As 04 lições das Olimpíadas para a previdência brasileira


Quero começar dizendo que não me deixo levar pela emoção. Há um sentimento no ar de que o Brasil termina o mês de agosto com a moral mais elevada do que começou, mas todo esse momentum tem seu preço. Sim, certamente houve alguma contrapartida para o investimento feito: a receita gerada com o turismo e com a publicidade, as obras faraônicas que, em certa parte, terão utilidade para os cidadãos, a boa exposição internacional do país e os respectivos ganhos de imagem, e muitos outros elementos entram para a conta do “legado olímpico”. Mas não pretendo entrar no mérito se o saldo foi positivo ou não, mesmo porque o que está aí já está feito e quero apenas tentar tirar o máximo de suas resultantes.

É com esse espírito verdadeiramente racional que quero transferir para Previdência Complementar algumas lições olímpicas, que poderão nos ajudar neste momento de intensa transformação.

1ª lição: grandes transformações podem ocorrer em um espaço de tempo relativamente curto

Esta é para todos nós (eu confesso, faço parte desse time de pessimistas) que achávamos que as Olimpíadas não sairiam do papel. Estádios? Obras viárias? Organização? Nada disso vai ficar pronto em apenas oito anos, eu dizia.

Tudo bem, muito disso não ficou pronto como deveria, mas chegamos quase lá. Avalio que o que não foi acabado não prejudicou de forma significativa o objetivo maior, que era a realização dos jogos.

Muitas vezes quando pensamos em previdência levamos em consideração o seu caráter de longo prazo, o que nos leva a crer que demorará décadas para conseguir realizar transformações verdadeiramente profundas. Esta inverdade nos desestimula a brigar pelas mudanças que sejam realmente transformadoras, levando-nos a priorizar aquelas melhorias de implementação mais breve.

Mas, assim como nas Olimpíadas, alguns anos de trabalho intenso, revestido por muita atenção e por grandes investimentos, podem trazer consequências positivas de proporções até então inimagináveis.

2ª lição: o poder do interesse coletivo

Para que um grande acontecimento como as Olimpíadas pudessem se tornar realidade, não bastaria a força de apenas alguns interessados.

Na origem do megaevento estava o interesse do poder público, que coordenou o projeto olímpico e apresentou a candidatura da cidade maravilhosa para consecução dos Jogos de 2016. De forma quase simultânea, o capital privado se interessou pelo potencial econômico da empreitada e acenou com o necessário apoio financeiro – praticamente fazendo-nos esquecer que havia uma crise local e mundial instalada. Não demorou para que a mídia se desdobrasse para dar publicidade ao que estaria por vir, maximizando o apelo emocional do momento. Então, enfim, a onda chegou às pessoas comuns, que vivenciaram, interagiram, apoiaram, consumiram e fizeram tudo que delas se esperava, sendo então apontadas como protagonistas desse momento épico.

Diferentes formas de mobilização são possíveis. Mas é inegável o poder transformador que Estado, Empresas, Mídia e população possuem juntos, quando todos entendem corretamente seu papel e suas possibilidades de ganho e agem em torno de um mesmo objetivo.

Na previdência de nosso país precisamos romper com conceitos antigos, superar resistências e abrir caminho para grandes mudanças. Não é trabalho para um agente só, disto não há dúvidas. Mas, qual exatamente é o objetivo dessas mudanças que queremos? Quais os planos para tirá-las do papel? E como podemos engajar cada parte necessária para a mudança?

São essas as respostas que precisamos obter para transformar aquilo que hoje existe.

3ª lição: somos capazes de feitos grandiosos, de nível mundial

Temos muito a nos orgulhar das nossas Olimpíadas. Sim, certamente a cada quatro anos vemos eventos diferentes, cada qual com seus destaques. Se talvez não pudéssemos esperar no Brasil a organização e eficiência inglesas, também não será justo aguardar samba e alegria contagiante nos jogos japoneses que virão em 2020. É um evento com a cara do país e do povo que a produziu.

Assim se dá também com os diferentes modelos de previdência existentes ao redor do mundo. Estamos sempre em busca de inspiração e de melhores práticas fora de nossas fronteiras, o que certamente é válido e serve de inspiração. A partir disso e de nossas próprias diretrizes, precisamos desenhar uma solução personalizada, que reflita corretamente as necessidades e expectativas do povo brasileiro.

As Olimpíadas reafirmam a capacidade e competência que nosso país tem em construir estruturas grandiosas, de nível mundial. Isto deve nos servir de inspiração para persistirmos na construção de um novo modelo de previdência, com a qualidade e abrangência que necessitamos.

4ª lição: A superação é a verdadeira vitória

É certo que devemos sempre almejar a liderança, o lugar mais alto do pódio, a medalha de ouro. Mas o sabor da conquista pertence primordialmente àqueles que foram além, que deram seu melhor, que fizeram o impossível. Tenho impressão que este ensinamento, comum a todos esportes, tem perfeita aplicação ao que precisamos almejar para nosso sistema de previdência.

Ao ver o MMGPI (Mercer Melbourne Global Pension Index – índice usado como referência para comparar a eficácia dos sistemas de previdência de diversos países) ou outras análises semelhantes e enxergar o enorme caminho que temos pela frente pode soar desanimador. Provavelmente levará gerações para nos aprimorarmos em todos nossos problemas estruturais da maneira que desejamos. Precisamos de tantas mudanças sociais, econômicas e demográficas que sonhar com um primeiro lugar nesse ranking soa como um sonho impossível.

Mas não é preciso ter a medalha de ouro para conquistar a vitória. Muitos dos avanços que necessitamos são perfeitamente possíveis, efetivamente alcançáveis e não demandam mais do que alguns anos para tomar forma.

A partir dessas quatro lições, que mostram a efetiva importância de planejamento, preparação, foco, união e, especialmente, um objetivo bem delineado, precisamos fazer o melhor uso deste momento de transformações e de retomada que vive nosso país para encher o peito e voltar a agir, com todas as forças, em busca do nosso lugar no pódio das transformações sociais que um sistema adequado de previdência social e complementar é capaz de oferecer. O que teremos a apresentar em Tokyo 2020? 

Guilherme Brum Gazzoni - administrador, Pós-Graduado em Finanças e com Especialização em Entrepreneurship. Atuou na MERCER GAMA por dez anos, onde foi Diretor Administrativo e Comercial, e atualmente é Consultor líder da equipe da Mercer no Rio de Janeiro.

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