Não compre bitcoins


O preço do bitcoin vem aumentando de forma exuberante

Raramente passa um dia sem que alguém me pergunte se deve comprar bitcoins como investimento.

Adianto a resposta: se você também está se perguntando isso agora, a resposta é não. Você provavelmente descobriu o bitcoin há pouco tempo ou "ouviu dizer" que ele tem se valorizado imensamente.

É verdade. O preço do bitcoin vem aumentando de forma exuberante (ao lado do de outras moedas, como o ethereum). Em 2012, um bitcoin valia US$ 5. Hoje, vale US$ 2.500. Nem precisa ir tão longe. Em dezembro de 2016, um bitcoin valia US$ 700. Poucos investimentos foram tão "fabulosos" nesse período.

É aí que mora o perigo. Boa parte dessa valorização é devida a pessoas comuns, não ligadas ao campo da tecnologia, que descobriram a moeda no boca a boca. Para capitalizar em cima disso, começaram a se multiplicar fundos e clubes de investimento com o objetivo de captar dinheiro de pessoas comuns para investir no lucrativo mundo das “criptomoedas". Os gestores desses fundos provavelmente ganharão dinheiro. Já quem aposta neles não tem nenhuma garantia disso.

O motivo pelo qual acredito que não vale comprar moedas virtuais agora não é porque não acredito nelas. É justamente o contrário. Esse tipo de tecnologia está se tornando parte da infraestrutura da economia global. Em outras palavras, está no processo de virar "commodity".

Enquanto esse processo não se consolida, as moedas virtuais estão sujeitas a movimentos especulativos imprevisíveis. Afinal, seu preço é determinado pela boa e velha lei da oferta e da demanda. E, em um mundo ultra conectado, tudo o que sobe pode cair com a mesma velocidade, pulverizando as economias de muita gente.

Um outro passo na "comodificação" das moedas virtuais é a concorrência. Bancos centrais de diversos países estão estudando lançar suas próprias “criptomoedas”. Com a vantagem de possuir um mínimo de lastro na economia daquele país, coisa que o bitcoin não tem. Essa seria, aliás, uma boa ideia para o Brasil.

Se o país fosse ágil em inovação, poderíamos ser os primeiros a lançar uma moeda virtual própria, demarcando esse território. Mas nada indica que isso possa acontecer.

Por fim, há o risco técnico. A comunidade do bitcoin está trabalhando em um ajuste na moeda, que poderá assumir várias formas (hard fork, soft work ou outras). Ninguém sabe o impacto desse ajuste técnico sobre o preço. Há quem diga que essa mudança poderá derrubar o valor para algo em torno de US$ 700. A ver.

Por fim, quem investe em bitcoins precisa saber muito sobre segurança digital. Manter um grande volume de bitcoins em uma carteira individual é um chamariz para hackers. A chance de ter suas moedas roubadas é grande.

Por tudo isso, não pense no bitcoin e em outras moedas como investimento (exceto quem topa especular). As “criptomoedas” devem ser vistas não como um fim em si mesmo, mas como um meio, capaz de multiplicar a inovação em inúmeras atividades econômicas reais. É aí que mora o dinheiro.

Ronaldo Lemos - advogado, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITSrio.org). Mestre em direito por Harvard. Pesquisador e representante do MIT Media Lab no Brasil.

Fonte: coluna jornal FSP

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