ofuscada por rixas
entre gangues e a violência das ruas.
Desde fevereiro, um grupo de jovens de
Castle Hill se reúne duas noites por semana para transformar uma sala do centro
comunitário em um testemunho das suas experiências e objetivos comuns. O mural
deles, com cores vivas, inclui representações de duas mãos unidas, uma criança
ajudando outra e um jogador de basquete voando com uma bola.
“Todo mundo tem sonhos”, disse Mousa
Conteh, 16, dando pinceladas no mural. “Isto aqui provavelmente vai inspirá-los
a continuarem fazendo o que fazem.”
O programa, chamado Arte Pública/Habitação
Pública, acontece em cinco conjuntos habitacionais de baixa renda e com altas
taxas de criminalidade em Nova York. O Groundswell, grupo artístico
comunitário, se juntou à Autoridade Habitacional da Prefeitura de Nova York
para trabalhar com moradores de 16 a 24 anos na criação de três afrescos em
cada conjunto.
O vereador Ritchie Torres direcionou US$
500 mil (R$ 1,76 milhão) para o programa, argumentando que ele “capacita os
jovens a contarem a rica e complexa história da habitação social por meio das
suas próprias vozes artísticas”.
No conjunto Castle Hill Houses, onde mais
de 5.100 pessoas vivem em 14 edifícios, os moradores sugeriram “comunidade” e
“unidade” como temas. Em troca da participação no programa, os jovens ganham
pizza ou lanche em cada reunião do programa, além de uma bolsa de US$ 150 (R$
528) para trabalharem no primeiro mural, e US$ 150 adicionais pelo segundo.
Para o terceiro, a ser pintado em meados deste ano, a Groundswell vai empregar
os participantes por meio do seu programa de trabalho de verão, pagando
salários por hora.
Miles ensinou aos jovens sobre símbolos,
composição e a mecânica de um desenho coeso. O primeiro mural foi criado por
etapas — inicialmente, os jovens esboçaram ideias no papel, individualmente ou
em grupo.
Lamb, 72, passava por lá semanalmente para
conferir o seu progresso e inclusive sugeriu que uma planta trepadeira, que
inicialmente se estendia por três quartos do mural, deveria ir até o trecho
final, como símbolo de unidade. Assim foi feito.
Essa moradora, que vive no conjunto desde
1969 e lá criou seus quatro filhos, disse esperar que os murais aglutinem
jovens moradores que às vezes se veem separados pelas rivalidades entre
gangues. Antigamente, segundo ela, as pichações eram um problema.
Uma participante chamada Brenda Rodríguez,
20, disse que sempre gostou de pintar e desenhar, mas nunca havia tido muito
tempo e oportunidade para isso. “Achei legal, porque geralmente não temos
muitos programas artísticos”, disse ela.
Adrian Frometa, 16, terceiro de quatro
filhos de uma mãe solteira, contou que se inscreveu para o mural porque queria
ajudar a comunidade. Ele agora conhece alguns dos outros adolescentes que
pintam ao seu lado — jovens que ele já tinha visto, mas com quem nunca havia
conversado. “Isso está mostrando que estamos nos juntando e formando uma
unidade para fazer este projeto”, disse Adrian.
Ele acrescentou que, quando contou pela
primeira vez aos seus amigos como passava as noites, alguns deles disseram que
era melhor ficar jogando basquete. Mas mudaram de opinião. “Antes eles dizia
coisas tipo: ‘Você está perdendo seu tempo’”, disse. “Mas agora, quando veem [o
mural], eles dizem: ‘Eu deveria ter participado’.”
Winnie
Hu – jornalista do New York Times