Rodrigo Esteves: “Gasto com saúde no
Brasil é de meio trilhão de reais por ano”
Há pelo menos três certezas na cabeça de quem atua
no segmento de eHealth, o uso de tecnologia de informação e comunicação na
área da saúde: o mercado terá uma expansão gigantesca nos próximos anos, com ou
sem crise nacional; o país vive uma onda crescente de inovações
estimuladas pelas oportunidades que o setor oferece, e o “boom” que já
está em curso tem participação decisiva do venture capital os
investimentos de risco que buscam projetos e empresas iniciantes com
capacidade de crescimento exponencial.
Todo este movimento é alicerçado no processo de
integração de toda a cadeia da saúde, e um dos maiores desafios é engajar
os usuários finais à rede por meio de dispositivos portáteis. Mais que as
companhias tradicionais, são as start-ups que devem acoplar essas soluções
ao sistema e elas são o foco principal do venture capital, que, por meio de
fundos públicos e privados ou aportes diretos, está de olho naquelas
“empresas muito grandes quando muito pequenas”, na definição de Manoel
Lemos, sócio do fundo de investimentos Redpoint e.ventures.
O Redpoint, fundo de US$ 130 milhões, tem quatro
empresas de Digital Healthcare em seu portfólio. “O fluxo
de empreendedores em healthtech só cresce de um ano para cá e vamos seguir
investindo. É uma das áreas prioritárias para nós”. Assim como Lemos, o
CEO da venture builder Grow+, Paulo Beck, considera que as healthtechs estão
entre as mais promissoras no Brasil. Segundo ele, dados de 2015 coletados
pela Boston Consulting Group (BCG), Fundação Dom Cabral (FDC) e ABVCAP/ KPMG,
mostram que o setor de saúde como um todo é o que mais atrai investidores de
corporate venture, feito por empresas, com 38% dos aportes não há ainda
estatística específica no Brasil sobre eHealth. “Fundos estrangeiros estão
vindo para o país interessados principalmente em saúde.”
Sensores, apps, roupas inteligentes e vídeo
consultas são alguns dos recursos que vão permitir a conexão entre
hospitais, clínicas, operadoras de saúde, médicos e pacientes. Muitos
desses produtos e serviços já existem, mas são usados isoladamente. Em
2013, antes criar a Domo Invest, os atuais sócios se uniram para criar um fundo
de apoio ao Boa Consulta, plataforma de agendamentos de consultas e exames
online. Agora, buscam novas oportunidades. “Quando você digitaliza este
mercado, consegue trazer escala e eficiência para a indústria toda”, diz o
sócio da Domo, Rodrigo Borges, fundador do Buscapé.
A Confrapar, especializada na compra de
participações em empresas de tecnologia, tem três healthtechs entre as 15 de
seu portfólio. Segundo o sócio-diretor da gestora, Rodrigo Esteves, o
gasto total com saúde no Brasil, incluindo setores público e privado, é de
meio trilhão de reais por ano.
“Isto dá uma ideia do potencial a ser explorado.”
Este custo, ressalta Esteves, envolve a enormidade de deficiências do
sistema que necessitam de soluções, num primeiro momento, muito básicas, como prontuário
eletrônico e recursos para a comunicação entre pacientes e médicos. “Não
adianta o equipamento da pessoa monitorar sua saúde e o médico não ter
acesso aos dados.”
Digital healthcare é segmento prioritário, junto
com TI, no parque tecnológico Supera, que integra
universidades, institutos de pesquisa, startups e empresas nascentes.
Instalado em um campus da USP em Ribeirão Preto (SP), reúne 58 start-ups e
obtém a maior parte dos investimentos da Finep, contando também com Fapesp e
CNPq, entre outros. Desde 2010, foram captados quase R$ 14 milhões.
“Hoje temos dois clusters, um de TI e um de saúde,
criando uma sinergia favorável a negócios focados em Digital Healthcare”,
diz o gerente da Fipase, gestora do parque, Dalton Marques, um
dos palestrantes do Fórum HIMMS@Hospitalar, realizado semana passada em
São Paulo.
O momento vivido pelo Brasil tem entre os mercados
inspiradores a experiência de Israel. Segundo o cônsul israelense para
assuntos econômicos no Brasil, Daniel Kolbar, o país é líder mundial em número
de patentes per capita de produtos para a saúde.
“O governo tem participação ativa no incentivo a
start-ups, dispondo de um orçamento de US$ 100 milhões por ano para
qualquer tipo de empresa desenvolver inovações, compartilhando os riscos e atuando
em parcerias com o setor privado”, afirma. Kolbar e os representantes
da Grow+ e Confrapar também apresentaram palestras no fórum da Hospitalar.
Fonte: Valor Econômico