Sequência
se relaciona com criação de coelhos e até com crescimento das folhas nos caules
Era adolescente quando li pela primeira vez sobre
Fibonacci. Num livro ilustrado que explicava que esses números têm a ver com
criação de coelhos e, incrivelmente, afirmava que eles regem o crescimento das
folhas em torno do caule das plantas. Desde então, aprendi muito mais sobre
esses números mágicos, mas nada apagou a fascinação da primeira leitura.
Leonardo Pisano, que seria alcunhado Fibonacci muito
depois de sua morte, nasceu em 1170 na próspera cidade de Pisa (foi
contemporâneo do início da construção da famosa torra inclinada). Filho de
comerciante, interessou-se pelos métodos de cálculo de seus conterrâneos.
Em 1202, publicou "Liber abaci" (Livro do
ábaco), o mais importante livro de matemática escrito no ocidente em um
milênio. Nele, apresentou à Europa muito do conhecimento adquirido com
matemáticos árabes e judeus, com destaque para o sistema hindu (decimal) de
numeração, que usamos até hoje.
Mas o que fez Fibonacci famoso, mais do que qualquer
outra coisa, foi um pequeno exercício que incluiu no capítulo XII do
"Liber Abaci": “Um homem colocou um casal de coelhos num recinto
fechado. Quantos casais serão produzidos em um ano, se supusermos que cada
casal gera outro por mês a partir de seu segundo mês de vida?”
Representando por Fn o número de casais de
coelhos no n-ésimo mês, temos que F1=F2=1 (é o casal
inicial, que ainda não se tornou reprodutivo) e a partir daí Fn=Fn-1+Fn-2
: os casais no n-ésimo mês são aqueles que já existiam no mês anterior mais os
filhos daqueles que têm dois ou mais meses de idade. Desta forma F3=2,
F4=3, F5=5, F6=8, F7=13 etc
É extraordinário que esta sequência ingênua esteja
relacionada com muitas ideias profundas. Por causa disso, ela também surge em
áreas em que a matemática tem um papel discreto, mas soberano, como a música e
a pintura.
Mas o mais impressionante é que os números de Fibonacci
estão refletidos na natureza à nossa volta, de vários modos: nas conchas de
mariscos, no arranjo dos galhos de árvores ou das pétalas de flores, até na
estrutura das galáxias.
Do ponto de vista matemático, os números de Fibonacci
ainda reservam muitos mistérios.
Por exemplo, não sabemos se existe um número infinito de
primos de Fibonacci. Sabemos que para Fn ser primo é necessário que
n seja. Isso é uma consequência da bela fórmula mdc(Fm,Fn)
= Fmdc(m,n), onde mdc significa “máximo divisor comum”. Mas a
condição não é suficiente: 19 é primo e no entanto F19=4.181 não é.
Agora, se n é primo então Fn não tem nenhum
divisor comum com os números de Fibonacci anteriores. Será que o leitor
consegue provar isso?
Respostas
são bem-vindas pelo e-mail viana.folhasp@gmail.com.
Marcelo
Viana - diretor-geral do Instituto de
Matemática Pura e Aplicada, ganhador do Prêmio Louis D., do Institut de France.
Fonte:
coluna jornal FSP