Cientista
propõe que objeto que cruzou espaço em 2017 foi feito por civilização
alienígena.
Na desaceleração da pandemia, muita gente foi olhar
novamente com atenção para o céu. De forma quase irônica, a natureza reservou
uma série de fenômenos celestes justamente para o período de distanciamento
social.
Houve a passagem do cometa Neowise, que só retornará à
terra daqui a 6.800 anos. Houve alinhamento de Marte, Saturno e Júpiter.
Aparição relâmpago de Mercúrio, que ficou visível por 50 minutos a olho nu antes
do amanhecer. Eclipse da lua. Chuva de meteoros perseidas e e aquáridas.
E, na semana passada, explosão no céu e queda de
meteoritos de até 30 centímetros no sertão de Pernambuco.
Se você não comprou um telescópio ou baixou um
aplicativo como o Skywatcher para observar o espetáculo em curso, está
perdendo.
O que nenhum aplicativo mostra, no entanto, é o debate
atual sobre se houve ou não a identificação da primeira evidência de inteligência extraterreste. Quem
propõe o debate é Avi Loeb, diretor do departamento de astronomia da
universidade Harvard, autor de mais de 700 estudos na área e membro da Academia
de Ciências e Artes dos Estados Unidos
Em 2012, a revista Time o elegeu como uma das 25 pessoas
mais importantes em ciência espacial.
Ele agora defende a hipótese de que o objeto chamado
Oumuamua, corpo interestelar vindo de fora do sistema solar que cruzou nosso
espaço vizinho em 2017 (e foi detectado por astrônomos no Havaí), pode ter sido
construído por uma civilização alienígena. A trajetória do
Oumuamua (palavra que significa “explorador” em língua havaiana) é intrigante.
O objeto, que tem a forma de um charuto, foi capaz de acelerar a si mesmo.
A hipótese para explicar esse fenômeno até agora é que
ele seria composto de hidrogênio sólido, que ao se aproximar do Sol, teria
evaporado rapidamente, propelindo o objeto.
Aí entra o estudo publicado na semana passada por Avi
Loeb. Ele busca demonstrar que o objeto não era formado por hidrogênio, tanto
que não apresentou a típica “cauda” que cometas apresentam ao se aproximar do
sol.
Além disso, o objeto não teria sobrevivido à longa
distância interestelar percorrida se fosse feito de hidrogênio.
No estudo, que saiu no Astrophysical Journal Letters,
Loeb não só contesta a hipótese do hidrogênio, mas levanta outra de que o
objeto poder ter sido propelido por uma vela de luz, estrutura artificial que
acelera na medida em que é exposta à radiação solar.
O debate será objeto do seu próximo livro, a ser lançado
em janeiro de 2021 com o sugestivo título de “O primeiro sinal de vida
inteligente fora da Terra”.
Como era de se esperar, a posição de Loeb causou furor e
reações violentas. O brasileiro Marcelo Gleiser, colunista
da Folha, em entrevista à revista Galileu, disse que “apesar de ter
grande respeito por Avi Loeb e conhecê-lo pessoalmente há muitos anos, acho que
neste artigo se excedeu”.
Loeb reage dizendo que muitos cientistas se apegam ao
cargo e às honras, esquecendo que é preciso se arriscar para ampliar a visão de
mundo. Para além das implicações cosmopolíticas de uma possível descoberta com
essa, me interessa muito saber se o Oumuamua aceitaria pedidos de carona.
Ronaldo
Lemos - advogado, diretor do Instituto
de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro.
Fonte:
coluna jornal FSP