A diretora executiva da FenaSaúde, Vera Valente, afirmou
hoje que há uma verdadeira “pandemia de projetos de lei” atingindo os planos de
saúde. Ao congelar prestações, suspender reajustes ou permitir a inadimplência,
essas iniciativas comprometem não apenas o setor, mas todo o sistema de saúde.
“A inadimplência na saúde suplementar é mais perigosa do
que em qualquer setor. Compromete a liquidez do sistema, as relações
contratuais e pode levar à insolvências de várias empresas. E vai se refletir
na assistência às pessoas”, disse ela durante o webinar “Saúde Suplementar
pós-covid 19: o que deve mudar”, promovido nesta quinta-feira, 4/6, pela
Central Nacional Unimed, uma das 16 associadas da FenaSaúde.
A maior parte das propostas legislativas nesse sentido
deriva da falta de compreensão sobre o funcionamento da saúde suplementar. “Não
existe conhecimento, o que leva a políticas populistas que afetam o setor”,
lamentou ela.
O setor de saúde suplementar funciona como uma espécie
de “caixa d’água”, que irriga toda a cadeia: 90% do que hospitais privados
recebem e 80% das receitas dos laboratórios de medicina diagnóstica têm como
origem os repasses dos planos de saúde. Essas interconexões, contudo, nem
sempre têm sido levadas em conta pelos legisladores.
O PL 1.542/2020, por exemplo, aprovado no Senado nesta
semana, impôs congelamento no valor das prestações por 120 dias, sendo que
operadoras ligadas à FenaSaúde, por iniciativa própria, já haviam suspendido
todos os reajustes de contratos de planos individuais, coletivos por adesão e
empresariais até 29 vidas por 90 dias, até 31 de julho.
“As operadoras estão muito sensíveis ao que os
contratantes estão sofrendo. Existem negociações acontecendo o tempo todo.
Ninguém quer deixar ninguém desassistido. Mas o PL, infelizmente, não permite
iniciativa da operadora de ir de cliente em cliente. Que se chame a ANS para
que ela seja ouvida”, pediu a diretora executiva da FenaSaúde.
Como a cadeia é toda interconectada, um eventual
enfraquecimento da saúde suplementar afeta também o SUS. Hoje são 47,1 milhões
os usuários dos planos e seguros de saúde. Em caso de insolvência de
operadoras, principalmente pequenas, beneficiários podem migrar para o sistema
público, afetando ainda mais os conhecidos gargalos do SUS.
Também participaram do webinar o presidente da Central
Nacional Unimed, Alexandre Ruschi; o superintendente executivo do Instituto de
Estudos de Saúde Suplementar (IESS), José Cechin; e o presidente do Grupo Dasa
(reúne mais de 40 marcas de laboratórios referência no país), Pedro Godoy
Bueno. A mediação foi do superintendente executivo da Central Nacional Unimed,
Rodrigo Guerra.
Ruschi defendeu mais flexibilização na legislação, a fim
de permitir que mais pessoas consigam dispor da cobertura dos planos e seguros
de saúde privados. “Chega desse debate ideológico entre sistemas públicos e
privados. De que adianta esse enfrentamento? De que adianta ter um órgão
regulador que não estimula o aumento do mercado?”
José Cechin previu para o futuro próximo aumentos nas
despesas da saúde suplementar, quando os efeitos da covid se somarão à
inevitável realização de procedimentos eletivos, por ora postergados. “Teremos
o custo covid e o custo não covid”. Hoje, argumentou ele, por um lado a
pandemia fez as pessoas desejarem ainda mais contar com um plano de saúde, e
por outro estão sendo afetadas pela crise. O balanço final ainda é incerto.
Enquanto as mudanças na legislação não vêm, Pedro Bueno,
do Grupo Dasa, acredita que a união de todos no setor da saúde, algo que já
está ocorrendo, é imprescindível para a superação da crise. “Os agente não
encontrarão saídas isoladas para esse desafio”, alertou.
Fonte: SEGS