Queremos dar adeus aos
robozinhos atendentes
Informar mal e colocar um chatbot para pagar o pato é uma péssima tática
Que me perdoem os chatbots atendentes, mas os
consumidores não suportam mais ser atendidos por robôs.
Terá razão a Senacon (Secretaria Nacional de Defesa
do Consumidor) se trabalhar mesmo pela revogação do decreto do SAC,
possibilidade que já foi divulgada. Adeus, robozinhos, queremos ser atendidos
por seres humanos.
O artigo 6º do CDC (Código de
Defesa do Consumidor) assegura o direito à "informação adequada e clara
sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de
quantidade, características, composição, qualidade, tributos incidentes e preço,
bem como sobre os riscos que apresentem".
Informação clara é algo que os
robozinhos não podem fornecer, porque são programados para um passo a passo
muito simples.
Resultado: o consumidor perde tempo e paciência, até ser
transferido para um atendente de verdade. O uso dos chatbots reduz os custos
para as empresas que os utilizam, mas piora o atendimento ao cliente.
O consumidor tem tido grandes
dificuldades de acesso aos canais de comunicação para encaminhar demandas às
empresas. Há divergências nos telefones indicados para contato (alguns ficam
quase escondidos), e o atendimento pelos robôs é precário.
Há outras formas indiretas de
melhorar o atendimento, como aperfeiçoar a área de FAQ –respostas às perguntas
mais frequentes.
Quanto mais opções e detalhes, melhor para o consumidor. Isso
realmente pode evitar que questões simples ocupem o tempo de um atendente real.
Outra forma de reduzir os
contatos é melhorar a comunicação de reajustes, mudanças de serviços, tarifação
etc.
Por exemplo, no caso da cobrança de compartilhamento de senha da Netflix,
o aviso deveria ter ocorrido bem antes de entrar em vigor, com muito mais
detalhes.
Essa explicação acabou feita pelos meios de comunicação, mas cabia à
operadora de streaming.
Bons contratos, simples, diretos
e objetivos também contribuem para que o cliente entenda melhor pelo que está pagando.
Sonegar informações para evitar questionamentos tem o efeito contrário.
Irritadas e insatisfeitas, as pessoas ligam para obter mais dados e reclamar
pelo descaso do fornecedor.
Manuais de instruções também têm
de ser melhorados. Deveriam começar com as dúvidas mais frequentes, em
linguagem simples e acessível.
E, por favor, com letras e números maiores, pois
a população brasileira está envelhecendo.
Uma boa maneira de avaliar a
qualidade e o nível de compreensão de um manual é submetê-lo a consumidores
leigos, antes de torná-los públicos.
Não adianta, também, usar
jargões profissionais, muito técnicos ou especializados. Se for indispensável
recorrer a estes termos, explicar entre parênteses o que significam. Da mesma
forma, traduzir palavras em outros idiomas.
Se for o caso, recorrer a figuras
para explicar melhor determinadas funções de um produto ou as características
de um serviço.
Informar mal e colocar um
robozinho para pagar o pato é uma péssima tática. Atendimento para humanos tem
de ser feitos por humanos, e ponto final.
MARIA INÊS DOLCI - advogada especializada na área da defesa do consumidor.