Depois de cada incidente desse tipo, os moradores da região
ficaram impossibilitados de fazer ligações de telefones fixos ou celulares, nem
mesmo para o número de emergência 911, e de enviar e-mails e mensagens de texto.
Em alguns casos, as fichas médicas de hospitais ficaram inacessíveis. Cartões
de crédito e caixas automáticos deixaram de funcionar.
A internet não é amorfa. Podemos acessá-la sem fios, mas, em
última análise, fazemos uso de cabos físicos que são vulneráveis a ataques. A
ameaça não vem apenas de códigos mal-intencionados transmitidos pelos cabos,
mas também dos próprios cabos.
Surpreendentemente, não existe um mapa bom das rodovias e vielas
da internet. “Todo mundo supõe que alguém saiba disso, mas, depois de algum
tempo, você descobre que ninguém sabe, na realidade”, disse Paul Barford,
professor de ciência da computação na Universidade de Wisconsin. Barford adotou
como missão descobrir onde estão as vulnerabilidades do sistema.
Financiado, em parte, pelo Departamento de Segurança Interna dos
EUA, ele completou recentemente um mapa da infraestrutura de longo alcance da
internet nos Estados Unidos —trechos que cobrem pelo menos 50 quilômetros e
interligam centros populacionais com pelo menos 100 mil habitantes.
Os focos de maior preocupação são os pontos de convergência das
grandes redes. Existem nos EUA cerca de 80 desses chamados pontos de troca de
tráfego, ou PTTs (em inglês: IXPs, ou Internet Exchange Points). Alguns deles,
incluindo alguns em Nova York, Miami, Seattle e nos arredores de Washington,
são cruciais para o tráfego de internet doméstico e também internacional vindo
de cabos submarinos (vulneráveis a cortes provocados por âncoras lançadas em
locais incorretos ou por sabotagem submarina).
“É uma insensatez ver desprotegidos esses prédios que contêm
todos esses cabos que interligam continentes, além da América do Norte
inteira”, disse o consultor John Savageau, ex-administrador de PTTs da CoreSite
Realty Corporation. “Se um desses nodos principais for desativado, teremos
problemas enormes. Se houver um ataque coordenado contra vários locais, será um
pesadelo.”
De fato, muitos PTTs ocupam prédios velhos e desprotegidos, em
alguns casos antigas sedes do serviço de telégrafos. Em muitos casos, é
possível alugar escritórios adjacentes nos mesmos prédios. Às vezes sequer há
seguranças no saguão. Os poços de acesso às redes de esgotos e tubulações em
volta dos prédios tampouco são protegidos.
Para Bill Woodcock, diretor do Packet Clearing House, instituto
de pesquisas sem fins lucrativos dedicado a apoiar a tecnologia de troca de
tráfego da internet, a solução não está em criar regulamentos que encareçam a
construção de PTTs, mas em construir mais PTTs, para que nenhum deles tenha
papel crucial.
“Se criarmos PTTs redundantes, não importa se eles ocuparem um
cantinho qualquer”, disse, aludindo a um PTT que ocupa um antigo armário de
zelador no piso superior de um prédio antigo. Segundo ele, a situação é pior na
Europa, onde alguns países dependem principalmente de um único PTT.
“A única maneira de resolver este problema é criar uma rede mais
robusta, para que não tenhamos pontos que sejam capazes de, isoladamente,
provocar um colapso”, disse Hunter Newby, fundador e executivo-chefe da Allied
Fiber.
Ele ressalvou, porém, que não existe sistema à prova de falhas,
por maiores que possam ser as redundâncias: “Sempre digo às pessoas que o
planeta Terra é um ponto de colapso isolado. Pergunte aos dinossauros.”
Kate Murphy – jornalista do New York Times