O dia 3
de abril de 2017 entrou para a história. A partir dessa data, o valor da fatura
do cartão de crédito que não é pago no vencimento passa a ficar no rotativo
pelo prazo máximo de 30 dias e é transferido para uma operação de crédito
parcelado.
É para
ficar contente? Tenho sérias dúvidas. Na verdade, não há novidade em relação à
oferta do crédito parcelado que já era oferecida antes, como alternativa ao
rotativo. E os juros, embora mais baixos do que os do rotativo, são muito
altos.
O
governo determinou o fim do rotativo do cartão, mas não vai se intrometer na
negociação entre os bancos e os clientes nem definir ou limitar os juros que
serão cobrados no crédito parcelado.
Os
comunicados preliminares dos bancos, nada encorajadores, divulgam que os juros
do crédito parcelado serão alguma coisa entre 2% e 10% ao mês. Tudo indica que
a maioria das operações será contratada na ponta mais alta da faixa. O futuro
dirá.
A
aberração do rotativo do cartão acabou, mas o rotativo do cheque especial
continua. E, se os consumidores não mudarem seus hábitos de consumo, não
planejarem nem limitarem seus gastos, em breve estarão enrolados na aberração
do cheque especial.
Vamos
entender a diferença entre o rotativo e o parcelado e como cada modalidade de
crédito impacta nosso orçamento. O limite do rotativo não tem vencimento, o que
vence é a fatura do cartão, quando no mínimo 15% devem ser pagos. O saldo
devedor era empurrado com a barriga para o mês seguinte, sem definição de como
e quando seria pago. Alguma coisa na linha do "devo não nego, pago quando
puder". Aliás, essa falta de comprometimento e previsibilidade ajuda a
explicar por que os juros do rotativo são tão elevados.
No
crédito parcelado, o saldo devedor é financiado em uma quantidade certa de
parcelas, com valor e data de vencimento definidos de comum acordo entre o
banco e o cliente. Procedimento idêntico ao usado nas operações de crédito
pessoal e crédito consignado. A grande diferença entre parcelado, crédito
pessoal e consignado é a taxa de juros cobrada.
Acha
que está na hora de parar de pagar juros abusivos? Evite oferta padronizada de
crédito. Assim como as roupas "tamanho único", não foi feita para
você. Para conseguir crédito com juros mais baixos, demonstre que sua
capacidade de pagamento é boa, melhor do que o padrão definido pelo banco.
Reveja seus hábitos de consumo, estabeleça limites para gastos e aperfeiçoe o
controle de seu orçamento familiar.
Antes
de assumir uma dívida, recomendo uma consulta ao site do Banco Central, que
publica semanalmente a taxa de juros cobrada pelos bancos nas diversas
modalidades de crédito, para ver como é significativa a diferença. A tabela
exibe a taxa de juros dos cinco maiores bancos do mercado e se pode observar
que a taxa do crédito pessoal, também parcelado, é bem mais baixa que o cartão
parcelado. www.bcb.gov.br > Cidadão >
Taxas de juros > Operações de crédito.
Os
juros diferem entre clientes de uma mesma instituição financeira em razão de
diversos fatores, como prazo, o valor e a qualidade das garantias, o histórico
e a situação cadastral de cada cliente. Quanto menor o risco para o banco,
menor será a taxa de juros.
Marcia
Dessen - planejadora financeira pessoal, diretora do Planejar e autora do livro
'Finanças Pessoais: o que Fazer com Meu Dinheiro'
Fonte:
coluna jornal FSP