As estantes das livrarias estão lotadas de ofertas
de livros que prometem ajudar a criança a dormir. Muitos deles estão na seção
classificada como "educação" e são dirigidos aos pais; outros, na de
"literatura infantojuvenil", para os pais lerem para a criança ou
para ela mesma ler na hora de ir para a cama.
Todo mundo sabe que não há receita certa para isso,
tampouco fórmula mágica. Mesmo assim, muitos procuram –alguns desesperadamente–
maneiras que os ajudem a colocar o filho na cama e fazer com que ele fique lá,
de preferência sem resistir, sem acordar no meio da madrugada, sem ir para a
cama dos pais, sem chorar. É uma verdadeira batalha!
Não nos demos conta de que, desde a década de 1990,
mais ou menos, o período de sono diminuiu, tanto para as crianças quanto para
os adultos. Estudos realizados em diversos países apontam uma tendência
internacional de redução do sono. Analisando as pesquisas disponíveis, alguns
cientistas afirmam que há dados suficientes para concluir que houve uma queda
de mais ou menos duas horas no tempo de sono de crianças pequenas e de
adolescentes.
Se pensarmos em nossos estilos de vida, fica fácil
entender: são tantos os estímulos e escolhas que podem ser feitas que
dificilmente tudo caberia no tempo disponível sem encolher o horário dedicado a
algo.
No caso dos mais novos, vamos primeiramente
considerar o período da jornada dos estudos. Ele tem sido, cada vez mais,
estendido: aumentam os horários das aulas e os trabalhos para casa, por
exemplo.
Em alguns países, a lição de casa foi abolida, mas
por aqui vai ser difícil isso acontecer, porque os pais insistem que é bom e a
escola acata essa opinião com presteza, mesmo que considere a questão sem a
mesma importância que os pais dão.
Tem mais: crianças e adolescentes ainda têm as
aulas e cursos chamados extracurriculares, ou seja, somando as horas na escola
e nos cursos extracurriculares e aquelas dedicadas à lição de casa, em alguns
casos o total de tempo gasto chega a 10, 12 horas! Vão faltar pelo menos dois
tempos preciosos: o de ser criança e o de dormir.
No caso dos menores de seis anos, há o fato de os
pais, após sua jornada de trabalho também estendida, desejarem desfrutar, tanto
quanto os filhos, da companhia uns dos outros. Resultado? Crianças com menos de
seis anos acordadas após as 21h e até as 23h ou 0h em alguns casos. Muitos pais
não sabem que, nesse horário, a criança fica cada vez mais excitada, o que irá
atrapalhar o recolhimento, ou seja, vai dificultar ainda mais o sono.
Como muitas crianças não sabem ainda reconhecer o
estado de exaustão nem a chegada do sono, elas dependem dos pais para tanto.
Mas parece que muitos deles perderam a sensibilidade para identificar essas
situações nos filhos e os deixam ficar acordados além da conta.
No caso dos adolescentes, há a tecnologia que rouba
deles muito do tempo que deveria ser dedicado ao sono. Como dormir antes de
terminar aquela fase do jogo, de trocar as últimas palavras com os colegas por
meio de mensagens instantâneas etc.? Para eles, impossível!
E é assim, sem perceber, que dormimos menos e
determinamos menos tempo de sono aos filhos, e isso faz falta ao bom
desenvolvimento deles. Que tal pensar em formas de mudar isso?
Rosely
Sayão – psicóloga e consultora em educação
Fonte: caderno cotidiano / jornal FSP