É isso que indica o subtítulo “A CEO’s Guide to the Boardroom”
(Guia para Presidentes de Conselhos de Administração).
Em minha longa experiência trabalhando com Conselhos
Deliberativos de fundos de pensão aqui no Brasil, tenho visto profissionais
talentosos e experientes, sentados ao redor de imponentes mesas de mogno,
contribuindo muito aquém do esperado.
As discussões com foco em “compliance” – cumprimento de
regulamentação – e aprovação de contas transforma os Conselhos Deliberativos em
meros espectadores dos destinos do fundo. Um papel muito distante de atores
cuja contribuição deveria se dar no campo das idéias e pensamentos.
A cultura hoje vigente nos Conselhos Deliberativos dos fundos de
pensão é de uma atuação passiva, onde a única coisa que muda é o mandato dos
membros com o passar do tempo (em alguns, nem isso).
Há algo de perturbador nos processos de seleção dos membros dos
Conselhos Deliberativos. A falta de capacitação e conhecimento especializados
em previdência complementar é apenas um reflexo desse processo.
Seria como nomear médicos para o “Board” de companhias aéreas.
Ou seja, não se pode esperar grandes contribuições estratégicas...
O desempenho dos membros dos Conselhos Deliberativos dos fundos
de pensão, à semelhança do que ocorre em algums Conselhos de Administração de
empresas patrocinadoras, mereceria uma avaliação periódica. Mas isso não ocorre
atualmente.
O Presidente do Conselho Deliberativo poderia testar e mensurar
a eficácia do colegiado que preside solicitando àqueles que fazem apresentações
externas para o Conselho - atuários, bancos etc. - uma avaliação da reunião não
apenas sobre questões operacionais e estratégicas.
Os membros Conselho agregaram valor ao seu desenvolvimento
profissional? Você se sentiu apoiado ou desafiado pelo Conselho?
O Conselho Deliberativo precisa se autoavaliar.
Além disso, os fundos de pensão não contam com Conselheiros
Independentes, a única figura capaz de injetar equilíbrio e confiança na
relação de forças entre empresa e empregados, já amplamente representadas
nesses órgãos.
Conselheiros Independentes, um dia, serão comuns nos fundos de
pensão e poderão elevar o patamar das discussões ao agregarem valor trazendo
conhecimento especilizado para a mesa.
Funcionariam como um atalho para as questões mais sensíveis,
pois a maioria do material analisado pelo “Board” é denso e extenso fazendo com
que o momento do “aha!!!” só aconteça lá pela página 47....
Preparados frequentemente com jargões, acronismos e
terminologias específicas do setor, os relatórios técnicos abordam assuntos que
não são familiares para os conselheiros - que não raro se sentem envergonhados
de externar suas dúvidas.
Treinamentos esparsos ajudam, mas não resolvem de forma
definitiva já que o contexto operacional e de negócios das patrocinadoras nunca
é levado em conta nesses treinamentos.
Os “independentes” evitariam situações que presenciei em muitas
reuniões de Conselho onde predominavam a discordância e o confronto entre
representantes de empresa e de empregados. O dissenso, quando necessário, pode
ser benéfico para se chegar a melhores decisões, mas não pode ser a tônica
dominante nessas reuniões.
Por fim, na maioria das reuniões dos Conselhos Deliberativos o
tempo dedicado a apresentações, questões de “compliance” e aprovações de contas
é superdimensionado. Acaba restando pouco ou nenhum espaço para discussões e
debates sobre estratégia, execução e sucessão.
Há uma lacuna enorme entre o que os Conselhos Deliberativos
deveriam ser na teoria e aquilo que realmente são na prática. Se tivéssemos que
reduzir a uma pergunta-chave o papel (objetivo) dos Conselhos Deliberativos dos
Fundos de Pensão, seria:
Como sua decisão afetará, no longo prazo, o valor que o fundo de
pensão representa para os participantes, patrocinadoras e – eu incluiria,
também - para a sociedade?
Em suma, em seu formato atual os Conselhos Deliberativos dos
Fundos de Pensão são tudo menos um lugar vibrante e cheio de energia onde os
membros trocam idéias e tomam decisões.
Você não acha que chegou a hora de mudar?
Fonte: Adaptado do artigo “Two New Resources for Improving
Boards”, escrito por Nell Minow para GovernanceMetrics International.