Por que Trump quer ser o presidente 'baby boom'?
Bônus de US$ 5.000
por bebê vai restaurar a família como o centro da vida americana?
Deu no New
York Times em 25 de abril deste ano: "US$ 5.000 [cerca de
R$ 27 mil] por bebê e plano de fecundidade: as ideias da gestão Trump para natalidade. Presidente
americano já declarou querer ‘um baby boom’".
A reportagem revela que a Casa Branca tem debatido
propostas para persuadir os americanos a terem mais filhos, com o objetivo de
reverter a queda das taxas de natalidade que vem caindo desde 2007.
Entre as propostas apresentadas estão: "bônus
de bebê" de US$ 5.000 para cada mãe americana após o parto; programas para
educar mulheres sobre seus ciclos menstruais para saber quando estão ovulando;
reserva de 30% das bolsas de estudo do programa Fulbright para candidatos que
são casados e têm filhos.
De acordo com o NYT, os conservadores cristãos veem a queda nas
taxas de natalidade e casamento como uma crise cultural provocada por forças na
política e na mídia que menosprezam a família tradicional, incentivando as
mulheres a priorizar o trabalho em vez dos filhos.
O movimento pró-natalista é
construído em torno de uma ideia muito restrita de família: o casamento entre
um homem e uma mulher e exclui famílias que não se conformam às estruturas
familiares tradicionais.
Na sua promessa de "restaurar a família como o
centro da vida americana", Trump prometeu ser "o presidente da
fertilização."
Em 2023, na Conferência de Ação Política Conservadora,
Trump deu uma declaração que se tornou um grito de guerra para o movimento
pró-natalista: "Apoiaremos os 'baby booms' e apoiaremos os bônus de bebê
para um novo 'baby boom'. Eu quero um 'baby boom'."
Vance,
vice-presidente de Trump, disse, em janeiro de 2025, na "Marcha
pela Vida", que queria "mais bebês nos Estados Unidos da
América" e mais "jovens bonitos" para criá-los. A secretária de
imprensa da Casa Branca afirmou que Trump "está implementando
orgulhosamente políticas para elevar as famílias americanas."
A
obsessão pró-natalista de Donald Trump, de acordo com o demógrafo José
Eustáquio Diniz Alves, não está
relacionada à taxa de fecundidade, já que, entre os países ricos, os EUA
figuram entre as nações com as maiores taxas de crescimento populacional.
Na
verdade, Trump busca estimular o aumento da fecundidade como forma de compensar
os efeitos das políticas restritivas à imigração.
Para
o demógrafo, as propostas apresentadas refletem valores dos conservadores
cristãos e reforçam um modelo familiar de grupos religiosos e de classe média
alta.
Quando Trump afirma querer "restaurar a família como centro da vida
americana", seus eleitores interpretam a mensagem como um apelo para
retomar o ideal de família predominante antes das transformações demográficas
das últimas décadas: um período em que o país tinha maioria WASP (White
Anglo-Saxon Protestant), expressão que designa a população branca, protestante
e de origem anglo-saxônica.
Mesmo
que Trump consiga implementar parte dessa agenda, o impacto real na taxa de
fecundidade deve ser limitado.
Eustáquio acredita que a resistência virá do
campo ideológico —por rejeição à ideia de um único modelo de família— e do
campo prático —porque o custo e a complexidade de criar filhos nos EUA pesam
bem mais do que os incentivos propostos.
Parece
que o "baby boom" de Trump vai custar muito mais do que US$ 5.000 de
"bônus de bebê", não é mesmo? Ou será que US$ 5.000 por bebê vai
conseguir elevar a família como o centro da vida americana?
MIRIAN GOLDENBERG - antropóloga
e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, é autora de "A
Invenção de uma Bela Velhice"