Tecnologia do bitcoin pode promover transparência e reduzir brechas para a corrupção


Na semana passada, um único bitcoin (a moeda virtual que só existe na internet) estava cotado a R$ 2.030. O valor total de todos os bitcoins existentes hoje já ultrapassa US$ 9 bilhões.

Esses números são o sintoma mais visível de uma tecnologia que está sendo cada vez mais falada, dado o seu potencial de transformar (de novo) a forma como vivemos: a chamada blockchain.

É essa tecnologia que permite a moedas virtuais (como o bitcoin) existirem. Mas, afinal, como ela funciona? A melhor forma de descrever a blockchain é pensar em um banco de dados. Só que, em vez de ser guardado em um único computador (ou um conjunto específico de computadores), ele é guardado de forma distribuída por toda a internet. Além disso, esse banco de dados é praticamente imutável. Uma vez que algo foi registrado nele, não pode ser apagado ou modificado.

A grande vantagem da blockchain é produzir um elemento cada vez mais importante no mundo de hoje: confiança. No mundo em que vivemos, a confiança é gerada por instituições centralizadas. Por exemplo, confiamos no nosso banco para afirmar que há um determinado valor em nossa conta. Confiamos no Estado para emitir um documento de identidade, que confirma quem somos.

A blockchain permite gerar esses consensos sem intermediários. O "registro" desses fatos fica distribuído na própria internet. O potencial de transformação disso é tão grande que há quem afirme que a blockchain representa o surgimento de uma nova internet, dentro da internet que conhecemos. A aposta fica clara quando se verifica a quantidade de capital de risco sendo colocada em aplicações da blockchain. Só entre janeiro e fevereiro de 2016, mais de US$ 132 milhões foram investidos nos EUA em novas empresas (start-ups) que usam a tecnologia.

Quais dessas aplicações podem ser úteis desde já ao Brasil? Uma é a certificação de produtos. Por exemplo, há empresas que oferecem o registro de diamantes na blockchain, demonstrando sua origem e "pedigree". Para um país que vende commodities como o nosso, isso traz potenciais enormes. A blockchain pode ser usada para a certificação de madeira produzida de forma sustentável, por exemplo, aumentando o valor agregado e combatendo desmatamento. Ou controlar a procedência de produtos agrícolas e pecuários, elevando o agronegócio brasileiro a patamares mais sofisticados do que de um país como a Austrália, que aposta pesado em certificações para agregar valor e ser competitivo.

Isso é só o começo. A blockchain terá impacto sobre campos muito diversos. Tem o potencial de revolucionar serviços públicos, promover transparência e reduzir brechas para a corrupção. Como país, já nos permitimos perder várias ondas de desenvolvimento no passado. A blockchain é a mais nova e uma das mais promissoras. Deixar passar a oportunidade de aplicá-la desde já para promover transparência, produtividade e inovação entre nós seria uma lástima.

Ronaldo Lemos - advogado e diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro.

Fonte: coluna no jornal FSP

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