CONVERSAR
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Em uma de suas
mensagens, Emmanuel, o estimado amigo espiritual de Chico Xavier,
alerta: “Conversar é possibilidade sublime. Não relaxes, pois, essa
concessão do Altíssimo, porque pela tua conversação será conhecido” (Caminho,
Verdade e Vida FEB, 1970).
Refere-se o mentor
ao gosto de se conversar retamente em palestras edificantes, que irá caracterizar
as relações de legítimo amor fraternal.
Trazendo este alerta
para os dias de hoje, quando a comunicação através das várias mídias permite,
de um lado, ampliar a possibilidade de manifestação pessoal, e de outro, abre
espaço para os excessos, isto é, aquilo que de mais agressivo cada um armazena
dentro de si.
Permito-me voltar no
tempo, anos 50 quando a população era menor, o que ensejava relações pessoais
bem mais próximas.
Vem-me à lembrança,
por exemplo, gostosa cidade do interior, em tarde de muito calor, e minha avó
recebendo em casa a visita de sua comadre. Esta, claro, chegando sob a proteção
de sua sombrinha.
Ou então, em noites
quentes e enluaradas, os moradores arrastavam cadeiras para a calçada a fim de
poderem aspirar a suavidade da brisa e reforçar, em conversas amenas, os laços
de carinho, respeito e amor que os unia.
Momento nostalgia?
Talvez, mas são fortes as recordações de uma Araraquara-SP que mantenho alegre
no coração.
Faço esse
contraponto para poder comparar os velhos tempos (e belos dias, como na canção
popular), com as conversas que hoje temos oportunidade de compartilhar. E o
quanto, muito intensamente, estamos nos distanciando daquele “conversar
retamente”.
Mudei eu ou mudou o
mundo?
Nada contra a
necessária desconstrução de hábitos e costumes, para dar lugar à construção dos
novos tempos. O universo se expande, a vida se transforma e as relações se
ampliam. Nosso espaço de vida aqui neste
planeta, portanto, há também de alterar-se.
Ansiamos, inclusive,
por sair de uma realidade de vida com provas e expiações para um futuro
regenerador. E isso não acontecerá sem rupturas nem desmanches.
Mas o que “pega”,
isto é, aquilo que incomoda, relembrando passado relativamente distante, neste
“louco mundo louco” de hoje, não são as muitas e incríveis conquistas
materiais nos campos da ciência, educação e comunicação.
Toda essa bagagem
operacional será sempre muito bem-vinda, pois possibilitará a diminuição de
distâncias geográficas, ampliando e facilitando o processo de comunicação.
O que de fato não
acompanhou o avanço material da tecnologia foi a estagnação, se não o
retrocesso, na capacidade de entendimento e aceitação na convivência entre as
pessoas.
À medida que a
realidade virtual do mundo exterior cresce, oferecendo inúmeras possibilidades
de trabalho, crescimento pessoal e ampliação do conhecimento, lamentavelmente o
mundo interior se encolhe na mesma proporção.
A melhor imagem que
me vem é a de um homem, bastante alto e forte, de braços abertos levantados,
como querendo dizer que está firme para alçar grandes voos.
Porém quando vamos
nos aproximando, constatamos que sua estrutura interior – ossos, músculos,
órgãos – está fragilizada e não conseguirá sustentar seu corpo físico. Ele
inevitavelmente irá ruir!
Essa, parece-me, é a
sensação que muitos sentem, notadamente em um momento de pandemia, quando os
contatos externos diminuem, as relações pessoais não acontecem e cada um de nós
deve ficar em contato apenas com si mesmo.
É nessa hora que dependemos de nossa
estrutura interior, embora esta esteja em muitos casos fragilizada.
E como podemos
aumentar a força interior e expandir a centelha divina, de modo a poder
participar e usufruir da transformação de nosso mundo?
Independentemente
das muitas possibilidades que a ciência e a medicina humana oferecem, só nos
resta honesta e francamente conversar com nosso ser interior, a nossa
verdadeira essência, pois não serão as soluções externas que nos ajudarão.
Procurar dialogar com
nosso ser interior, ouvir e entender a criança que vive em nós, levantar seus
medos e desejos, reconhecendo as emoções que seguramente podem bloquear – ou
ampliar - nossa capacidade de agir.
Pensemos um pouco em
como somos especialistas na solução dos problemas alheios, em como temos
respostas fáceis para os momentos difíceis daqueles com quem nos relacionamos.
E com os incômodos
mais íntimos, os problemas ou angústias pessoais, como lidamos? Até agora,
muito provavelmente, empurrando-os para baixo do tapete, ou melhor, para o
sótão do inconsciente.
Então, seja-me
permitida uma sugestão.
A exemplo das
cadeiras na calçada para as conversas ao fim do dia, coloque-se sentado, pegue
caderno e caneta e anote suas reações, seus pensamentos, suas emoções.
Conversar com você
mesmo é o início para o fortalecimento interior, tão necessário para novas e
grandes conquistas, na direção de um novo tempo.