Às vezes só um evento dramático provoca conscientização do valor do tempo
Perguntei a homens e mulheres de diferentes idades: “Você tem tempo para fazer o que mais gosta?”. Com frequência ouvi a mesma resposta: “Não tenho tempo”. Muitas vezes acompanhada de “não tenho dinheiro” e de “acho que só quando ficar mais velho e me aposentar vou aproveitar melhor o meu tempo e a minha vida”.
Por que é preciso esperar a velhice ou a aposentadoria para realizar sonhos e desejos, que às vezes são simples?
Para uma psicóloga de 62 anos, “o tempo é a nossa maior riqueza, o nosso verdadeiro capital”.
“A desculpa da falta de tempo é a prova do medo de fazer aquilo que desejamos. Ser livre e usar o tempo para realizar projetos de vida dá trabalho. É mais fácil ser escravo do tempo dos outros do que senhor do próprio tempo”.
Em cadeira de rodas, foliã curte a festa no abrigo do Cristo Redentor
Às vezes só um evento dramático provoca uma maior conscientizaçãoo valor do tempo, como aconteceu com um executivo de 67 anos.
“Eu me sentia um super-homem e não pensava na morte. Só queria ganhar dinheiro e transar com mulheres lindas. Quando me criticavam por não cuidar da saúde, eu dizia que tinha a síndrome da Gabriela e cantava: ‘Eu nasci assim, eu cresci assim, eu sou mesmo assim, vou ser sempre assim... vou morrer assim’”.
Após ver a morte de perto, ele aprendeu a “valorizar e saborear cada minuto da vida”.
“Fiz uma revolução na minha vida. De que vale dinheiro, poder, luxo? Agradeço a Deus por ter renascido. Construí um novo projeto de vida e encontrei o significado da minha existência. Estou trabalhando em um projeto de inclusão digital para idosos. É gratificante testemunhar a alegria deles aprendendo a usar o computador para se conectar com os filhos e netos.
Será que você também sofre da síndrome de Gabriela?
Mirian Goldenberg - antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio, é autora de "A Bela Velhice".
Fonte: coluna jornal FSP