Um de
meus temas favoritos, no universo das finanças pessoais, é a previdência e,
mais especificamente, a preparação financeira (e pessoal) para a fase da
aposentadoria. Eu sempre falo, seja na mídia ou nas palestras e workshops que
ministro, que a “aposentadoria do futuro” será algo completamente diferente
daquilo que temos atualmente, por conta de mudanças estruturais na economia, da
perda de sustentação econômica dos esquemas de previdência e pensão
(especialmente os públicos) e a questão do “risco da longevidade”, que é a
nossa expectativa de vida exponencialmente ascendente, por conta de novos
avanços nas tecnologias médica, nutricional e sanitária.
Esta
semana, me chamou a atenção uma matéria que li no site de finanças americano Market
Watch, chamada “The coming train wreck for olderworkers” (“A ‘trombada’ que está vindo para os
trabalhadores mais velhos”, em tradução livre). A matéria faz menção a uma
pesquisa realizada, nos anos de 2015 e 2016, pela Willis Towers Watson, uma das
maiores empresas de consultoria de benefícios do mundo (e da qual,
orgulhosamente, sou parceiro da subsidiária brasileira na realização programas
de educação financeira, voltados principalmente para entidades de previdência
fechada).
A
pesquisa, chamada Global Benefits Attitude Survey (Pesquisa global de atitudes em
relação a benefícios, em tradução livre) foi feita com aproximadamente 30 mil
pessoas, sendo 5 mil nos Estados Unidos e 25 mil no resto do mundo.
E, antes de prosseguir, preciso fazer uma ressalva: Eu defendo
(em grande parte, baseado nos pontos que mencionei no começo do artigo) a ideia
de que as pessoas precisarão trabalhar por mais tempo e serem mais “agressivas”
na preparação financeira para a aposentadoria. Eu enxergo trabalhar além dos 70
anos de idade como algo normal e esperado em um futuro próximo.
Mas, voltando à pesquisa, ela aponta que aqueles trabalhadores
que têm a intenção de continuar trabalhando além dos 70 anos são exatamente
aqueles que têm MENOS chances de conseguir isso. São, na própria definição da
pesquisa, mais “vulneráveis”, têm saúde mais frágil, altos níveis de stress,
renda menor e um menor grau de comprometimento com seus atuais empregos. Ou
seja, uma receita para uma grande catástrofe financeira no futuro.
É algo irônico e trágico ao mesmo tempo: é bastante possível
que, num futuro próximo, trabalhar além dos 70 seja a regra (e não a exceção).
Mas os que mais precisarão continuar trabalhando serão, provavelmente, aqueles
que menos terão condições (inclusive físicas).
Novamente, eu acredito (na verdade mais que isso, eu tenho
convicção) que as pessoas precisarão trabalhar por mais tempo, mas ter apenas
“trabalhar por mais tempo” como plano de aposentadoria não é sensato e, em
alguns casos, pode nem mesmo ser viável. Muitas empresas e profissionais de
recursos humanos também têm essa percepção.
Outra pesquisa, mencionada na mesma reportagem, desta vez feita
pela consultoria Aon Hewitt com 250 empresas, mostra que 93% dessas empresas
estão intensificando ações de educação financeira e planejamento financeiro
para seus funcionários. O diretor da área de previdência da Aon Hewitt chegou a
definir o planejamento e o bem-estar financeiro dos funcionários como “a
próxima grande tendência em benefícios”.
De tudo isso, se eu puder dar algum tipo recomendação prática às
pessoas, baseada nas pesquisas mencionadas e naquilo que venho falando há um
bom tempo, diria o seguinte:
1) Trabalhar por mais tempo será quase obrigatório, melhor se
conformar…
2) Porém, “trabalhar por mais tempo” não deve ser o principal
plano para a aposentadoria. Além das questões associadas à saúde, existe o
próprio estado da economia e o notório preconceito de uma parcela significativa
das empresas em relação aos profissionais mais velhos;
3) Muitos empregadores estão acordando para a importância da
educação financeira no ambiente de trabalho, mas não espere o seu empregador
fazer algo para começar a “se mexer”. Comece a planejar agora!
André Massaro -
Escritor, palestrante, consultor financeiro.