2023: uma prévia do futuro?
Ano deixa um rastro de destruição devido a eventos climáticos extremos.
A menos de dois meses do fim do
ano, 2023 já deixa um rastro de destruição devido a eventos climáticos
extremos. Recordes de temperatura, seca, incêndios, enchentes.
Cidades inteiras
praticamente destruídas nos hemisférios norte e sul. Ainda que o El Niño contribua para esses
eventos, não é a única causa.
Um estudo mostra que
20 dos 35 sinais vitais planetários usados para monitorar a crise climática
alcançaram valores recorde, criando um cenário jamais observado na história da
humanidade.
Em setembro, outro estudo já havia mostrado que dois
terços das condições favoráveis à vida humana na Terra já haviam sido
comprometidas.
Ainda que a grande maioria dos
países tenham assinado o Acordo de Paris em 2015, comprometendo-se
a reduzir emissões para limitar o aumento da temperatura global a 1,5°C (em
relação aos níveis pré-industriais), o avanço na redução de emissões tem sido
lento.
No início deste ano, a
estimativa de que o limite de 1,5°C seria alcançado em 2023 era de menos de 1%. Entretanto, a última estimativa (de
setembro) é que há 90% de chance de que 2023 ultrapasse esse limite. As
consequências são devastadoras.
Um estudo estimou que entre 2000 e 2019,
cerca de 1,2 bilhão de pessoas no mundo foram afetadas por eventos climáticos
extremos, gerando um custo de US$ 143 bilhões por ano, 63% devido a perda de
vidas humanas.
Apesar dessas consequências, o
progresso na adoção de medidas de adaptação climática está diminuindo.
Um relatório do Programa das Nações
Unidas para o Meio Ambiente, publicado neste mês, mostra que o
financiamento para ações de mitigação e adaptação é de apenas 5% a 10% do que é
necessário.
O relatório sugere formas de aumentar gastos domésticos e
financiamento internacional e do setor privado. Porém, é preciso comprometimento
político.
Além da redução no investimento
em medidas de adaptação, o último relatório da Organização
Meteorológica Mundial, publicado semana passada, mostra que o uso de
alertas meteorológicos por Ministérios
Além disso, a
recente passagem do furacão Otis mostrou que nenhum modelo conseguiu prever sua
intensidade.
Atípico, Otis passou de tempestade tropical a furacão de categoria
máxima em cerca de 12 horas.
Com isso, mais de um milhão de pessoas no México
tiveram pouco tempo para se preparar para a tempestade.
A urgência da crise climática é
uma realidade. E ainda que a velocidade das mudanças surpreenda, as mudanças em
si já vêm sendo discutidas há décadas.
Porém, as respostas não acompanham a
velocidade da urgência.
No Brasil, as catástrofes em
2023 são incalculáveis. Enquanto a região Sul enfrenta enchentes há meses,
partes do Nordeste convivem com a desertificação.
Na Amazônia, rios estão com
nível de água muito abaixo do normal, deixando comunidades completamente
isoladas.
E a fumaça das queimadas que encobre cidades da Amazônia expõe a
população a sérias complicações de saúde.
2023 com 1,5°C acima da média
mostra ao mundo uma prévia de um planeta aquecido.
Um planeta onde as estações
do ano perdem o sentido, onde catástrofes correm o risco de serem normalizadas,
e onde os que menos contribuíram para as emissões mais sofrem com os efeitos da
crise climática.
A próxima Conferência do Clima (COP28) começará no dia 30 deste mês.
Nela será
apresentado o primeiro balanço global das metas do Acordo de Paris para que
países avaliem onde estão progredindo em direção ao cumprimento das metas, onde
não estão, e o que devem fazer.
Que a urgência do momento e o
balanço global impulsionem a ação!
MARCIA CASTRO - professora de demografia e chefe do Departamento de Saúde Global e
População da Escola de Saúde Pública de Harvard.