A busca pelo Pix global
Blockchain
pode trazer eficiência e inovação para sistema de pagamentos mundial.
Se tem algo em que o Brasil acertou na mosca do
ponto de vista de políticas tecnológicas, é o Pix.
O projeto, iniciado em 2014 e concluído nesta gestão do Banco Central, reúne muitas das qualidades que
se espera no uso da tecnologia por parte dos governos.
É um projeto aberto,
generativo, open source e que serve de fundação para uma quantidade
inimaginável de outras inovações e ganhos de eficiência.
Outros países, como o México, têm projetos
similares, como o CoDi. Mas o Pix leva vantagem em termos de decisões de
design. É mais abrangente e flexível do que o hermano mexicano.
O sucesso do
modelo foi tão grande que virou influência internacional. O BIS (Banco de
Compensações Internacionais) está testando um sistema parecido com o Pix que
permitiria enviar valores e pagamentos de pessoa para pessoa, diretamente,
abrangendo 60 países.
É melhor o BIS correr. Há competidores mais rápidos
no horizonte. Graças à chamada Web 3, é provável que o verdadeiro Pix global
surja antes a partir da tecnologia blockchain do que das redes dos bancos
internacionais.
Quem está mais próximo de conseguir realizar esse projeto é a
rede Stellar, responsável por gerir projetos envolvendo a criptomoeda XLM.
Primeiramente, vale dizer que faço parte do conselho da Fundação
Stellar, então tome as informações abaixo com os grãos de sal que achar
necessários.
Em todo caso, o XLM hoje é o primeiro projeto que conseguiu
construir uma rede global que permite a transição sem obstáculos entre dinheiro
físico e cripto. Em outras palavras, criou uma infraestrutura adequada para um
Pix global.
Isso foi feito através do uso da rede Stellar por parte da
empresa financeira global MoneyGram. Criada em 1980, a MoneyGram tem mais de
420 mil escritórios e representantes espalhados pelo mundo.
Até há pouco tempo,
sua forma de serviço era parecida com um banco. O cliente deposita uma quantia
na empresa.
Essa quantia pode então ser retirada pelo destinatário em qualquer
outra loja nos mais de 200 países em que a MoneyGram está presente.
Tudo mudou com a parceria com a rede Stellar. Não é mais
necessário fazer um depósito. Basta ter um aplicativo de wallet no celular
(como o Vibrant) e converter qualquer valor em dólares (usando a moeda estável
USDC).
Isso pode ser feito em casa ou indo a uma loja MoneyGram. Para retirar o
dinheiro físico novamente, basta ir a qualquer loja da MoneyGram em qualquer
lugar do mundo e fazer a retirada. Diretamente de cripto para dinheiro físico.
Essa rede posiciona apps como o Vibrant como um dos
principais candidatos no momento a funcionar como um Pix global.
É possível
enviar dinheiro para qualquer lugar do planeta, pelo celular e de forma
instantânea e retirar em dinheiro em 200 países. As aplicações desse modelo são
inúmeras.
Por exemplo, há relatos de refugiados da Guerra da Ucrânia utilizando essa rede
para conseguir levar suas economias na fuga.
Outro ponto importante é que a Web 3, blockchains e
criptomoedas estão em um momento crucial. Por muito tempo houve muitas
promessas de aplicação no mundo real, mas poucos projetos realmente se
concretizaram.
Esse projeto demonstra que a infraestrutura de blockchain pode
trazer eficiência e inovação para o sistema de pagamentos global.
RONALDO LEMOS - advogado, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de
Janeiro.