Muitos preferiam manter
controle ao dirigir mesmo antes da morte de um passageiro de um carro
autoconduzido.
Era inevitável o primeiro acidente fatal
com um carro que usa tecnologia de autocondução. Um caminhão na Flórida fez uma
curva na frente de um Tesla Model S, e este não freou.
As empresas de automóveis e de
tecnologia estão avançando com um produto que, na opinião de muitos, será mais
seguro que os motoristas humanos. Mas, como relatou o “Times”, o acidente com o
Tesla “projeta dúvidas sobre se veículos autônomos podem de maneira consistente
tomar decisões de vida ou morte em frações de segundo enquanto rodam”.
É mais complexo que isso. Vida de
quem? Morte de quem? Tais considerações, escreveu John Markoff no “Times”,
tornaram-se questões sérias para os pesquisadores “que devem essencialmente
programar decisões morais em uma máquina”.
Até que ponto as pessoas querem que
suas máquinas sejam morais? Todos dizem querer carros que tomem decisões para o
bem comum, mas os pesquisadores citaram pesquisas que mostram que as
preferências éticas também têm uma forte influência do senso de
autopreservação. Segundo Markoff, pesquisas sugerem que “o que as pessoas
realmente querem é locomover-se em um veículo autônomo que coloque os
passageiros em primeiro lugar. Se seu cérebro maquinal tiver de escolher entre
bater num muro ou atropelar uma pessoa, bem, desculpe, pedestre”.
Alguns afirmam que tais opções não
devem ser tiradas das mãos dos humanos, mesmo que o volante o seja. Amital
Etzioni, um sociólogo na Universidade George Washington, disse que, em vez de
substituir as pessoas, a inteligência artificial deveria “ser uma parceira
entre o humano e a ferramenta, e a pessoa deve ser quem dá a orientação ética”.
Portanto, continua a discussão entre
técnica e moral, mas nem todas as questões ainda não resolvidas envolvem o
cérebro da máquina. Jeffrey Miller, um professor associado de prática de
engenharia na Universidade do Sul da Califórnia, disse ao “Times”: “Não é a
tecnologia. É a aceitação do usuário que nos retém agora”.
“Eu não tenho problemas em deixar um
carro assumir o controle”, disse. “Mas que um carro leve meus filhos à escola?
Você está falando de pessoas que não têm capacidade de assumir o controle se
algo der errado. Não fico à vontade com isso.”
A relutância em ceder o volante vai
além do conforto. Envolve também o que o “Times” chama de “o romantismo da Rota
66 que muitos americanos mais velhos ainda têm com o automóvel”.
Um estudo da Nielsen mostrou que
muitas pessoas mais jovens, que adotam rapidamente novas tecnologias, preferem
fazer a coisa elas mesmas. Mike Van Nieuwkuyk, da Nielsen, sugeriu que é porque
elas valorizam a independência.
Você não precisa de um carro para
entender isso. William Alvarez, 71, está descobrindo a independência da
locomoção em Nova York em um triciclo manual reclinado.
Alvarez é um veterano da Guerra do
Vietnã que perdeu as duas pernas na explosão de uma mina. Passou por décadas de
depressão e transtorno de estresse pós-traumático e fez várias tentativas de
suicídio. Há um ano, depois de ser muito aconselhado por outros veteranos, ele
experimentou o triciclo. Hoje o usa cinco vezes por semana e treina para a
Maratona de Nova York. Sua vida mudou.
“Quando estou rodando é como estar
finalmente livre”, disse Alvarez ao “Times”. “Posso esquecer todos os meus
problemas e apenas sentir a brisa no rosto. Nada mais importa.”
Allan Mattingly – jornalista, editor do jornal New York Times