Lidando juntos com aposentadorias separadas


Para Daniel Ryan, fazer 50 anos foi tranquilo. Mas, em seu 61° aniversário, no ano passado, ele teve uma "crise". Ele fez uma conta simples e concluiu que, se vivesse por mais 20 anos, teria tido a chamada "vida plena". Porém, calculou que só poderia manter uma vida ativa, que inclui esqui, caminhadas e ciclismo de montanha, por mais uma década. "Isso me baqueou", disse Ryan.


Cinco meses depois, ele se aposentou. Após 36 anos de trabalho, ele estava na posição invejável de ter uma aposentadoria e uma sólida poupança.


O desafio, segundo ele, é que sua mulher, Cheryl, 58, ainda está totalmente envolvida com sua empresa de decoração. Então ele precisa conciliar suas atividades de lazer com o horário de trabalho da mulher.


"Tomara que ambos permaneçamos saudáveis e que a força do nosso casamento de 36 anos nos ajude a superar esses obstáculos até chegarmos pelo menos perto da mesma página", disse Ryan.


A cada ano, mais americanos da geração do "baby boom" se aposentam, e muitos casais precisam conviver em fases diferentes da vida. Essa dupla realidade pode levar a uma variedade de desafios, tanto financeiros quanto emocionais, de ressentimentos latentes sobre como um parceiro está passando o tempo livre até como conciliar as preferências de consumo de um aposentado com as de alguém que ainda recebe salário.


"Muitas pessoas acreditam que discordar é um problema", disse Susan Zimmerman, consultora financeira e terapeuta familiar e de casais. "Grande parte do que eu faço é lembrar às pessoas de que ter opiniões diferentes pode não ser ruim, apenas exige mais diálogo."


Uma das primeiras discussões para um casal que se aposenta em momentos diferentes deve girar em torno do próprio cronograma da aposentadoria.

Um cônjuge pode estar inclinado a vender a casa da família para garantir a aposentadoria, ao passo que o outro pode querer continuar trabalhando, por exemplo.


Iniciar o diálogo com fatos é uma maneira de diminuir as chances de conflito. É difícil argumentar contra os números quando você tem um analista financeiro montando cronogramas para avaliar quanto a sua carteira de aposentadoria pode durar.


Planejadores financeiros podem mostrar quando certas fontes de renda irão acabar (como o salário de um dos cônjuges) e quando outras vão começar (como uma aposentadoria). O casal deve então comparar a renda às suas despesas de subsistência.


Mas isso não necessariamente prepara para alguns conflitos que surgem quando os cotidianos se tornam diferentes. "Digo a ela que estou tomando a terceira cerveja ou que passei a manhã inteira passando aspirador de pó pela casa?", brincou Larry Hemstreet, 67, aposentado da Nasa. Hemstreet mora em Menlo Park (Califórnia) com a mulher, Susan, 61, que pretende continuar trabalhando por mais alguns anos.


O advogado aposentado Jeff Hazlett, de Dayton (Ohio), cuja mulher continua trabalhando, se disse surpreso com sua nova relação com o consumo. "Quando me aposentei, houve uma mudança na minha cabeça do 'nosso dinheiro' para 'o dinheiro dela'", contou. "Às vezes me sentia culpado em gastar." Por outro lado, o cônjuge que trabalha pode continuar gastando em amenidades como restaurantes, o que às vezes deixa o outro desconfortável.


Parte da solução, disse Zimmerman, é algo que talvez seja mais fácil falar do que fazer: "Quando os cônjuges têm diferentes momentos de aposentadoria, eles precisam começar por, e aceitar, essa diferença".


Tara Siegel Bernard – reporte de finanças pessoais do jornal New York Times

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