Exercícios físicos ajudam a melhorar a memória,
mostra estudo.
A
intensidade da prática afeta o tipo de lembrança, episódica ou espacial, por
exemplo, a ser fortalecida.
Não é segredo que a prática regular de exercícios
físicos traz muitos benefícios.
Eles protegem contra o desenvolvimento de
condições crônicas, como diabete e doenças cardíacas e, em alguns casos, podem
melhorar a saúde mental.
Mas que efeito eles têm em funções específicas,
como a memória?
Um regime de exercícios pode te ajudar a lembrar as pontuações
do jogo de ontem à noite, onde você foi em seu primeiro encontro com sua
namorada (ou namorado) ou onde você deixou suas chaves?
É possível. Estudos ao longo dos anos têm sugerido
que um único treino pode melhorar a memória e que a prática regular ao longo de
anos ou décadas não apenas melhora a memória, como também ajuda a fortalecer
contra problemas futuros.
Agora, um estudo recente do Dartmouth College (EUA)
se concentra em como a intensidade do exercício, durante um período de tempo,
pode desempenhar um papel importante no reforço de diferentes tipos de memória.
"Sabemos que o exercício funciona, mas não
sabemos quais variáveis de exercício o tornam mais eficaz", disse Marc
Roig, professor de fisioterapia e terapia ocupacional da Universidade McGill,
que estuda o efeito do exercício na cognição e não
participou do estudo. "Acreditamos que a intensidade é um desses
fatores."
A INTENSIDADE DO EXERCÍCIO PARECE AFETAR A MEMÓRIA
Um dos principais desafios ao estudar a ligação
entre o exercício regular e a memória é que as mudanças são difíceis de medir.
Isso é complicado pelo fato de que muitos outros fatores afetam a memória, como
trabalhar num emprego sedentário ou sofrer privação crônica de sono.
Além disso, existem diferentes tipos de memória, o
que explica como uma pessoa pode perder constantemente suas chaves (memória
espacial ruim), mas ter um talento especial para lembrar datas de nascimento
(memória semântica forte).
Os relógios rastreadores de atividades podem
oferecer uma solução para esses problemas.
Em um artigo recente publicado na revista Nature Scientific Reports, pesquisadores conseguiram analisar
dados de um ano de rastreadores Fitbit de 113 pessoas, que também completaram
uma série de testes de memória, como lembrar detalhes de um conto, detalhes
espaciais, termos de língua estrangeira e listas de palavras aleatórias.
A vantagem desse método é que ele vinculou um ano
inteiro de informações dos padrões de atividade dos participantes –quanto
exercício eles fizeram, quão intenso, com que frequência– ao seu desempenho em
testes de memória.
Outros estudos rastrearam padrões de atividade por
meio de dados autorrelatados, que geralmente são menos confiáveis do que os
dados do rastreador, pois as pessoas tendem a subestimar quanto tempo passam
paradas e se lembram incorretamente de seus níveis totais de atividade.
"Você pode obter uma imagem muito mais
detalhada com os dados do rastreador de atividades", disse Jeremy Manning,
professor do Dartmouth College e um dos autores do estudo.
Manning e seus colegas descobriram que as pessoas
ativas tinham melhor memória em geral, em comparação com as sedentárias, mas
também descobriram que os tipos de testes em que se saíam bem variavam
dependendo da intensidade com que se exercitavam.
Por exemplo, os participantes que se envolveram em
atividades leves a moderadas, como caminhadas regulares, tiveram melhor memória
"episódica".
Pense na memória episódica como uma "viagem mental
no tempo", disse Manning, ou a capacidade de lembrar detalhes sobre fatos
cotidianos, como encontrar um amigo em um café ou esperar o ônibus escolar no
primeiro dia de escola.
Isso combina com diversos estudos anteriores que
mostraram que quanto mais as pessoas são ativas, melhor, em média, é sua
memória episódica.
Os participantes que se exercitavam regularmente
com mais intensidade –como correr ou fazer um treino HIIT (treino intervalado de alta intensidade, em
português)– eram mais propensos a ter melhor desempenho em tarefas
de memória espacial.
A memória espacial é a capacidade de lembrar
relações físicas entre objetos ou locais no espaço, como onde você colocou suas
chaves.
Isso espelha vários outros estudos que mostram que exercício de alta
intensidade melhora a memória, mas vai além, sugerindo que pode ser mais útil
para esse tipo de memória do que para outro.
Mais estudos precisam ser feitos para solidificar
essas associações e determinar o que as está causando, disseram os
pesquisadores.
"Quanto mais pudermos conectar os padrões de
atividade cotidiana ao desempenho cognitivo, mais perto estaremos de pensar
sobre o estilo de vida", que inclui o quão ativo você é durante todo o dia
e os padrões de sono, disse Michelle Voss, neurocientista cognitiva da
Universidade de Iowa, que não participou do estudo.
De acordo com Phillip Tomporowski, professor de
cinesiologia da Universidade da Geórgia, que também não participou do estudo,
esse trabalho é um "primeiro palpite muito bom" sobre como certos
padrões de exercícios afetam certos tipos de memória.
Manning e seus colegas esperam continuar com
experimentos controlados para identificar por que certos exercícios podem
afetar tipos específicos de memória.
Talvez algum dia haja um treino para finalmente
ajudá-lo a lembrar onde colocou suas chaves.
Tradução Luiz Roberto M. Gonçalves
THE
NEW YORK TIMES